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Aborto negado

"Largamos nas mãos de Deus", diz pai de gêmeas siamesas que nasceram em Porto Alegre

Meninas estão na UTI do Hospital Fêmina, que não comenta o caso; família, de São Luiz Gonzaga, precisa de doações para se manter longe de casa

04/11/2022 - 20h51min

Atualizada em: 06/11/2022 - 12h10min


Larissa Roso
Larissa Roso
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Marco Favero / Agencia RBS
Bebês nasceram no Fêmina, no dia 1° de novembro

Hospedado na casa de uma irmã em Portão, no Vale do Sinos, o pedreiro Marciano da Silva Mendes, 37 anos, pai das gêmeas siamesas nascidas na tarde de terça-feira (1º) no Hospital Fêmina, em Porto Alegre, conversou rapidamente com a reportagem  na manhã desta sexta-feira (4). Estava de saída para a Capital, para ir ao encontro da esposa, a auxiliar de serviços gerais Lorisete dos Santos, 37 anos, e das filhas, internadas na unidade de terapia intensiva (UTI) em estado grave.

O caso da família de São Luiz Gonzaga, nas Missões, ganhou repercussão nacional nas últimas semanas. Em 13 de outubro, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a decisão do ministro André Mendonça que havia rejeitado o pedido de interrupção da gravidez. A Defensoria Pública do Rio Grande do Sul sustentava que, de acordo com relatório médico, os fetos não tinham potencial de vida fora do útero, citando danos à saúde física e psíquica da mãe. Havia ainda o pedido para que ela não fosse criminalizada caso o aborto fosse realizado por motivos médicos.

Com 32 semanas de gestação, Lorisete foi submetida a uma cesariana. Sofia e Milena chegaram pesando 3,4kg e foram levadas para UTI. A mãe também permanece internada, mas tem alta prevista para breve, conforme Marciano. O Hospital Fêmina, do Grupo Hospitalar Conceição, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não vai se pronunciar sobre o caso. 

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Marciano acompanhou a cirurgia:

— Foi bem boa. Os médicos foram bem caprichosos, tiveram todos os cuidados.

Pai e mãe visitam as gêmeas diversas vezes por dia. Na definição de Marciano, “elas são um corpo só e duas cabeças”. O casal se senta junto da incubadora e fica observando as meninas, que respiram com o auxílio de aparelhos. Marciano já teve a oportunidade de pegá-las no colo.

— É uma emoção grande para a gente. Às vezes, elas ficam ofegantes. Os médicos não têm diagnóstico para dar para nós. Não existe cirurgia para separar as duas — relata Marciano. 

O casal tem outros dois filhos, de quatro e 15 anos. Com as turbulências dos últimos meses, Lorisete teve de abandonar as tarefas de limpeza em um abrigo infantil. Marciano trabalha em obras, por empreitada, e está há 40 dias parado. 

— Não tem como pegar um serviço e não terminar. Toda semana tinha que vir a Porto Alegre. Viemos cinco ou seis vezes — conta o pedreiro. 

Neste sábado (5), Marciano deve viajar a São Luiz Gonzaga para buscar o caçula. O filho mais velho ficará na cidade para seguir frequentando a escola. Sem remuneração, a família tem contado com doações (veja detalhes abaixo) para se manter. O futuro é incerto.

— Largamos nas mãos de Deus — diz Marciano.

Em nota divulgada nesta sexta, a Defensoria Pública do Estado informa que “atuou no caso após ser procurada pelos pais das gêmeas siamesas que buscavam interromper a gestação pelo risco potencial à saúde materna e pela condição dos bebês ser classificada como ‘incompatível com a vida’, de acordo com laudos médicos. Mesmo com os pedidos feitos pela instituição, o direito ao aborto foi negado em quatro instâncias do Judiciário. A Defensoria seguirá prestando todo o apoio necessário aos familiares neste momento de incertezas acerca do quadro clínico”.

Como ajudar a família

  • Doações podem ser feitas via Pix para a conta de Luciele Mendes Caldas, irmã de Marciano da Silva Mendes, pai das gêmeas. A chave é o CPF 03012507078
  • Para obter informações sobre outras maneiras de ajudar, o celular de Marciano é (55) 99996-0854

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