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Vizinhança animal

Em bairro de Guaíba, moradores dividem espaço com jacarés

Os jacarés-de-papo-amarelo vivem em valo do bairro Santa Rita e já são conhecidos pelos moradores. Vizinhos garantem não ter medo e dizem que a relação é respeitosa dos dois lados

21/05/2019 - 17h30min

Atualizada em: 21/05/2019 - 17h37min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Se você está pensando em morar no bairro Santa Rita, em Guaíba, saiba que a vizinhança é peculiar. Entre pássaros e tartarugas, jacarés-de-papo-amarelo chamam a atenção no valo que corta uma das principais avenidas da região. Para os moradores, a presença deles já se tornou comum. Ainda assim, sempre que um dos "amigos da vizinhança" está tomando sol, um grupo se junta para ver e fotografar a cena. 

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A reportagem foi ao bairro para conferir a situação. Em menos de cinco minutos, os moradores já apontaram um exemplar da espécie, que aproveitava o sol nas margens do valo. Aparentemente bem alimentado e com mais de 1 metro, o primeiro jacaré avistado "era pequeno", garantem os moradores. 

— Tem um bem maior, que aparece de vez em quando. Mas, são tranquilos, nunca tivemos problemas com eles. As crianças adoram vê-los por aí — garante o mecânico de metais Abrelino Pascoal, 54 anos.

O local não é limpo, com cheiro forte de resíduos em alguns pontos. Porém, isso parece não incomodar os répteis. O vendedor Patrick Fernando Araújo, 39 anos, diz que eles permanecem por ali pois a vizinhança cuida e, por vezes, até alimenta os animais. 

— Moro há muitos anos aqui e nunca vi eles atacarem alguém — recorda Patrick.

Sem medo

A distância entre a margem do valo e a rua é considerável. A água fica cerca de três metros abaixo do nível da via. Apesar de aparentemente serem capazes de subir até a pista, os animais não costumam fazer isso. 

— Só em épocas de cheia, quando o nível do valo fica alto, um ou outro sai da margem e vem para avenida — conta Marcelo Souza dos Santos, 37 anos, dono de uma lavagem na via onde fica o córrego. 

Proprietário de uma lancheria na mesma avenida, Olavo Moraes, 55 anos, conta que já presenciou a "prisão" de um jacaré, há cerca de 15 anos. Segundo ele, alguns moradores usaram uma corda para laçar e prender um dos animais, o primeiro que apareceu na região. A comunidade chamou o patrulhamento ambiental da Brigada Militar. 

— A polícia veio e recolheu, mas não sei para onde levaram — recorda Olavo.

Número incerto

Afora este caso, o morador, que vive há mais de 20 anos no bairro, garante que os jacarés nunca representaram perigo. A relação de boa vizinhança entre os animais e a comunidade é evidente nos relatos. Todos falam com bom-humor sobre a situação. À reportagem, ninguém sequer sugeriu a retirada dos jacarés ou reclamou da presença deles.

— Eu digo que são nossos inquilinos. Nunca vi eles sendo agressivos, já até fazem parte da nossa rotina — garante a funcionária pública aposentada Eva Aires, 62 anos.

Moradora do bairro há 40 anos, Eva demonstra a confiança nos animais cruzando uma das diversas pontes de madeira improvisadas sobre o córrego. O medo de cair numa água com número incerto de jacarés nem parece lhe incomodar. Aliás, a reportagem encontrou dois exemplares durante a visita. Os moradores garantem que são mais, os relatos variam entre três e dez. 

"São tradição no bairro", diz secretário

Conforme o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Guaíba, Selito Carboni, os jacarés-de-papo-amarelo são tradicionais no bairro. Ele diz que a aparição ocorre porque o valo que passa pela comunidade tem ligação com o Rio Guaíba. 

— As pessoas não sabem o número exato, porque são vários. E eles vão e voltam, então não temos como remover. Se tirar num dia, depois tem outro, pois eles fazem esse caminho pelo Guaíba — explica o secretário.

Além disso, Selito garante que, como nunca houve relatos de acidentes, a comunidade se acostumou com a presença dos animais. O secretário reforça apenas a indicação de que a população não se aproxime nunca dos jacarés. O único animal recolhido é o citado pelo morador Olavo.

— Esse foi o primeiro que apareceu, por isso gerou espanto. Mas, depois as pessoas viram que era normal — explica o secretário.

"Se adaptam facilmente", diz biólogo

A presença dos jacarés no valo do bairro Santa Rita não é um fenômeno incomum. Segundo o biólogo Jackson Müller, a espécie papo-amarelo é muito comum em todo o Rio Grande do Sul. Ele diz que os animais que conseguem se mover por grandes distâncias em busca de alimento. E, depois de encontrarem um local, tem facilidade em se adaptar a ele. Ainda conforme o biólogo, a água poluída não prejudica os jacarés, pois eles respiram fora da água. 

— Se as pessoas ainda dão comida, o que não é indicado, aí mesmo que eles vão continuar voltando. Entretanto, é importante ressaltar que os jacarés são silvestres, agressivos por natureza. Se sentirem ameaçados, eles podem atacar. É melhor sempre manter-se distante — adverte Jackson.

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