Porto Alegre
Programa do Sine que oferece qualificação para pessoas em situação de rua forma primeira turma
Quem completou os cursos também teve a oportunidade de participar de entrevistas de emprego
Não será por falta de esforço que os participantes do Consciência Sine vão deixar de conseguir um emprego. Iniciado em julho, o programa desenvolvido pelo Sine Municipal de Porto Alegre formou sua primeira turma nesta quinta-feira (5). E entre os 64 moradores de rua ou albergados que se dedicaram aos estudos na Escola do Trabalhador — espaço do Sine dedicado ao aprendizado profissionalizante — boa parte recebeu mais de um certificado. O Diário Gaúcho acompanhou o início dos trabalhos, retratado em uma reportagem publicada em 18 julho.
Entretanto, como não basta a qualificação, junto à formatura, o Sine convidou empresas parceiras que pudessem atender aos candidatos e possibilitar a reinserção deles no mercado de trabalho. Assim, no evento realizado na sede da instituição, no Centro Histórico, depois de receberem seus certificados, os recém-formados foram encaminhados para as entrevistas de emprego. Segundo o Sine, seis instituições parceiras se habilitaram a conversar com os moradores de rua. Dentre elas, a maioria era voltada ao ramo de serviços que costumam ser terceirizados, como limpeza, segurança e portaria.
Parceria
O projeto é fruto de uma parceria do Sine com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Esporte (Smdse). A Diretoria de Direitos Humanos da pasta encaminhava as pessoas de albergues, centros de referência ou frequentadores do almoço oferecido diariamente no Ginásio Tesourinha para os cursos. As opções oferecidas aos candidatos foram ministradas por profissionais da Universidade de Brasília (UnB), por meio da modalidade de ensino a distância. Titular da Smdse, a secretária Nádia Gerhard ressaltou a importância do trabalho feito pelo Sine.
— Eu sei que todos que estão aqui não querem nada de graça. Por isso, vamos seguir com esse esforço para gerar oportunidades para vocês. O que dignifica o homem e a mulher é o trabalho.
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Mesmo que a conclusão oficial tenha sido na quinta, durante os meses de curso, muitos dos candidatos resolveram aproveitar as visitas diárias ao Sine para se candidatar às vagas que já estão disponíveis diariamente no local. Por isso, conforme o coordenador do Consciência Sine, Paulo Diego Pinheiro, seis pessoas em situação de vulnerabilidade social já conseguiram ocupar um posto de trabalho.
Um destes é Luís Miguel de Jesus Vilodre, 36 anos. Vivendo de passagem em albergues da Capital, Luís estava há mais de dois anos sem conseguir um emprego formal. Quando descobriu os cursos do Sine, resolveu absorver o aprendizado e tentar se reinserir no mercado.
— Retirei meus dois certificados hoje. Fiz os cursos de cuidador de idosos e de espanhol aplicado ao trabalho. E já consegui um contrato temporário como segurança no Parque Harmonia, durante a Semana Farroupilha.
Coleção de diplomas para Carlos
Entre os formados que receberam os certificados ontem, algumas histórias chamam atenção. O albergado Carlos Leandro Ferreira, 48 anos, por exemplo, dedicou-se tanto aos estudos que, entre julho e setembro, concluiu oito cursos. E não é só isso, ele tem mais quatro que deve concluir em breve. Carlos foi o recordista de certificados conquistados entre os alunos da turma que se formou ontem no Sine Municipal.
Mesmo com o sorriso estampado pelo conhecimento adquirido, ele está preocupado com os cinco anos sem conseguir um emprego formal. Fez entrevistas com todas as empresas que participam do evento de empregabilidade desta quinta-feira. A maior experiência que possui é como garçom, campo no qual tem domínio sobre modos de servir e conhecimento de vinhos e espumantes.
— No momento, o importante é que esses cursos me ajudem a conquistar uma oportunidade. Todo o aprendizado que tive nesse tempo de estudo me proporcionou ver um novo caminho para a vida — conta Carlos.
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Desejo
Faz mais de 20 anos que Rogério Luís da Silva Martins, 50 anos, vive entre a rua e os albergues. Agora, quer tentar um emprego formal, pois os bicos não estão mais ajudando tanto no orçamento. Durante o tempo de Consciência Sine, ele concluiu quatro cursos, entre eles, os de agenciamento de viagens e de agente comunitário de saúde.
— Foram duas áreas que me despertaram muito interesse. Sempre obtive muito auxílio das pessoas dos centros de assistência social. Se eu conseguisse entrar nesse campo como agente comunitário, ia ser uma forma de devolver toda a atenção que sempre recebi — projeta Rogério.