Educação
Comunidade luta por escola ameaçada pela falta d'água em Viamão
Instituição não tem água potável disponível. Caminhão-pipa da prefeitura, que estava estragado, voltou a funcionar
A comunidade do bairro Itapuã, em Viamão, luta pela continuidade do funcionamento da Escola Municipal de Ensino Fundamental Podalirio Oliveira Fraga, localizada na Estrada do Gravatá. Na segunda-feira desta semana, pais e familiares de alunos ficaram assustados com a informação de que os 26 alunos teriam, a partir do dia seguinte, que estudar em outra instituição, a Escola Municipal Felisberto da Costa Nunes, a 12 quilômetros da Podalirio. O motivo: a falta de um caminhão-pipa da prefeitura, já que a escola não tem água potável disponível.
Na terça-feira, grande parte dos alunos não teve aulas, pois não se dirigiu à nova escola. Na manhã de ontem, a prefeitura voltou atrás e reabriu o local, com o argumento de que teria arrumado o veículo.
A escola, que existe há 56 anos, não recebe água encanada e depende de um caminhão da prefeitura para matar a sede dos alunos, de duas professoras e de três funcionárias. Para a limpeza e banheiro, o local tem um poço artesiano, mas a água não é recomendada para ser bebida. Mãe de Débora Kenne Monteiro, estudante do 5º ano do colégio, a dona de casa Retiele Toleto, 28 anos, está aflita com a situação:
– A gente acredita que querem fechar a nossa escola. Não é a primeira vez que tentam encontrar um motivo, e agora usaram a água, que é um argumento forte. Uma escola sem água não pode funcionar. Mas a gente pode se unir, comprar água e as aulas continuarem.
Cidadãos
Em 2019, Débora precisa ir para outra instituição, já que a escola vai até o 5° ano do Ensino Fundamental. Mesmo com a mudança, a mãe luta pelo local onde a filha aprendeu a ler e a escrever:
– Estamos tristes, eu não queria que minha filha saísse dessa escola. Eu amo esse colégio e não vou desistir dele e deixar fechar. Eu tenho o maior orgulho dessas crianças, que aprenderam muito mais do que conteúdo, aprenderam a ser cidadãos aqui.
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A dona de casa e presidente do Círculo de Pais e Mestres (CPM) Solange Santos Machado, 36 anos, também defende a permanência da escola, onde estuda sua filha de nove anos.
– Não tem cabimento fazer essa transferência no final do ano letivo – considera.
Procurada pela reportagem, a prefeitura de Viamão não se manifestou sobre o assunto até o fechamento desta edição.
Lembra da banda de lata?
A Podalírio é unanimidade entre os pais ouvidos pela reportagem pela qualidade do atendimento oferecido às crianças.
Entre as atividades desenvolvidas pela escola estão a feira de ciências, a horta, o cultivo de chás e a banda de lata – uma banda marcial que usa resíduos recicláveis no lugar de instrumentos, mostrada em reportagem pelo Diário Gaúcho em 2014, com grande repercussão.
– Minha filha ama a banda de lata. Ela chega em casa toda animada me contando dos ensaios e das apresentações – conta Retiele.
Corsan analisa viabilidade de rede
Na Estrada do Gravatá, que tem 5,6 quilômetros de extensão, mais de 30 famílias não possuem água encanada em casa. Segundo o perito criminal aposentado João Alberto Weingaertner, 71 anos, o encanamento da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) está a 1,5 quilômetros da escola e a 100 metros da primeira casa da estrada. João, que mora há 40 anos na frente da escola, luta pelos moradores. O perito mostra, ainda, um abaixo-assinado feito pela comunidade. No total, são 26 assinaturas.
– A gente está tentando colocar água encanada aqui há muito tempo. Não adianta fazer poço artesiano, porque a água é salobra ou está muito no fundo. Meu poço tem 46 metros e a água é rala – conta o morador.
A Corsan, em nota, explica que "a referida escola fica em área rural, portanto, não atendida pela Corsan". Um pedido da prefeitura, para que seja levada água da Companhia até a escola, está "em análise de viabilidade".