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Em tempos de crise

Atividade extra faz espichar a renda. Conheça quatro exemplos

Diário Gaúcho conta histórias de pessoas que trabalham e estão ganhando um dinheiro extra fazendo o que gostam

22/08/2015 - 07h05min

Atualizada em: 22/08/2015 - 07h05min


Jeniffer Gularte
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Marcelo Oliveira / Agência RBS
Rafael e Bárbara produzem à noite, depois do trabalho, cupcakes na cozinha de casa em Guaíba

Fazer o dinheiro render no ano em que a escalada dos preços da energia elétrica, da gasolina e de quase toda a lista do supermercado sacrificou o orçamento das famílias é quase uma manobra de herói. Sem autonomia para aumentar o valor no contracheque, nem baixar o custo de vida, usar a criatividade virou alternativa para escapar da crise e espichar o salário.

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Nos últimos meses, utilizar o tempo livre com uma atividade que gere dinheiro extra virou regra para Paula Carolina Dias, 31 anos, Anielle Pereira dos Santos, 23 anos, Paula Landgraf Stein, 30 anos, todas de Porto Alegre, e para o casal Bárbara Grubel Ranultho, 20 anos e Rafael Seelig Cabral, 29  anos, de Guaíba.

Prepare o bolso: o botijão de gás vai subir

Todos eles sentiram que a renda salarial não estava mais sendo suficiente para bancar tantos aumentos. Sem medo de arriscar, arregaçaram as mangas e hoje já estão contando os trocados a mais.

Em tempos de crise, pechinchar é a saída

Unidos para enfrentar o aperto financeiro

A crise bateu à porta da auxiliar financeira Bárbara Grubel Ranultho, 20 anos, de tal forma, que ela precisou trancar a faculdade de Gestão em Recursos Humanos, no final do ano passado, e o curso pré-vestibular, neste ano. Está estudando em casa para tentar uma vaga no curso de Veterinária na Ufrgs.

Especialistas alertam: guarde dinheiro para enfrentar a crise

Moradora do Bairro Santa Rita, em Guaíba, aproveitou o momento de dificuldade para descobrir uma atividade nova com o incentivo do noivo, o auxiliar administrativo Rafael Seelig Cabral, 29  anos. Os dois trabalham de segunda a sexta-feira em Porto Alegre e, nas horas vagas, estão produzindo cupcakes. 


- Um dia, ele tomou a iniciativa de comprar os materiais e os ingredientes. Eu nunca tinha feito cupcake na vida. Fizemos alguns testes, erramos a massa, o ponto, embatumou, mas não desistimos na primeira - conta Bárbara.

 
Bárbara e Rafel nunca tiveram intimidade com doces e agora já comemoram os trocados
Foto: Marcelo Oliveira/Agência RBS

Entrosamento

Até dois meses atrás eles não tinham experiência em doces. Arriscaram e a receita - ao contrário da primeira formada - tem dado certo. O casal vai para a cozinha três vezes por semana, sempre à noite, após o trabalho, e ficam até a madrugada. Fazem uma média de 80 bolos recheados com brigadeiro e branquinho por semana.

Pro café da tarde: cupcake de doce de leite

Entrosados, Bárbara e Rafael se dividem. Ele faz a massa, ela separa as forminhas e recheia e os dois fazem a decoração juntos. Os vizinhos já aprovaram e estão fazendo encomendas para festas. Bárbara vende as delícias duas vezes por semana no trabalho e a cunhada leva para oferecer na faculdade. Além disso, estão negociando uma parceria com uma cafeteria. 

No clima do final de semana: cupcake com cobertura

- Um vai falando para o outro, e o nosso trabalho vai se divulgando. Também uso o Facebook e o WhatsApp. Hoje, o que mais me deixa triste é não conseguir estudar. Queremos futuramente comprar uma casa e um carro, e pensávamos no que poderíamos fazer. O dinheiro sempre aperta - comenta Bárbara. 

