Contra o Aedes
Falta de informação deixa grávidas em risco. Saiba como se proteger do zika vírus
Pouco ou nenhum conhecimento sobre doença transmitida pelo Aedes aegypti por deixa novas mães vulneráveis. No Brasil, já são 3.174 casos suspeitos de microcefalia relacionada ao zika
No Bairro Lomba do Pinheiro, na Zona Leste da Capital, local com histórico de casos de dengue em anos anteriores, a informação sobre o zika vírus, e a sua relação com casos de microcefalia em bebês, ainda chega lentamente. O Diário Gaúcho conversou com gestantes na Unidade de Saúde Panorama, que participavam de um encontro para tirar dúvidas sobre a gravidez.
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Das oito mulheres entrevistadas, somente duas tinham informações sobre o zika, enquanto seis tinham pouco ou nenhum conhecimento sobre a doença. A associação entre a infecção transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e a má-formação foi confirmada em novembro de 2015 pelo Ministério da Saúde.
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A dona de casa Elisiane Miranda da Silva, 21 anos, está no primeiro mês da gestação. Segundo ela, há muitos mosquitos na casa onde mora com o marido e a filha de cinco anos, mas ainda não chegou a tomar nenhuma atitude para se proteger do Aedes.
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- Já ouvi falar meio por cima sobre o zika, mas confesso que não pesquisei sobre o assunto e nem tomei alguma atitude para evitar a transmissão. O meu quintal, por sinal, não é muito limpo, preciso dar uma olhada lá - admite a futura mãe.
Preço do repelente
A falta de informação também é vivida por Tainy Carolina Ribeiro Gonçalves, de 15 anos, que foi surpreendida ao saber que seria mãe. A estudante está no oitavo mês da gestação e espera ansiosamente por Ágata Valentina. Entretanto, apesar de ter uma noção do que é o zika, ela não se preocupou em fazer exames extras ou se informar mais sobre o assunto.
- Eu sei que se pegar no bebê, pode ficar com o cérebro menor, né? Mas nunca perguntei mais sobre isso, nem me importei. Aqui em casa, a minha mãe é quem cuida mais disso.
Segundo a jovem, quando ela realizou a ecografia, o médico recomendou que fizesse um segundo exame mais detalhado, justamente para ver o tamanho do cérebro do bebê.
A mãe de Tainy, Priscila Ribeiro, 31 anos, auxiliar de cozinha, deu a luz ao Jonas há 14 dias.
- Eu tenho pequenos cuidados para evitar o mosquito, como usar repelente e cuidar com a água parada no quintal, mas com certeza ficamos expostos ao vírus, pois temos poucas informações - conta Priscila.
Ela passou a se preocupar assim que viu uma reportagem sobre a microcefalia. A auxiliar de cozinha admite que o faz um tempo que o repelente acabou, mas que não conseguiu comprar outro por conta do preço.
- Quando o Jonas nasceu até perguntei para o médico se ele não tinha esta doença, pois ele era muito pequeno. O doutor me acalmou dizendo que estava tudo bem. Uma criança já é difícil de criar, imagina com problema de saúde - diz Priscila.
Nas farmácias, é possível encontrar repelentes por preços entre R$ 10 e R$ 25, em média. Um modelo mais caro e com ação mais prolongada, que custa em torno de R$ 70, está em falta na Capital.
Identifiquei um possível foco de mosquito, e agora?
Se você não conseguir ter acesso ao foco do mosquito, ligue para a prefeitura de Porto Alegre para o número 156 para registrar a ocorrência. A prefeitura criou um sistema para mapear a infestação do mosquito, a partir do histórico de casos recentes de dengue. Profissionais identificam armadilhas, locais onde podem existir larvas do mosquito, e fazem o bloqueio do Aedes.
Mapa: reprodução / prefeitura de Porto Alegre
Cientes do risco
Logo que Simone Araújo da Silva, 30 anos, babá e grávida de pouco mais de um mês, soube da gravidez, pensou no zika.
- Fiquei duas noites sem dormir pensando que meu bebê poderia correr algum risco de má-formação. Ouvi falar duas coisas: uma que o governo teria distribuído um lote de vacinas contra rubéola que estaria infectado e outra que a microcefalia estava sendo causada pelo mosquito. Acredito mais na teoria do Aedes, por isso comecei a passar repelente por tudo.
Segundo ela, para extinguir as larvas do mosquito, era preciso que toda a comunidade se mobilizasse em uma grande ação.
- Seria legal pegar um final de semana e chamar todos os vizinhos para combater o Aedes. Tipo, ir em todas as casas e ver todos os pontos possíveis. Só assim estaríamos um pouco mais aliviadas como mães - defende Simone.
A nova mamãe Letiane Militz Trindade, 23 anos, que trabalha em setor administrativo, está no segundo mês da gravidez.
- Eu já vinha tentando engravidar faz um tempo. Quando deu este surto do zika, me falaram para não engravidar e eu fiquei com bastante medo, mas como meu maior sonho é ser mãe, acabou que engravidei mesmo assim.
Desde então, ela acredita que está tomando todas as providências possíveis:
- Passo repelente, uso roupa comprida no trabalho e limpei todo o terreno com o meu pai. Viramos as garrafas, colocamos fora pratinhos e pneus.
