Notícias



Educação na Capital

Prefeito de Porto Alegre é multado por falta de plano para creches

Prefeito Fortunati deverá pagar R$ 1,5 mil por não apresentar ao TCE ações para aumentar a oferta de vagas na educação infantil. 

18/08/2016 - 08h02min

Atualizada em: 18/08/2016 - 08h04min


Jeniffer Gularte
Enviar E-mail
Falta plano para creches na Capital

O prefeito de Porto Alegre José Fortunati foi multado em R$ 1,5 mil pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) por não apresentar um plano detalhado com ações para aumentar a oferta de vagas na educação infantil da Capital. A decisão, da qual cabe recurso, foi tomada em sessão plenária na tarde de ontem.

Fortunati tinha até 30 de junho para apresentar ao tribunal uma série de propostas que ampliassem e melhorassem de forma progressiva o serviço ofertado às crianças no município. O TCE aponta um déficit de 13.942 vagas para crianças de zero a cinco anos na Capital, usando como base dados do IBGE e do DataSus.

A determinação do órgão ocorreu após o julgamento de uma inspeção especial que analisou itens quantitativos e qualitativos do serviço ofertado na Capital. Entre as informações apontadas pelo relatório, divulgado no ano passado, está a de que Porto Alegre possui a menor oferta de vagas no país para crianças entre zero e cinco anos em escolas da rede municipal.

Leia as últimas notícias do dia

Conveniadas

Outro ponto importante, conforme o voto do relator do processo, conselheiro Cezar Miola, é a diferença de atendimento entre alunos da rede própria e da rede conveniada. Ao realizar o relatório, o auditores do TCE verificaram que a rede conveniada – na qual o custo por aluno/ano é de R$ 3 mil, frente aos R$ 8,8 mil de uma Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) – tem condições inferiores de atendimento em relação às Emeis.

Além do custo por aluno ser 65% menor, as conveniadas têm qualidade menor em itens que vão desde o espaço de recreação e cardápio até a edificação dos prédios, mantidos, na maioria das vezes, por associações comunitárias.

Leia mais
Programa dá faculdade de graça para moradores da Capital. Saiba como concorrer
Turma da Apae precisa de uma forcinha para ver as paraolimpíadas

Turmas fechadas

Segundo a Defensoria Pública, em junho foram fechadas 28 turmas de berçário e maternal na Capital, o que impossibilitou a matrícula de 397 crianças de zero a três anos. A 1ª Defensoria Pública Especializada em Infância e Juventude instaurou um Procedimento para Apuração de Dano Coletivo, que verificou que as turmas foram fechadas para suprir as vagas para quatro a cinco anos – estratégia para atingir a meta do PNE, que é atender a 100% das crianças na faixa etária até o final de 2016.

Prefeitura contesta decisão

A secretária de Educação de Porto Alegre, Cleci Jurach, contesta a decisão do TCE. Ela informa que a prefeitura entregou o plano de ação com a previsão de atendimento de demanda futura de crianças com base em escolas que estão em obras. Cleci insiste que o déficit de vagas para crianças de quatro a cinco anos está zerado. Já na faixa de zero a três anos, reconhece que 37% das crianças não são atendidas.

– Não se pode fazer estimativa em cima de um censo de dez anos atrás. Trabalhamos em cima de uma demanda definida pela procura de vagas no período de matricula, que é no final do ano – justifica.

Segundo ela, a busca ativa de crianças, cobrada pelo TCE, é inviável:

– Eles (TCE) têm que nos dizer como fazer a busca ativa. Como iremos na casa todos os porto-alegrenses?

O Tribunal não leva em consideração o desejo da família de colocar a criança em escola privada. Cleci orienta os pais que precisam de vagas para crianças entre quatro e cinco anos a procurarem Secretaria Municipal de Educação:

– A família tem que ir até a Smed. Temos obrigação de acolher estas crianças. Nesta semana, serão inauguradas duas novas escolas infantis, a Nossa Senhora das Graças, no Bairro Lami, e a Jardim Paraíso, na Restinga, totalizando 24 novas escolas inauguradas na Capital desde o início da gestão de José Fortunati, em 2013.

Informe sobre a falta de vagas
- Secretaria Municipal de Educação: Rua dos Andradas, 680, Centro, fone 3289-1788
- Atendimento ao público: de terça a sexta-feira, das 9h às 11h30min e das 14h às 17h30min

Uma difícil realidade

Para o TCE, a prefeitura descumpre um dos princípios do Plano Nacional de Educação (PNE), que é o de realizar a busca ativa das crianças, em parceria com órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à infância. A prefeitura discorda do déficit de vagas apresentado em relatório, mas admite que leva em conta apenas os números de quem foi procurar vaga nas escolas. A realidade enfrentada, por exemplo, por mães do Morro da Polícia, no Bairro Aparício Borges, mostra que a falta de vagas em creches está longe do fim.

Tamara Viana dos Santos, 24 anos, nunca conseguiu escolinha para nenhum dos seus três filhos: Diones, cinco anos, Miguel, três anos, e Pietro, dois anos. O mais velho tinha nove meses quando ela tentou pela primeira vez colocá-lo em creche:

– Já madruguei para tentar vaga e nunca consegui. Por isso, nunca pude trabalhar.

Rafaela (E), Tamara e Anelise (E): sem escolinha para os filhos

Com atraso

A vaga que Anelise dos Santos, 32 anos, tanto queria só apareceu para a filha Érika, oito anos, quando a criança já estava em idade escolar. Erika tinha quatro anos quando a mãe entrou na lista de espera. Hoje, Anelise ainda sonha com vagas para o caçula Adrian, cinco anos, e para a sobrinha que cria, Maria, de um ano e oito meses:

– A gente espera, espera e ninguém dá retorno – afirma.

A experiência das duas vizinhas só desanima ainda mais Rafaela Pereira da Rosa, 20 anos, mãe de Gabriel, de um ano e nove meses, e de Gustavo, de um mês. Se fosse pagar uma escola particular, gastaria R$ 700 com a mensalidade para os dois meninos:

– Já procurei vagas para Gabriel em quatro escolinhas e não consegui. Quando o meu mais novo fizer quatro meses, vou tentar novamente.

Curta nossa página no Facebook


MAIS SOBRE

Últimas Notícias