Não me lembro de quando é essa foto, mas sei que essa é a jovem Ivanete, minha mãe. Acho que ela não tinha nem 40 anos nessa época, uma mulher que para o bem dos filhos decidiu assumir sozinha as rédeas da criação. Assim como milhares de mães solo, ela saía antes do sol nascer e voltava quando estávamos dormindo. Era daquelas que fingia não estar com fome para que pudéssemos comer o segundo prato. 

Renunciou aos desejos de seu corpo para garantir que nós tivéssemos atenção plena, entregou a juventude da sua vida ao ofício de guardiã dos filhos. O que ela nos deu, eu não posso devolver, ela nos deu a sua juventude, e agora cabe a mim fazer com que essa entrega não tenha sido em vão. Aprendi a escrever meu nome pela mão dela segurando a minha, com medo do escuro era na cama dela que eu ia me abrigar. 

Estou a 1.600 quilômetros de distância com o sentimento de que se não a ouço, meu dia não aconteceu. Às vezes, quando me dou conta, já é uma hora da manhã e pequei por não falar com ela, erros que filhos cometem e se arrependem depois. A mulher dessa foto não é digna dessas palavras por ser minha mãe, mas porque ela é uma força da natureza e eu só tive a sorte de ser fruto desse ventre. Te amo, minha mãe.