Tortas para ter mais dinheiro na carteira

O gosto pela gastronomia está dando mais tranquilidade financeira para Anielle Pereira dos Santos, 23 anos. Jornalista, ela mora com os pais no Bairro Santo Antônio, na Capital, e precisa ajudar nas compras do supermercado e em contas de água e luz. Temendo o desemprego e precisando fazer mais dinheiro pingar na sua carteira, apostou em um hobby que sempre lhe agradou.

Veja aqui receitas de tortas

Há oito meses, decidiu unir a aptidão de boleira da mãe, a dona de Ana Pereira dos Santos, 50 anos, com o seu gosto por decoração de tortas. Começaram a vender o que até então faziam apenas para agradar o paladar da família.


Observadora, a jovem passou a pesquisar na internet como poderia finalizar e decorar as tortas de forma criativa com chocolate, brigadeiro, balas e pastilhas. Assim, a responsabilidade se dividiu: enquanto a mãe garante a torta gostosa e a filha a deixa esteticamente tentadora aos olhos. 

- Comecei a perceber que daria certo quando postei fotos nas minhas redes sociais e as pessoas começaram a perguntar se eu poderia fazer para elas, quanto sairia o preço da fatia. Antes, fazíamos um bolo a cada dois meses, para a família. Agora, temos o compromisso de fazer. Tem estoque de ingredientes em casa: se tu ligares e me pedir um bolo para hoje, tenho como fazer - afirma Ana.

Elas levam em torno de duas horas para concluir uma torta e fazem com que a atividade não interfira na rotina e nos horários de trabalho de Anielle. Atualmente, elas têm encomendas para chá de fralda e festas infantis. 

- É algo que sinto prazer em fazer porque gosto de estar na cozinha.

 
Com gosto pela cozinha, Anielle começou a decorar as tortas feitas pela mãe
Foto: Carlos Macedo/Agência RBS

Máquina de costura virou aliada

Com as despesas mensais devorando cada vez mais seu salário, a professora de uma escola de moda Paula Landgraf Stein, 30 anos, se obrigou a pensar em alternativas para manter o orçamento em ordem e ainda juntar dinheiro.

Focada em deixar a casa da mãe, no Bairro Cavalhada, até o ano que vem, começou a planejar ainda em 2014 como poderia ganhar mais. Encontrou o que precisava costurando e vendendo clutches - carteiras de mão. 

- Faz tempo que preciso de uma outra fonte de renda porque cada vez mais os gastos vão aumentando e o que a gente ganha se mantém. Toda vez que vou ao supermercado, fico apavorada - afirma.


A vontade saiu do plano dos projetos para a prática quando a amiga Karine Adiers, 34 anos, ofereceu o estoque de tecidos que tinha em casa. Com a matéria-prima a custo zero, usou sua própria mão de obra - há quase dez anos tem máquina de costura em casa em um pequeno ateliê - e fez da atividade um compromisso.

Há três meses, ela vem produzindo carteiras e vendendo entre amigas e conhecidos. Paula confecciona nos períodos em que não está na escola, enquanto Karine cuida da divulgação nas redes sociais e faz contatos de venda. A parceria tem dado certo. 

- Está sendo bom porque estamos vendo o dinheiro extra entrar. Mas 20% do valor de cada carteira deixamos em uma caixinha para investir em novos materiais.

Vaidade da mulherada garante o extra

 
Paula usou talento com a costura para fazer negócio com a amiga
Foto: Adriana Franciosi/Agência RBS

A elevação dos gastos no supermercado e a conta de luz mês a mês mais salgada incentivaram a secretária Paula Carolina Dias, 31 anos, a criar uma nova fonte de renda de algo que fazia apenas entre as amigas mais próximas. Em abril começou a fazer um curso de cabeleireira para ganhar uma grana extra.

Sempre que tem cliente, sai do trabalho, pega o filho de dois anos na creche, deixa-o em casa com o pai, no Bairro Camaquã, e parte para atendê-las em casa. Faz selagem térmica e escovas definitiva e progressiva.

- Antes, fazia nas amigas e só cobrava o valor do produto. Comecei o curso e passei a cobrar um pouco menos (do que o preço médio de mercado) porque eu não tenho o estabelecimento e atendo na casa da pessoa.


