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Medo  e esperança

Enxurradas, inundações, deslizamentos: moradores contam como é viver sob a iminência de desastres naturais em Porto Alegre

Nos últimos 10 anos, o número de áreas de risco na Capital aumentou 19%, conforme o primeiro relatório divulgado pela prefeitura desde 2013

19/05/2023 - 22h35min

Atualizada em: 19/05/2023 - 22h52min


Caroline Tidra
Caroline Tidra
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Quem passa pela Rua da Represa consegue escutar a água corrente, mesmo quando o nível está baixo. No beco entre as ruas Alfazema e Seis, o trajeto até as casas é íngreme, úmido e cheio de pedras, um desafio que requer cuidado redobrado. Já na Ilha Mauá, o solo demora a secar, especialmente quando a temperatura está baixa, e, por isso, é comum encontrar trapiches em forma de corredores para acessar as residências de quem mora à beira do Guaíba. O que esses pontos têm em comum: são áreas com grau de risco "muito alto" em Porto Alegre.

Nos últimos 10 anos, o número de áreas consideradas de risco — ou seja, expostas a desastres naturais — na Capital aumentou 19%. O dado consta no relatório da prefeitura, divulgado no mês passado, o primeiro elaborado desde 2013, quando 119 pontos haviam sido mapeados. Atualmente, são 142 — sendo 51 pontos classificados com o grau de risco "muito alto".

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O documento, elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), aponta graus de risco "alto" e "muito alto" e a tipificação desse risco. Esses pontos estão espalhados por 41 bairros da Capital, onde cerca de 20.800 famílias vivem sob o temor de novos eventos, o que representa mais de 84 mil pessoas — quase o dobro do que era em 2013.

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A reportagem visitou as regiões para entender como vivem e o que sentem os moradores desses locais. Cada um dos pontos apresenta tipologias de risco diferentes (veja abaixo a classificação oficial utilizada pela Defesa Civil). A Rua da Represa, no bairro Coronel Aparício Borges, foi diagnosticada com dois riscos possíveis: enxurrada e erosão de margem fluvial. Nas ruas Alfazema e Seis, no bairro Morro Santana, os riscos maiores são corrida de detritos, deslizamento planar e queda de blocos. Já na Ilha Mauá, no bairro Arquipélago, as maiores possibilidades são de inundação e de alagamento. 

Especialistas ouvidos pelo DG destacam exemplos de iniciativas realizadas em outros Estados que podem inspirar alternativas para prevenção, combate e soluções para esses episódios em Porto Alegre.

O que é jornalismo de soluções, presente nessa reportagem?

É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.

Entenda as tipificações de riscos na Capital 

Movimentos de massa

  • Corrida de detritos — Ocorre quando, por índices pluviométricos excepcionais, rocha/detrito, misturado com a água, tem comportamento de líquido viscoso, de extenso raio de ação e alto poder destrutivo.
  • Deslizamentos — São movimentos rápidos de solo ou rocha, apresentando superfície de ruptura bem definida, de duração relativamente curta, de massas de terreno geralmente bem definidas quanto ao seu volume, cujo centro de gravidade se desloca para baixo e para fora do talude. Frequentemente, os primeiros sinais desses movimentos são a presença de fissuras.
  • Queda de blocos — As quedas de blocos são movimentos rápidos e acontecem quando materiais rochosos diversos e de volumes variáveis se destacam de encostas muito íngremes, num movimento tipo queda livre.
  • Queda de lascas — As quedas de lascas são movimentos rápidos e acontecem quando fatias delgadas formadas pelos fragmentos de rochas se destacam de encostas muito íngremes, num movimento tipo queda livre.


Hidrológicos

  • Alagamento — Extrapolação da capacidade de escoamento de sistemas de drenagem urbana e consequente acúmulo de água em ruas, calçadas ou outras infraestruturas urbanas, em decorrência de precipitações intensas.
  • Enxurrada — Escoamento superficial de alta velocidade e energia, provocado por chuvas intensas e concentradas, normalmente em pequenas bacias de relevo acidentado. Caracterizada pela elevação súbita das vazões de determinada drenagem e transbordamento brusco da calha fluvial. Apresenta grande poder destrutivo.  
  • Inundação — Submersão de áreas fora dos limites normais de um curso de água em zonas que normalmente não se encontram submersas. O transbordamento ocorre de modo gradual, geralmente ocasionado por chuvas prolongadas em áreas de planície.

Erosivos  

  • Erosão de margem fluvial — Desgaste das encostas dos rios que provoca desmoronamento de barrancos.

 Fonte: Tabela de Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (Cobrade)



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