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Dia de compras

Escola que alfabetiza haitianas é premiada com projeto de leitura

Alunos da Escola Décio Martins ganharam prêmio de iniciativa que surgiu a partir de uma reportagem do DG sobre a alfabetização de haitianas

05/11/2015 - 07h08min

Atualizada em: 05/11/2015 - 07h08min


Jeniffer Gularte
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Carlos Macedo / Agencia RBS
Johnica e Ariolanda escolhendo o que levar para casa

Sem jamais terem ido em uma feira parecida no seu país de origem, as haitianas Johnica Gabriel, nove anos, Loudjina Saola Mytile, dez anos, Midasendji Jeune, sete anos, e Ariolanda Alexandre, dez anos, nem imaginavam quais livros levariam para casa quando chegaram na Feira do Livro, na Praça da Afândega, em Porto Alegre, no começo da tarde de ontem, mas estavam curiosas pela novidade que as aguardava.

Acompanhadas pelos colegas da turma A33, do terceiro ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Décio Martins Costa, do Bairro Sarandi, Zona Norte da Capital, passaram o olho por uma banca, folhearam um livro em outra e, aos poucos, o que era dúvida virou os primeiros exemplares que levaram para casa.

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Uma reportagem publicada em maio pelo Diário Gaúcho, contando os desafios da alfabetização das quatro haitianas na Escola Décio Martins, foi o ponto de partida de um projeto de leitura em sala de aula, liderado pela professora do terceiro ano Maria Carolina Colombo Santos. A iniciativa foi uma das premiadas pelo Projeto Quintanares, da Câmara Rio-grandense do Livro, com um bônus-livro de 30 "quintanares" - o equivalente a R$ 30 - para cada um dos alunos da turma.


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Tarde de compras

Ontem, o DG acompanhou a tarde de compra dos pequenos. As crianças podiam comprar obras de 130 autores que visitaram escolas públicas da Capital entre 2011 e 2015 pelo projeto Adote um Escritor, da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre e da Câmara Rio-Grandense do Livro. Antes de iniciar as compras, foram orientados a cuidar para não rasgar e molhar o bônus e a terem calma para escolher, sem se afobar para gastar todo valor na primeira banca.

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Ariolanda foi a que mais fez render o bônus: comprou três livros do autor Pedro Bandeira. Midasendji chegou a ficar emburrada por não poder comprar um livro da Frozen, mas, com paciência e conversa, foi convencida pela professora das vantagens de comprar o Alfabeto dos Pingos, que relaciona letras a frases, figuras e palavras.


A primeira das quatro haitianas matriculadas na escola, Johnica - que em maio confessou ao DG que queria ser professora e já era a que melhor se comunicava com os colegas - hoje está completamente alfabetizada, segundo a professora Maria Carolina. 

 
Professora Maria Carolina, autora do projeto

- Johnica está pronta e me ajuda muito com os colegas que ainda não têm a leitura fluente.

As outras três também avançaram no último semestre e agora seguem focadas em ampliar o vocabulário com a ajuda de projetos no turno inverso da escola.

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Eu Leio, Tu Lês, Nós Lemos

Em um dia de leitura e retirada de livros, a professora Maria Carolina levou para a biblioteca a reportagem do DG Sotaque de Haitianas em Sala de Aula, publicada em 13 de maio deste ano. Foi quando a mestra percebeu que um aluno já alfabetizado lia a reportagem para o colega que ainda tinha dificuldade, e este, por sua vez, se interessava mais pela leitura. 

- Ao perceber o interesse dos alunos em ler o material, fiquei encantada. Quando um dos alunos falou "eu leio pra ti, já que tu ainda não sabe ler", pronto! Era a deixa para o projeto que eu buscava - conta Maria.

Assim nasceu o projeto Eu Leio, Tu Lês, Nós Lemos. As atividades são feitas com diferentes tipos de textos que fazem parte da vida dos alunos: além das notícias de jornais, a professora utiliza rótulos, listas, gráficos, convites, receitas, cartazes e produção de cartas. Assim, ainda aprendem a importância e as informações fundamentais de cada item. 

- Perceber que o aluno entendeu o que leu é muito compensador. A grande maioria dos meus 26 alunos está com o processo de alfabetização concluído - relata a professora.

O resultado já está aparecendo até na percepção dos alunos:

- Ler é muito legal, abre novos mundos e traz novos amigos. Hoje, vi pela primeira vez um autor de perto - conta Carlos Eduardo Cardoso, nove anos, que faz leitura para os colegas, e participou na feira, junto com os outros alunos, de um bate-papo com a escritora Marô Barbieri, antes do começo das compras.

Anita Gabriela Reis Saldanha, nove anos, dá sua dica para não se perder durante a leitura:

- Leio acompanhando as linhas com o dedinho, assim fica mais difícil de se distrair.

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Mida, Johnica e Loudjina enquanto Ariolanda observa a banca de livros
Fotos: Carlos Macedo/Agência RBS

 
Alunos da Escola Décio Martins com as compras da tarde



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