Casos concretos
O Brasil registra 3.174 casos suspeitos de microcefalia relacionada ao vírus Zika em recém-nascidos. Até o último boletim epidemiológico, havia 23 casos suspeitos no Rio Grande do Sul, mas a Secretaria Estadual de Saúde não divulga as cidades onde moram os pacientes em investigação. No RS, o primeiro caso de microcefalia causado pelo zika foi divulgado em dezembro. Uma mulher de Esteio teria contraído o vírus em uma viagem a Pernambuco no primeiro trimestre de gravidez.
Eliminando o medo
Foto: Fernando Pessoa / Arquivo Pessoal
De acordo com a bióloga da Secretaria Municipal de Saúde, Elinea Barbosa Cracco, a primeira atitude a ser tomada para acabar com o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, da febre chicungunya, do zika e da febre amarela, é eliminar os possíveis criadores das larvas.
- Qualquer recipiente que possa receber água, principalmente parada e limpa, é onde as fêmeas do mosquito depositam seus ovos. Eles se desenvolvem na forma aquática e pode levar até dez dias para se transformar em mosquito adulto.
Segundo a especialista, o local onde mais é encontrado as larvas na Capital são objetos móveis, que as pessoas geralmente mantém com facilidade, como garrafas, baldes, pneus, potes de água de cachorro, copo descartável e pratinhos de plantas.
- A melhor maneira é eliminar estes objetos. Se existir pratinhos suspensos, fure o prato para que a água possa escorrer. Dentro de casa, coloque areia até a borda do prato das plantas - explica.
É preciso verificar também calhas entupidas, caixa d'água mal vedadas, ralos (colocar tela milimétrica que podem ser encontradas em lojas de ferragens).
- Se cada um tiver dez minutos por semana para verificar águas paradas, já se tem um grande avanço - aconselha Elinea.
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Saiba reconhecer o Aedes
O que é microcefalia?
A microcefalia é uma condição rara em que o bebê nasce com o crânio do tamanho menor do que o normal. A malformação é diagnosticada quando o perímetro da cabeça é igual ou menor do que 32cm - o esperado é que bebês nascidos após nove meses de gestação tenham pelo menos 34 cm.
A principal hipótese discutida para o aumento de casos de microcefalia está relacionada a infecções por zika vírus, que foi identificado pela primeira vez no país em abril deste ano. O vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, assim como a dengue e o chikungunya.
Há um estudo definitivo ligando o zika vírus aos casos de microcefalia?
Os estudos feitos até então apontam, sim, uma relação. Especialistas ainda estão investigando o que leva alguns bebês a desenvolverem a condição, afinal, nem todas as mulheres que contraíram o vírus durante a gravidez terão bebês com microcefalia. É comprovado que o zika foi encontrado no líquido amniótico de gestantes.
Vacina da rubéola vencida aplicada em gestantes poderia ser a causa do aumento de casos de microcefalia?
A rubéola é uma síndrome que, quando contraída por gestantes, também pode causar microcefalia em bebês. No início deste ano, o Brasil foi declarado oficialmente livre da rubéola pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Não há ligação com a vacina da rubéola com casos de microcefalia, e não há registro de imunizações em massa de gestantes no último ano. Quando fora da data de validade, a vacina perde o seu efeito, mas não causa doenças ou problemas de saúde.
Quais as precauções que devem ser tomadas?
A primeira medida é combater o mosquito. Certifique-se de que na sua casa não há criadouros, como locais que podem acumular água parada. Especialistas recomendam o uso de mangas longas e calças compridas, mosquiteiros e repelente. A família e moradores da casa também devem se prevenir, pois o mosquito ao picar uma pessoa infectada, se torna transmissor.
Gestantes devem manter o acompanhamento e as consultas de pré-natal, com a realização de todos os exames recomendados pelo médico. O Ministério da Saúde reforça ainda as orientações para evitar o contato com pessoas com febre ou infecções e utilizar repelentes permitidos para gestantes.
Tem vacina para proteger do vírus?
Não há vacina disponível que proteja do zika. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, no final de dezembro, a primeira vacina contra a dengue, que deve começar a ser comercializada até julho deste ano.
Nos horários de maior risco de picada do Aedes (nascer do sol até as 8h e no entardecer, entre 17h e 21h), a gestante pode evitar sair de casa.
Quando o repelente deve ser aplicado?
A proteção fornecida pelos produtos dura, em média, de quatro a oito horas, dependendo da quantidade da substância na composição. Os repelentes devem ser aplicados no máximo três vezes ao dia. Para a ginecologista e obstetra Ivete Canti, não há risco de repassar o produto um pouco antes do tempo estimado de duração.
Velas e outros inseticidas naturais podem ser usados?
De acordo com a Anvisa, inseticidas à base de citronela, andiroba e óleo de cravo, entre outros, não têm comprovação de eficácia nem a aprovação pela Agência.
Como saber se fui picada pelo aedes?
A picada do Aedes aegypti não deixa lesões distintas na pele. Se o mosquito transmitiu zika, chikungunya ou dengue, apenas um exame pode comprovar. Em alguns casos, as infecções não apresentam sintomas, mas quem tiver febre, manchas avermelhadas pelo corpo, dores nas juntas e fraqueza deve procurar atendimento médico.
O bebê corre algum risco se a mãe foi infectada por zika antes de ficar grávida?
O tempo de circulação do vírus no sangue gira em torno de cinco a oito dias depois que a pessoa apresenta sintomas, por isso, não há riscos. Quem planeja engravidar, deve conversar com o seu médico antes. Especialistas já recomendam adiar uma gestação devido aos riscos.
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