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Cidades têm mais caminhões do que bombeiros para operá-los

Levantamento do Diário Gaúcho mostra que há dois veículos por equipe na Região Metropolitana

30/06/2015 - 07h04min

Atualizada em: 30/06/2015 - 07h04min


Jeniffer Gularte
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Fernando Gomes / Agencia RBS
Em Guaíba, há mais municípios de abrangência do quartel do que soldados para atuar no plantão

No passado, o socorro poderia demorar pelo sucateamento da frota do Corpo de Bombeiros. Agora, o que falta é efetivo para operar a estrutura que se tem. Um levantamento feito pelo Diário Gaúcho em onze quartéis de dez cidades da Região Metropolitana revela a inversão de uma lógica histórica: o número de caminhões chega ao dobro das equipes disponíveis.

São 22 veículos de combate a incêndio para 11 guarnições, ou seja, dois caminhões para cada equipe. Na Capital, a relação é de uma equipe para cada caminhão. 

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Além de insuficientes, as equipes estão cada vez mais minguadas devido ao corte de horas extras e ao aumento no número de aposentadorias. O que era inimaginável na década de 1990 - quando até dez homens operavam um caminhão, o que é considerável ideal - virou rotina nos quartéis de Alvorada e Guaíba, onde a guarnição é formada por três homens.

Redução de horas extras vai diminuir número de policiais nas ruas

Em caso de emergência, um fica no plantão e os outros dois saem para atender a ocorrência. O mesmo que dirige, precisa controlar e operar o veículo na ocorrência e cuidar do nível da água, enquanto apenas um homem irá tentar controlar o fogo. 

 
Caminhões estragados em Guaíba
Foto: Fernando Gomes/Agência RBS

 
Vazamento de água em caminhão de Guaíba
Foto: Fernando Gomes/Agência RBS

 
Escada hidráulica de Guaíba estragada Guaíba
Foto: Fernando Gomes/Agência RBS


- O problema que se tinha com veículos está praticamente resolvido em 90% dos locais. Temos 130 quartéis no Estado, sendo 15 com problemas nos veículos. Agora, a questão é o efetivo, quem colocar nos veículos para operação - admite o comandante-geral do Comando do Corpo de Bombeiros no Rio Grande do Sul, tenente-coronel Adriano Krukoski Ferreira.

Leis criadas para prevenir incêndios como o da Kiss ainda não trazem resultado

"Estamos trabalhando no limite da segurança"

A precarização da infraestrutura de trabalho, o corte de horas extras e o temor da extinção de benefícios por parte do Estado tem motivado uma debandada das corporações já percebida devido ao aumento do número de pedidos de aposentadorias em 2015. Até o momento, foram 127 pedidos de reserva remunerada - ou aposentadoria. No mesmo período do ano passado, foram 57 solicitações, menos da metade.

O resultado desta equação é o aumento de uma defasagem histórica do efetivo. Em todo Estado, segundo o comandante-geral do Comando do Corpo de Bombeiros no Rio Grande do Sul, tenente-coronel Adriano Krukoski Ferreira, há déficit de 50% no efetivo o que, inevitavelmente, está afetando os serviços.

- Estamos trabalhando no limite da segurança do trabalho do bombeiro. Tem lugares que, para o quartel não fechar, a guarnição tem apenas duas pessoas. Tecnicamente, no mundo inteiro, se precisa de, pelo menos, cinco pessoas por guarnição - avalia.


Clima de pessimismo afasta servidores

Para o tenente-coronel Adriano Krukoski, o total de bombeiros no Estado não chega a 2,5 mil. Apenas no dia 19 de junho, o Diário Oficial do Estado publicou o afastamento de 20 bombeiros. Em Guaíba, em dois anos, 14 servidores se aposentaram.

Se, por um lado, a manutenção da frota depende da participação comunitária na obtenção de recursos, por outro, ressalta o tenente-coronel, o problema de efetivo "foge do controle dos quartéis por ser um problema de Estado."


O presidente Associação dos Oficiais da Brigada Militar (Asofbm), coronel Marcelo Gomes Frota, acredita que o clima de pessimismo tem desanimado aqueles servidores que, mesmo aposentados, poderiam ficar mais tempo atuando.

Lotado em Canoas, o terceiro sargento Ricardo Artur Heineck, 54 anos, vai se aposentar no final de julho com 26 anos de serviço mais período de licença.

- Pelas regras da corporação, poderia cumprir até 35 anos de serviço, mas prefiro ficar com a família, embora o comando tenha insistido para eu ficar - conta. 

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Embora não resolva totalmente, o coordenador-geral da Associação dos Bombeiros do Rio Grande do Sul (Abergs), Ubirajara Ramos, lembra que o chamamento dos 571 aprovados do último concurso poderia amenizar o déficit de efetivo.

Por enquanto, não há previsão de que eles sejam chamados. O decreto do governador José Ivo Sartori que congela as contratações de servidores deve ser estendido para o segundo semestre.

Corte de horas-extras exige jogo de cintura

O corte de horas extras - que em janeiro chegou a causar o fechamento do quartel do Bairro Mathias Velho, em Canoas, e ameaçou rodízio entre outras cidades - força os comandantes a fazerem malabarismos com o contingente de horas que é liberado. Segundo tenente-coronel Krukoski, a redução das horas extras varia entre 35% e 38%, conforme o mês.

Em Sapucaia do Sul, onde ocorre, em média, um incêndio a residência por semana, o sargento Fernando Dalpiaz confessa que é preciso ter jogo de cintura para administrar o contingente que é liberado. Para manter a guarnição com quatro homens, precisaria de 572 horas, mas são permitidas apenas 400. Com isso, depois do dia 20, quando as horas enxugam, a equipe perde um soldado. 

Em Guaíba, três servidores para seis cidades

Em Guaíba, o número de municípios que o quartel precisa atender chega a ser superior ao de soldados de plantão. São três servidores para seis cidades: além de Guaíba, entram na conta Eldorado do Sul, Barão do Triunfo, Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel e Sertão Santana. 

Na garagem, são quatro caminhões estacionados - três estragados, um deles há sete anos, e uma escada mecânica que não funciona. O veículo disponível tem capacidade para 2,5 mil litros, suficientes para dez minutos de fogo em uma casa de madeira.

E quando a água acaba? O motorista precisa dar um jeito de retornar ao quartel para repor. Como? Pedindo carona para a Brigada Militar, táxi e até motoboy. Essa situação, que por si só já é constrangedora, se soma, em alguns casos, às vaias da população. 

- Isso torna o serviço de combate ao fogo e de resgate praticamente inviável - avalia o presidente Associação dos Oficiais da Brigada Militar (Asofbm), coronel Marcelo Gomes Frota.

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Quartel de Alvorada tem dois caminhões abandonados no pátio
Foto: Fernando Gomes/Agência RBS

 
Foto: Fernando Gomes/Agência RBS


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