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Carlos Etchichury fala sobre gaúcho que grava momentos importantes do pai, vítima de Alzheimer

Editor-chefe do jornal conta como são os cuidados com sua mãe, que tem Alzheimer, e elogia o carinho de Miro Nunes, filho de um portador da doença, que filma momentos importantes da vida do pai

27/06/2016 - 21h37min

Atualizada em: 28/06/2016 - 11h00min


Carlos Etchichury, editor-chefe do Diário Gaúcho

É impossível não se emocionar com a história de Nelson Nunes da Silva, que, aos 84 anos, luta contra os sintomas do Alzheimer, e dos filhos dele, contada com rara sensibilidade pela repórter Ana Karina (página 3 desta edição).

No momento em que perceberam que Nelson sofria com a perda da memória recente, um dos sintomas iniciais da doença, Miro Nunes, 48 anos, um dos sete filhos de Nelson, começou a filmar momentos importantes da vida do pai. Sempre que Nelson é traído pelas lembranças, o que acontece com frequência, Miro o tranquiliza mostrando os vídeos. Para a repórter Ana Karina, Miro justificou da seguinte forma os registros:

– O paizinho sempre cuidou da gente com muito amor. É o momento de retribuirmos tudo que ele fez por nós.

Eu sei bem o que a família Nunes está vivendo. Aos 63 anos, minha mãe foi diagnosticada com Alzheimer. A funcionária pública independente, uma gigante de 1m60cm, a mulher que criou três filhos e cuidou de dois dos seus quatro netos até o primeiro ano de vida deles, era incapaz de tomar um ônibus sozinha.

Alzheimer

O diagnóstico definitivo nos foi dado há oito anos, numa tarde ensolarada de janeiro. Embora minha mãe também estivesse na consulta, o neurologista olhava para mim e para Adriana, minha irmão do meio, para falar sobre a doença. Com fôlderes nas mãos onde se podia ler Alzheimer em letras garrafais, o especialista nos orientava acerca das dificuldades que enfrentaríamos. Foi o dia mais triste da minha vida.

Os primeiros anos foram terríveis – para dona Vânia, que não compreendia o que estava se passando, e para nós, os filhos, atordoados com uma doença degenerativa, agressiva e sem cura.

Com o passar do tempo, os almoços de domingo já não eram mais feitos por ela. As tarefas domésticas mais prosaicas, como varrer o apartamento ou lavar a louça, tornaram-se impossíveis de realizar. Hoje, ela alimenta-se com dificuldades, comunica-se apenas com sorrisos e caminha a passos lentos, mas continua em casa, sob a atenção de quatro cuidadoras. São os seus anjos da guarda. Como acontece com os Nunes, esta doença terrível só fez aumentar o nosso amor pela dona Vânia.

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