Uma amiga indicou para outra e, em quatro meses, ela já sente a diferença no bolso. Ela tem, em média, três clientes por semana, sem falar nos atendimentos aos sábados. Para não extrapolar os gastos com gasolina, a moradora do Bairro Camaquã atende entre a região central e a Zona Sul. 

- Está valendo a pena, mesmo com o gasto do transporte. A mulherada pode deixar de lado outras coisas supérfluas, mas não de arrumar o cabelo. Estou adorando porque também é uma forma de eu crescer profissionalmente. Aproveitei essa mudança para começar a consumir com mais prudência, sem exageros - considera Paula.

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15 dicas para faturar no tempo extra

 
Paula atende pelo menos três clientes por semana
Foto: Adriana Franciosi/Agência RBS

1   Antes de pensar no retorno financeiro, pense em fazer alguma atividade de interesse e que você se identifique, algo que lhe agrade fazer. Algo que combine com suas características e habilidades.

2 Analise o mercado. Veja o que seu produto pode despertar de interesse nas pessoas, quais seriam os potenciais consumidores, verifique a concorrência e identifique quem seriam os fornecedores da matéria-prima.

3 Estruture sua ideia de negócio. Você
pode ter tudo pensado na cabeça, porém, quando colocar no papel, começará a identificar que faltam pontos que ainda precisam ser avaliados. O Sebrae dá consultas gratuitas para quem quer empreender.

4 Troque ideias e busque informações com quem já está no mercado e faz algo parecido com o que você quer fazer. Você precisa entender minimamente o mercado em que vai atuar.

5 Pense na viabilidade do negócio. Crie um diferencial, seja por qualidade, preço, atendimento rápido e eficaz. Se você for apenas mais um, não há garantia de sucesso.

6 Não fuja dos cálculos. Analise quando precisará investir e o que terá de capital de giro. Cuide para não fazer algo que irá prejudicar sua renda fixa.

7 Defina o preço correto do produto ou serviço. Tem que ser adequado ao que o mercado aceita e que supra sua necessidade. Não adianta querer lucrar muito nem cobrar tão pouco a ponte de ter prejuízo.

8 Verifique os canais de divulgação do serviço. Redes sociais são válidas, mas, antes, verifique se o  seu público-alvo utiliza estes meios. Cuide para não ficar chato, ofereça seu produto para clientes em potenciais.

9 Você pode fazer o registro de microempreendedor individual no site www.portaldoempreendedor.gov.br ou em uma agência do Sebrae.
 
10 Fique de olho nas licenças e nos parâmetros legais necessários caso trabalhe com alimentação ou beleza, por exemplo. Observe procedimentos como esterilização, itens descartáveis, limpeza e capricho. Além de seguir as regras, estará garantindo qualidade ao seu serviço.

11 Começou o negócio mal ou teve prejuízo no primeiro mês? Não desista. Procure uma unidade do Sebrae, peça orientação e reveja estratégias. Informe-se em 0800-570-0800.

12 Como este será um serviço paralelo à sua atividade principal, tenha em mente que ela não pode prejudicar seu emprego fixo e nem você se dispor a algo que não terá tempo e disponibilidade para fazer.

13 Se tem receio de encarar o negócio sozinho, busque parcerias com outras pessoas, ofereça seu serviço para outros estabelecimentos.

14 Se for vender algo no seu local de trabalho, peça permissão antes para o seu chefe. Se ele permitir, seja discreto, venda no horário do almoço ou depois do expediente.

15 Se for fazer alguma atividade ambulante, vá até a seção de Licenciamento de Atividades Ambulantes em Porto Alegre, na Avenida Osvaldo Aranha, 308, Bairro Bom Fim (ao lado do túnel. Atendimento: segunda, terça, quinta e sexta-feira, das 9 às 16h. Telefone:  3289 4709

Fontes: Técnico em atendimento do Sebrae, André Martinelli, professor Fernando Dolabela e Smic.

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