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Retratos do desperdício

Três obras paradas deixam mais de 500 crianças sem creche na Capital e em Guaíba

Juntas, as creches inacabadas já receberam R$ 2,7 milhões

03/07/2019 - 11h19min

Atualizada em: 03/07/2019 - 12h56min


Jeniffer Gularte
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Omar Freitas / Agencia RBS
As três obras não têm prazo para serem concluídas

Enquanto famílias aguardam pela oportunidade de suas crianças frequentarem uma creche pública, obras de escolas de Educação Infantil paradas proliferam pela Capital e Região Metropolitana. Duas delas estão em Porto Alegre e uma em Guaíba, e somam-se às 20 obras paradas reveladas pelo DG em reportagem em maio. 

As duas edificações inacabadas da Capital tiveram as obras paradas em 2015, com 60% do trabalho feito. A construção interrompida em Guaíba parou com 25% da obra pronta, em novembro de 2018. Juntas, as três obras, que deveriam atender a 511 crianças, já receberam investimentos de R$ 2.722.898,96. 

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Na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Jardim Leopoldina, na Capital, a empreiteira desistiu da obra pois a Secretaria Municipal de Educação (Smed) não aprovou um aditivo no contrato. Já na Emei Raul Cauduro, a empresa deixou de cumprir prazos e houve rescisão. 

Omar Freitas / Agencia RBS
Emei Raul Cauduro, na Capital, está com 60% da obra concluída

Onde: Rua Maria Feoli Guaragna, no Bairro Mario Quintana, na Capital
Estágio da obra: 60% concluída
Quando parou: 2015
Capacidade de atendimento: 166 crianças
Valor já investido: R$ 1.172.493,11
Origem dos recursos: R$ 1.454.196,69 do FNDE e R$ 307.651,43 da prefeitura 

Em ambos os casos, a Smed afirma que tenta renegociar os convênios junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para garantir recursos para a conclusão das obras. Sem isso, não é possível dar previsão de retorno dos trabalhos. 

Sem recursos 

Em Guaíba, as duas empresas envolvidas na construção da Emei do bairro Noli abandonaram a obra, uma delas por atraso nos pagamentos. Segundo a prefeitura, não há previsão de continuidade, pois o FNDE emitiu uma determinação informando que não irá aportar recursos para obras que estejam menos de 50% prontas. 

O Ministério da Educação trabalha junto ao Ministério da Economia para conseguir mais recursos para o programa. 

Omar Freitas / Agencia RBS
Emei Jardim Leopoldina, em Porto Alegre, parou em 2015

Onde: Rua Irmã Teresilda Steffen, no Bairro Jardim Leopoldina, na Capital
Estágio da obra: 60% concluída
Quando parou: 2015
Capacidade de atendimento: 120 crianças
Valor já investido: R$ 698.208,32
Origem dos recursos: R$ 1,5 milhão do FNDE

Famílias indignadas

A recicladora Alessandra da Silva Cardoso, 29 anos, vive em frente à obra parada da Emei Raul Cauduro, do bairro Mario Quintana, e não se conforma. Tem dois filhos: Isabele, sete meses, e Vitória, dois anos, com quem divide esforços com a família para conseguir cuidar e trabalhar. A cunhada ajuda nos cuidados com a mais velha enquanto Alessandra faz a seleção de materiais recicláveis, ao mesmo tempo em que cuida a caçula: 

Omar Freitas / Agencia RBS
Alessandra lamenta não ter creche para Isabele

— É um desgosto ver essa obra, uma vergonha e um desrespeito com a gente. 

Segundo a Smed, a obra parou em 2015 com R$ 1,1 milhão já investidos. Alessandra já foi orientada a tentar uma vaga por meio de ação judicial aberta pela Defensoria Pública: 

— Acabei desistindo de ir atrás porque disseram que seria demorado e difícil de conseguir. Seria uma honra ter uma creche na frente de casa, só atravessar a rua. 

“É revoltante” 

A 39 quilômetros dali, no bairro Noli, em Guaíba, a aposentada Ana Lopes Dias, 64 anos, enfrenta problema parecido. 

Ela precisa cuidar do neto Luca, 11 meses, para que o filho e a nora possam trabalhar. Os cuidados com o bebê ficam divididos entre ela, a nora e a avó materna. 

Enquanto isso, a meia quadra de casa, a obra de uma creche que deveria atender a 225 crianças, na qual já foram investidos R$ 852 mil, está abandonada: 

— É revoltante e triste ver esta situação. É horrível, é um dinheiro indo ralo abaixo — desabafa Ana. 

Omar Freitas / Agencia RBS
Emei do bairro Noli, em Guaíba, tem capacidade para 225 alunos

Onde: Rua C, bairro Noli, em Guaíba
Estágio da obra: 25% concluída
Quando parou: novembro de 2018
Capacidade de atendimento: 225 vagas
Valor já investido: R$ 852.197,53
Origem dos recursos: R$ 1.492.930,41 do FNDE 

 



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