Educação em Porto Alegre
Pais abraçam escola municipal da Capital em protesto pela falta de professores
Inaugurada em março, instituição municipal de educação infantil de Porto Alegre segue atendendo menos da metade dos alunos por falta de monitores e professores
De mãos dadas, crianças e adultos abraçaram simbolicamente a Escola Municipal de Educação Infantil Santo Expedito, no Bairro Parque Santa Fé, Zona Norte de Porto Alegre, no final da manhã deste domingo. Eles pretendiam chamar a atenção da prefeitura para a falta de docentes que atenderiam 150 crianças de zero a cinco anos e 11 meses. Hoje, apenas 40% dos matriculados –três turmas do jardim – estão tendo aulas em turnos reduzidos por falta de monitores. Os pequenos do berçário e do maternal ainda aguardam o início do ano letivo.
Pais afirmam que foram enganados pela Secretaria Municipal de Educação (Smed), no início do ano, quando o órgão ligou para as famílias indicando a escola para matrícula. Foi o caso da comerciária Mariana Junqueira, 40 anos, cuja filha, Sofia, quatro anos, já tinha vaga garantida numa escola do Bairro Passo das Pedras, a 6km de casa. Ao ser informada de que a menina teria prioridade no maternal da creche perto de casa, Mariana abdicou da outra vaga. _ Se a Secretaria (de Educação) não tivesse me ligado e garantido a matrícula na Santo Expedito, minha filha estaria estudando e eu poderia voltar a procurar emprego _ reclama Mariana.
Depois de três anos de obras, a inauguração ocorreu no final do ano passado, quando o governo anterior prometeu que a escola iniciaria as atividades em 6 de março. Porém, problemas técnicos nas instalações de gás e energia do prédio fizeram a data ser adiada para 17 de abril. Nem mesmo o atraso evitou que o ano letivo se iniciasse capenga.
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Indignada com a falta de respostas, a professora desempregada Elisandra Quevedo da Silva, 28 anos, enviou um e-mail ao Ministério Público pedindo ajuda à promotora de Justiça Danielle Bolzan Teixeira, da Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude de Porto Alegre. Mãe de Murillo, um ano e um mês, que deveria estar no maternal, e de Isabelly, cinco anos, matriculada no Jardim B e com aula em apenas um turno, Elisandra explicou ao Ministério Público que está desempregada porque não tem com quem deixar os filhos.
– Estava desesperada, só quem enfrenta uma situação como esta sabe as dificuldades que estamos enfrentando – desabafa Elisandra.
Na semana passada, de posse do pedido de ajuda da mãe e de outros estudos sobre a situação da rede municipal de ensino, a promotora Danielle instaurou na quinta-feira passada inquérito civil público questionando o prefeito Nelson Marchezan (PSDB) e a Secretaria Municipal de Educação (Smed) sobre a falta de professores. Até sexta-feira, a prefeitura ainda não havia sido notificada. Eles terão 15 dias para responder à promotoria.
Por meio da assessoria de imprensa, a Smed informou que o déficit nas 56 escolas da rede municipal é de 250 profissionais e que não há previsão de nomeações. Quando elas ocorrerem, todos serão chamados ao mesmo tempo, inclusive, para a Emei Santo Expedito. Porém, a Secretaria não informou quantos professores e monitores faltam na instituição. Dados da Secretaria de Gestão, responsável pelas nomeações, apontam 5.877 professores no cadastro de concursados. A rede conta com cerca de 4 mil professores.
Na próxima terça-feira, vereadores ligados à Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude se reunirão com o secretário de Educação, Adriano Naves de Brito, para discutir a questão da falta de professores municipais na Capital.