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Que horas ela volta?

Doméstica e patroa assistem filme que critica relação desigual entre empregado e empregador. Veja o que elas acharam

Longa metragem aborda como é o convívio entre donos da casa e funcionários

19/09/2015 - 07h03min

Atualizada em: 19/09/2015 - 07h03min


Omar Freitas / Agencia RBS
Rose com a empregada Eva: relação de trabalho e amizade

O relacionamento entre chefes e funcionários tem por convenção ser estritamente profissional e não ter intimidade, pelo menos, dentro do local de trabalho. E quando este ambiente é o lar de uma família? É sobre o relacionamento entre patrão e funcionário doméstico que trata o filme Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert.

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O drama estreou no dia 27 de agosto no cinema, mas foi na semana passada que o número de espectadores saltou, após ter sido pré-indicado ao Oscar. Para saber a opinião do público, especialmente de pessoas que se identificam com os personagens, o Diário Gaúcho convidou Eva de Souza Lorenci, 60 anos, de Cachoeirinha, e Rosemar Pasqualotto Picolotto, 54 anos, da Capital, para assistir ao filme: a primeira, é funcionária da casa da segunda, que é bancária aposentada.

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Eva e Rose chegaram juntas no local combinado, no Espaço Itaú, em um shopping da Zona Norte de Porto Alegre. Elas escolheram juntas os assentos, e Rose comprou pipoca. Ambas já tinham ouvido falar do filme e estavam curiosas para saber mais da história. Foi a segunda vez que Rose foi ao cinema em duas semanas. Essa era a segunda vez que Eva ia ao cinema em toda a sua vida.



No enredo, Regina Casé interpreta Val, uma empregada doméstica que mora com os donos da casa e é tratada com inferioridade. Val deixou a filha no Nordeste para trabalhar em São Paulo.

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Com o dinheiro que enviava todo mês, a filha Jéssica conseguiu se formar no Ensino Médio e vai a São Paulo prestar vestibular. É quando começam os problemas: diferentemente da mãe, que sempre adotou uma postura de inferioridade em relação aos donos da casa, Jéssica é segura de si e não admite ser tratada de forma desigual.

Realidade

O filme rodou pelo mundo e levantou discussões, principalmente no Brasil, que tem 7,2 milhões de trabalhadores domésticos, número que posiciona o país no topo do ranking mundial, segundo a Organização Internacional do Trabalho.



Na vida real, Eva diz que já passou por situações difíceis em outros empregos, mas que teve sorte de, há 25 anos, ter encontrado uma "família especial".

- Comecei a trabalhar em casas de família quando tinha sete anos. Era horrível, tinha que comer restos de comida que sobravam dos pratos. Passei fome, dormia mal, era maltratada. Na casa da Rose, me senti igual a todo mundo. Sempre almocei na mesa, junto com os dois meninos que ajudei Rose a criar: Fernando e Luciano - relembra.

Apesar de encontrar diversas semelhanças com Val, como o carinho que a personagem tem pelo filho da patroa e a maneira como conhece a rotina da casa, Eva não se sente inferior.

- Ainda tem muita desigualdade no Brasil (Eva não completou o Ensino Fundamental, Rose tem pós-graduação), mas sinto que está diminuindo essa distância. Nunca tivemos relação empregado-patrão com obrigações. Sempre soube o que deveria fazer: cuidar da casa, lavar, passar, faxinar e cozinhar. Depois de um tempo na mesma casa, com certeza, acaba criando laços familiares - disse.

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Do outro lado, Rose também agradece por ter encontrado em Eva uma amiga. Vinda do Interior do Estado, não tinha mais ninguém com quem contar a não ser a doméstica.

- Era ela quem ia nas reuniões da escola dos meus filhos. Nunca deixei um bilhete, sempre confiei muito no que ela fazia. Eu devo muita coisa a esta mulher.

Depois do filme, elas se abraçaram e agradeceram por terem um relacionamento de amizade, e não de hierarquia, como no filme. Seguiram para suas casas.

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