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Transtorno de acumulação

36 bichos por pessoa: essa é a média entre os acumuladores de animais da Capital

Segundo pesquisa da Pucrs, cerca de 1.400 cães, gatos, pombos e patos estão sob cuidados de apenas 38 pessoas

17/06/2016 - 14h44min

Atualizada em: 17/06/2016 - 14h47min


Um estudo do grupo de pesquisa Avaliação, Reabilitação e Interação Humano-Animal (Ariha) da Pucrs em parceria com a Secretaria Especial dos Direitos Animais (Seda) e do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) revelou que 1.379 animais pertencem a apenas 38 pessoas em Porto Alegre. A média é de 36 bichos por dono. O levantamento foi feito entre agosto de 2015 e maio de 2016 com o objetivo de encontrar uma solução para a prática de acumular animais, reconhecida em 2013 como transtorno psicológico pela Associação Americana de Psiquiatria.

Dos 64 lares identificados pela Seda por meio de denúncias, apenas 38 moradores aceitaram responder à pesquisa. A suspeita é que os cerca de 1.400 animais, entre eles cães, gatos, pombos e patos, seja um número inferior ao real, já que a contagem foi feita por meio do relato dos próprios acumuladores. Coordenadora do grupo que liderou a pesquisa, a psicóloga Tatiana Irigaray acredita que a estimativa ultrapassa 1.500 animais.

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– Há pessoas que recolhem animais semanalmente e outros bichos que vão morrendo. Os acumuladores perdem a noção do número de animais – explica.

Segundo a médica veterinária da Seda Katia Gueiral Lima, a diferença entre acumuladores e cuidadores de animais é nítida. Enquanto os cuidadores procuram ficar apenas com a quantia que conseguem atender, garantindo medidas básicas como higiene e alimentação, os acumuladores não resistem e acabam adotando um número de animais maior do que são capazes de prover. É a má condição de vida tanto dos bichos quanto das pessoas que caracteriza o transtorno de acúmulo.

Má condição dos animais e dos donos caracteriza transtorno de acúmulo

– Os acumuladores não conseguem visualizar a deterioração de higiene e saúde dos animais. Não conseguem enxergar a doença, a fome dos animais – observa a veterinária.

De acordo com o levantamento, 75% dos acumuladores recebe menos de dois salários mínimos; a maioria é de pessoas idosas (63%) que apresentam quadros de ansiedade, depressão e início de alzheimer.

– Geralmente são pessoas sozinhas. Muitas tinham uma relação com os animais, mas como o número ficou muito grande, acabaram perdendo – diz Tatiana.

Idosos estão entre a maioria dos acumuladores

Na maioria dos lares, os animais estavam subnutridos e mantidos em espaços pequenos. Há casos de animais que acabaram morrendo e o corpo não foi retirado do pátio. A Seda procura garantir tratamento veterinário aos bichos, e evita retirá-lo dos lares porque os acumuladores colocarão outros no lugar. Para agravar, os acumuladores são vistos pela própria população como alternativa para se desfazer dos animais.

– As pessoas querem se livrar do problema e acabam levando os animais aos acumuladores. Só pioram a situação – diz Kátia.

O próximo passo da iniciativa é criar um grupo multidisciplinar que dê tratamento aos acumuladores. De acordo com a psicóloga Elisa Ferreira, integrante do grupo que visitou as residências, a ideia é que os tipos de acumuladores identificados no estudo sejam aprofundados nos próximos meses.

– A gente quer deixar isso mais específico e publicar cientificamente – diz Elisa.

Entenda os subtipos* de acumuladores identificados no estudo:

Salvador/missionário: é a pessoa que tem uma crença rígida de que está no mundo para salvar os animais. Recolhe todos e tem dificuldade de reconhecer as más condições nas quais vivem os bichos;

Sobrecarregado/desorganizado: não tem a mesma ideologia que o salvador/missionário, mas acumulou animais que acabaram se procriando sem controle;

Perverso: é a pessoa que recolhe animais visando ganho próprio. Captura animais para vender ou até mesmo ganhar ração de doadores para depois revender.

* A identificação dos subtipos é apenas uma análise preliminar

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