Piquetchê do DG
Desfile Farroupilha reúne tradicionalistas do extremo sul da Capital
Longe do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, moradores da Zona Sul comemoram os festejos farroupilhas bem pertinho de suas raízes: o campo
O ressoar dos sinos e o galope dos cavalos formaram uma única sinfonia na manhã deste domingo no Bairro Belém Novo, em Porto Alegre. Já passava das 10h quando a Avenida Heitor Viêira ficou lotada para acompanhar duas celebrações tradicionais na região: o desfile farroupilha e a festa da padroeira, Nossa Senhora do Belém.
Ambos os festejos ocorrem no segundo domingo do mês de setembro e reúnem centenas de moradores da zona sul da Capital. Desde 2005, uma lei municipal inseriu o desfile do Extremo Sul no calendário oficial _ coincidindo com a festa da santa.
_ É para abençoar o nosso desfile! _ garante João Ismael Fagundes Vieira, patrão do CTG Nena Barulho, idealizador do evento.
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Organizado em conjunto com o CTG Piquete da Amizade, o cortejo tem a participação de 300 a 400 cavaleiros de dezenas de piquetes e hospedarias da região, além de contar com o apoio do Núcleo Comunitário e Cultural, de grupos de escoteiros e moradores do bairro.
_ O que a gente quer é agregar a comunidade na nossa cultura gaúcha _ admite Antonio Maidana, 58 anos, patrão do Piquete da Amizade, que há 49 anos monta um galpão na praça para receber a Chama Crioula durante a Semana Farroupilha.
A Zona Sul é a região com maior concentração de cabanhas da cidade. Por isso, para os tradicionalistas, o desfile é uma oportunidade para reunir os cavaleiros que não conseguem ir ao Acampamento Farroupilha por conta das exigências para a entrada de animais no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho.
_ É muito boa essa integração, poder passar para os nossos filhos a cultura que recebemos dos nossos pais _ comenta Anderson Silveira, que levou a filha Giovana Chaves da Silveira, quatro anos, para a cavalgada.
Aqui cavalo entra!
Neste ano, o destino final dos cavaleiros foi a Cabanha da Figueira, uma hotelaria de cavalos no Lami. Pela primeira vez, o local abriu as portas para 15 piquetes durante o mês farroupilha e está realizando diversas atividades em comemoração aos festejos _ todas envolvendo cavalos: torneios de rédea e de laço, gineteada e prova do couro.
_ Aqui é diferente do Harmonia porque, para pôr o galpão (instalá-lo no local), tem que ter cavalo _ explica o proprietário, Cláudio Flores de Fraga.
A regras para a entrada e circulação de cavalos no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho contribuíram para que alguns tradicionalistas trocassem o agito do Acampamento Farroupilha pela calmaria daquele local. Como a procura foi alta, a pretensão de Cláudio é buscar o apoio da prefeitura para, já no próximo ano, transformar o local no Acampamento Farroupilha da Zona Sul. A ideia também é inserir mais atrações culturais tradicionalistas na programação.
_ É muito melhor, pois temos espaço para os cavalos. O Harmonia não é igual antigamente, se transformou em um comércio. E isso, para nós, tradicionalistas, não serve _ analisa Leco Pereira, patrão do piquete Aporreados do Sul.
Além de um bom espaço de convivência, o lugar também tem sido muito útil para que os gauchinhos possam treinar laço e participar dos torneios. Gabriel, quatro anos, o mascote do piquete, é um dos meninos que participa das oficinas de laço oferecidos por Leco na Comunidade Rincão da Lagoa.
Restrição afasta tradicionalistas
A reportagem conversou com tradicionalistas no desfile e no acampamento da Zona Sul e também no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. Muitos deles reclamam que as regras para a entrada de animais no Acampamento Farroupilha são excessivas e que as exigências são difíceis de serem atendidas _ a maioria citou os gastos com vacinas como o principal entrave.
As regras partem tanto da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul, em relação aos requisitos sanitários para a participação de animais em eventos do tipo, quanto do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), que cuida da organização e é responsável por fazer valer as exigências.
De acordo com a médica veterinária da Inspetoria de Defesa Agropecuária de Porto Alegre Simone Cattelan, para entrar no parque, é necessário que equinos e aves portem a Guia de Trânsito Animal (GTA) com local de origem e carteira de vacinação atualizada. Os equinos ainda devem apresentar exames negativos para anemia e mormo e vacina contra influenza. Já as aves precisam ser vacinadas contra doenças de Newcastle e Marek (específicas desses animais) e apresentar exames de salmonerose, além de atestado sanitário emitido por médico veterinário.
No ano passado, a entrada de aves foi proibida no Acampamento Farroupilha por conta do surto de gripe aviária no Estado. Neste ano, o regulamento emitido pelo MTG restringe apenas a circulação de cavalos no parque. Só os cavalarianos da Chama Crioula estão liberados a andar pelo local. Mesmo assim, somente até o Galpão Central, durante a semana, até as 12h, e nos sábados, domingos e feriados até a fazendinha, mediante agendamento prévio com a 1ª Região Tradicionalista.