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Cozinha com carinho

Misturaí distribui cerca de 300 galetos de Natal para população em situação de rua

Coletivo ofereceu almoço especial nesta quarta-feira (21), na Vila Planetário, em Porto Alegre

21/12/2022 - 20h41min


Roger Silva
Roger Silva
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Lauro Alves / Agencia RBS
Centenas de pessoas foram até a sede da Misturaí, onde diariamente mais de 100 refeições são servidas entre as 8h e 18h

Uma fila de "beijadores e abraçadores" trocou demonstrações de afeto por um kit de higiene contendo um rolo de papel higiênico, um sabonete, pacotes de absorventes femininos e um par de pasta e escova dental. Quem entregava as doações era Mara Nunes, 64 anos, presidente do coletivo de voluntários Misturaí. O grupo afirma ter servido 300 marmitas entre as 11h e as 13h30min desta quarta-feira (21), na Vila Planetário, em Porto Alegre, em mais uma ação possível graças a doações. 

— O pessoal sai com a barriga e o coração cheios — diz Mara, moradora daquela comunidade e ex-catadora, comemorando o sucesso de mais um dia de trabalho. 

Além das marmitas com arroz, feijão, massa, salada e galeto que ofereceram nesta quarta, o Misturaí também proporciona refeições e assistência social ao longo de todo o ano. Mara é uma das tantas pessoas que começaram sua relação recebendo a ajuda e, atualmente, trabalham para auxiliar outros que precisam.

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— Muitos deles têm família, mas não são mais aceitos em casa ou nem querem voltar para lá. O Natal é uma época muito dura para isso. Então acolhemos eles, sentamos para ouvir e dividir as dores que estão no coração. Fazemos tudo que está ao nosso alcance, sempre com carinho e empatia — continuou tia Mara, como é chamada.

Operantes desde 2018, o coletivo que tenta mesclar vários tipos de atendimento necessários a todos os públicos possíveis se desdobrou em Amparaí e Gurizadaí em 2020. Um dos efeitos percebidos durante a pandemia na Capital foi o aumento da população de rua e a queda no volume de doações. As três refeições oferecidas por dia são possíveis com doações e complementadas pelo projeto nacional Sesc Mesa Brasil, enquanto cursos e estruturas físicas precisam ser custeados pelos próprios voluntários. 

— Quando me convidaram para a presidência, achei que não fosse conseguir, pois nunca tinha feito nada parecido. Mas depois percebi que adoro fazer o bem a todo mundo, e só conseguimos isso porque temos um lindo time de voluntárias e o apoio através de doações — relembra Mara.

Ajuda de quem foi ajudado

André Spencer dos Santos, 32 anos, é um dos “filhos” de Mara, tanto em idade quanto em devoção ao legado. Ele era morador de Eldorado do Sul quando a pandemia e a dependência química o levaram para as ruas de Porto Alegre, em 2020. O caminho de volta à dignidade é descrito por ele em etapas: primeiro, com o auxílio fornecido pela prefeitura nos Centro Regionais de Assistência Social (Cras), ele começou a vencer as drogas. Depois, por meio do Pop Rua, conseguiu vouchers para pernoitar em abrigos, saindo, assim, das ruas. O próximo passo veio ao conhecer o Misturaí, recebendo as refeições e uma segunda chance.

— Eu vinha sempre tomar café da manhã e almoçar, quando vi o cartaz oferecendo o curso de informática e resolvi fazer. Aprendi montagem e desmontagem de computador, instalação de programas, informática básica. Já sabia mexer, mas muito pouco. Aprendi a instalar tudo o que precisa e consigo trabalhar com isso — celebra, vestindo avental e touca, e ajudando os voluntários do Misturaí desde a metade de 2021.

— Fui bem atendido quando precisei, então venho retribuir ajudando eles, além de saber o que quem está na rua sente. Eu quero que eles tenham a ajuda que eu tive, e também quero servir de exemplo para mostrar que eles também podem melhorar de vida — comenta Spencer, mostrando a cédula de identidade para comprovar o sobrenome.

Outro que deixou o almoço satisfeito e pronto para o trabalho foi Daniel da Rosa, 39, que com a mesma dobradinha do Pop Rua e do Misturaí conseguiu sair das ruas e arrumou um emprego. Ele levou três anos para conseguir estabelecer residência fixa, e hoje trabalha em obras nos novos prédios da UFRGS, no campus da Ramiro Barcelos. Era para lá que ele ia depois de saborear o galeto e garantir o kit de higiene para o fim de ano.

— Temos de valorizar o trabalho do pessoal, tem tanta gente passando fome e sem condições de conseguir o que eles nos dão — afirma Daniel.

Doações são sempre bem-vindas

O MisturaíPoa recebe doações através de site de arrecadação digital. É possível doar valores neste link.



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