Talento e solidariedade
Patinadora de Alvorada que acumula títulos vai dar aulas para crianças carentes
Juliana Fucilini tem apenas 14 anos e já viajou ao Exterior para competições
Sob fortes aplausos e com público em pé. Assim, Juliana Fucilini, 14 anos, foi recebida no Ginásio Municipal de Alvorada, que lhe serviu de espaço para treinamentos entre 2016 e 2017. A menina é uma promessa da patinação artística. Moradora do bairro Sumaré, a alvoradense já acumula títulos nacionais, como o Campeonato Brasileiro de 2017, e internacionais, como a Copa Mercosul deste ano. Voltou ao ginásio nesta sexta-feira (23) para uma apresentação na abertura da 1ª Copa Viva de Câmbio – uma espécie de vôlei adaptado para terceira idade.
Juliana patina desde os cinco anos, quando começou a ter aulas do esporte em uma escola particular de Alvorada. Ao se destacar na escolinha, foi convidada para treinar em Porto Alegre e representar sua escola de patinação em competições. Agora, pretende, junto da mãe, a cerimonialista Giselen Lopes Vargas, 42 anos, alavancar um projeto social para que crianças carentes de Alvorada também possam aprender a patinar. O local das aulas será o ginásio onde Juliana treinou. Atualmente, ela já ensina nove meninas, mas com auxílio da prefeitura pretende ampliar a ação.
– Queremos que quem não tem condições também possa praticar um esporte tão bonito como a patinação. O processo de criação formal do projeto, com CNPJ e tudo, já está em andamento. O lançamento oficial deve ocorrer no ano que vem – explica a cerimonialista.
Segundo o secretário de Esporte, Cultura e Juventude de Alvorada, Alcides Bolico, cerca de 3 mil pessoas utilizam o ginásio da cidade semanalmente. Além de competições, são ministradas aulas gratuitas de futsal, vôlei e balé, assim como oficinas de caminhada e ginástica, entre outras ações. Alcides relata que o município está ansioso para que o projeto de Juliana seja um sucesso:
– Temos certeza de que a comunidade vai abraçar a ideia.
Escolha
Mesmo tendo uma carreira com vários títulos já conquistados, Giselen recorda que a filha quase precisou desistir do esporte. Cerca de quatro anos atrás, o orçamento da família apertou. Surgiu na história o professor de educação física José Leandro Vinade. Ele é um dos responsáveis pela administração do Ginásio Municipal de Alvorada e auxiliou na ação que abriu o espaço para que Juliana treinasse no local durante mais de um ano – além disso, a jovem passou a estudar na rede pública da cidade.
– A gente faz o que pode, e vale muito a pena. Hoje, fico emocionado vendo tudo o que ela está conquistando – reconhece José Leandro.
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Para atingir o nível exigido para competições, Juliana conta que a rotina de treinos é intensa. Na época em que usou o espaço do Ginásio Municipal para os treinamentos, frequentava o local de manhã e à noite. No período da tarde, ia à escola. Neste ano, diminuiu o ritmo, mas chegou a fazer treinamentos musculares em uma academia.
– Estava bastante puxado, então comecei a treinar somente à noite. Cheguei a fazer academia para aumentar minha resistência, mas agora estou focada somente na escola e nos treinos de patinação – conta a jovem.
Desafios para ir ao Exterior
Para o próximo ano, o objetivo de Juliana é conseguir competir na categoria individual do campeonato pan-americano. Neste ano, ela já participou da competição, que aconteceu na Colômbia, mas na modalidade de equipes. Para competir individualmente, ela projeta ficar entre as três melhores colocadas do Campeonato Brasileiro de 2019, que ocorre em abril. Isso lhe dará a oportunidade de ser convocada para representar o Brasil na competição internacional.
– Quero dar o meu melhor e competir na categoria individual – explica Juliana.
Os atletas de esportes menos populares entre os brasileiros vivem desafios diários. No caso de Juliana, não é diferente. Ela conta que, para competir no pan-americano da Colômbia, precisou organizar diversas ações. A patinadora vendeu rifas, organizou jantares beneficentes e buscou auxílio em empresas e entidades da cidade onde mora. Giselen conta que ela e a filha foram até pedir dinheiro nos semáforos da cidade.
– Sempre dependemos desse esforço próprio. O apoio espontâneo é mais difícil de ser conquistado, já que não é um esporte tão popular – conta Juliana.
No fim das contas, todo o esforço para ir até a competição na Colômbia obteve resultados. Junto de sua equipe, a guria de Alvorada conquistou o terceiro lugar na categoria juvenil.