Planejamento inusitado
Como um videogame pode ter ajudado terroristas a organizarem atentados em Paris
Ministro do Interior da Bélgica, Jan Jambon, afirmou que é mais difícil rastrear um console do que o WhatsApp
As autoridades internacionais seguem com as buscas aos responsáveis pelos ataques que deixaram 129 mortos e cerca de 350 feridos em Paris, na sexta-feira (13). Um dos pontos mais investigados é como os terroristas planejaram os atentados.
Uma possibilidade levantada pelo ministro do Interior da Bélgica, Jan Jambon, chamou a atenção de muita gente: um videogame como forma de comunicação de grupos terroristas. De acordo com o portal de notícias belga The Bulletin, ele chegou a afirmar que o PlayStation 4 (PS4) - o console mais popular do mundo, desenvolvido pela Sony - é usado por membros do Estado Islâmico em razão da dificuldade de rastreamento das conversas.
- O PlayStation 4 é ainda mais difícil de ser mantido sob observação do que o WhatsApp - disse Jambon.
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Segundo a revista Forbes, pelo menos um PS4 foi encontrado em posse de pessoas possivelmente ligadas aos terroristas durante as buscas realizadas nesse final de semana. A publicação, no entanto, ressalta que ainda não há provas de que os terroristas usaram o videogame para se comunicarem e planejarem os ataques.
Mas isso seria mesmo possível?
Documentos revelados em 2013 por Edward Snowden garantem que sim. Na ocasião, o ex-administrador de sistemas da Agência Central de Inteligência norte-americana (CIA, nas sigla em inglês) destacou que terroristas usavam o jogo World of Warcraft para se comunicarem sem rastreamento.
Os jogos online permitem, normalmente, que os usuários se comuniquem por mensagens de texto, áudio, vídeo ou de maneiras ainda mais criativas. Em um jogo de tiro, por exemplo, pode-se marcar as paredes com as balas e escrever as mensagens, que somem em seguida, tornando praticamente impossível o rastreamento. Outros games que têm cartas ou moedas especiais com letras também podem servir para a comunicação entre os usuários de uma forma diferente, mais reservada.
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Outra possibilidade levantada pela Forbes são os sistemas de comunicação disponíveis pelos consoles, como a PlayStation Network (PSN), a Xbox Live e a Nintendo Network. Esses, contudo, apesar de serem mais difíceis de controlar do que conversas via celular, já possuem sistemas de rastreamento. Para evitar casos de pedofilia, a Agência Federal de Investigação dos Estados Unidos (FBI, na sigla em inglês) monitora essas redes há algum tempo, o que deixa os usuários mais atentos ao que é dito por lá.
Para o jornalista e professor de comunicação digital da PUCRS André Pase, essas ações são mesmo possíveis. Ele diz que os jogos, principalmente, podem ser usados para fazer combinações rápidas com uma baixa probabilidade de rastreamento.
- Telefone e e-mail já estão tão fiscalizados, tão grampeado, que eles podem pensar: "Qual a linha telefônica menos grampeada, por exemplo" - destacou.
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Mas Pase ainda ressalta que é importante, nesses momentos, não se voltar contra as ferramentas. Ele lembrou o caso do 11 de setembro, em que terroristas supostamente teriam combinado o ataque pelo chat mIRC.
- A gente troca liberdade por segurança. O ponto é que esse é um tipo de comunicação efêmera, terminou o jogo e aquilo não vai ter registro, mas não é o caso de demonizar a ferramenta - avaliou.
A revista Forbes ainda reforça que com o surgimento de novas tecnologias e a facilidade de comunicação, os responsáveis pela segurança precisam estar cada vez mais atentos. Porque se a lógica criminosa evolui, a das autoridades não pode ficar atrás.
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