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Estupro coletivo no Rio

Cantor de funk citado em vídeo nega incentivar violência contra a mulher: "Falo o que acontece na comunidade"

"Mais de 20 engravidou", do MC Smith, não é o primeiro hit do funkeiro citado em inquérito policial

02/06/2016 - 12h17min

Atualizada em: 02/06/2016 - 12h18min


A música "Mais de 20 engravidou", composta pelo funkeiro MC Smith, 29 anos, em 2008, e citada no vídeo do estupro coletivo de uma adolescente no Rio de Janeiro, reacendeu um debate sobre a violência contra a mulher em letras de funk. Ao G1, ele garantiu que nunca fez apologia a crime nenhum:

– Eu sou um jornalista, sou um repórter musical. Eu falo o que acontece na comunidade.

Embora não seja investigado no caso de estupro da jovem no Rio, MC Smith foi envolvido indiretamente no caso, ao ter sua música citada no inquérito. Um dos homens que pratica o crime contra a garota diz na filmagem: "Essa aqui mais de 30 engravidou".

O advogado de Lucas Perdomo Duarte Santos, suposto namorado da jovem, disse que a menção feita no vídeo se referia a "um rap conhecido na comunidade", mas que não havia 30 homens no local. A polícia, no entanto, ainda investiga quantas pessoas participaram do estupro. Contudo, na opinião do funkeiro, o crime não aconteceu.

– Ninguém estuprou ela, não. Eu moro na Zona Norte (do Rio). Se tivesse estuprado, todo mundo tinha matado. As próprias pessoas que moram na comunidade teriam se revoltado e linchado todo mundo. É minha opinião. Tem opiniões diversas por aí – disse ao G1.

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Ele também avaliou que há um preconceito maior com o funk do que com MPB, sertanejo, pagode e forró, que, segundo ele, também têm "sacanagem" em suas letras. Ainda assim, MC Smith não acredita que seja preciso mudar as músicas que tenham esse teor.

– Não tenho nem porque voltar atrás da música que eu fiz. Foi um fato que aconteceu. Existem fanfarrões. Como existe o cara que é pai de família, existe o que tem uma porção de filho por aí – esquivou-se.

Histórico de músicas violentas

Esse não é o primeiro hit do funkeiro citado em inquérito policial. Em 2010, MC Smith chegou a ser preso, sob acusação de apologia ao tráfico, pela música "Vida bandida". Para se defender da acusação, usou o mesmo discurso de narrar o que acontece na comunidade.

Em outra música, "Mulher levanta nóis, mas também derruba", ele canta: "Entra pra dentro de casa quando o bloco passar / Se eu te pegar na rua, garota, vou te amassar". Em outra, "Conflitos penetrantes", ele fala: "Nós vai enguiçar essa galinha / Ah, mó galinha mesmo".

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Para ele, isso não é um incentivo à violência contra a mulher, apenas um retrato da realidade.

– Eu estou falando o que acontece, que os caras tratam a mulher mal. Os caras batem na mulher, falam para mulher que se saírem de casa vão dar um soco na cara. Isso é legal? Não – disse ele ao G1.

Há mais de dez anos no mundo do funk carioca, alega ter trocado os polêmicos hits que falam sobre crime e sexo para investir no melody, ou seja, aqueles funks mais românticos.

– Eu não estava mais aguentando passar na rua e o policial dar um tapa na minha cara e falar que eu era cantor de bandido, de traficante – lamentou.



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