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Do violão ao violino

Pessoas em situação de vulnerabilidade social recebem aulas de música em Porto Alegre

Albergados e adultos em situação de rua têm aulas gratuitas de violino, violão e percussão no Centro Ilê Mulher, no bairro Floresta. No total, são cerca de 90 atendimentos ao dia

05/11/2019 - 05h00min


Alberi Neto
Alberi Neto
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André Ávila / Agencia RBS
Violino, violão e percussão são alguns dos instrumentos utilizados pelos alunos

Duas vezes por semana, numa sala da Associação Cultural e Beneficente Ilê Mulher, reúnem-se membros de uma orquestra onde o som mais afinado deve ser o do sorriso dos participantes. Compartilhando o espaço no prédio do bairro Floresta, na região central de Porto Alegre, estes músicos são, na verdade, aprendizes guiados pelo violinista Roberto Mauro Oliveira. O músico ministra oficinas de música e rádio para pessoas em situação de vulnerabilidade social — albergados ou moradores de rua — há cerca de dois anos. 

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Estas pessoas procuram no Centro de Convivência e Fortalecimento de Vínculos um momento de lazer dentro do cotidiano pesado das ruas. E espairecer por meio da música é um dos trabalhos oferecidos no Ilê Mulher. Além das oficinas de violino, violão, teclado e percussão, os frequentadores podem escolher outras áreas. Entre estas, estão a dança, pintura, artes plásticas, capoeira e inclusão digital.

Assistente social que atua na coordenação do Ilê Mulher, Vanessa Ribeiro conta que a associação tem 19 anos de atuação voltada ao auxílio das mulheres vítimas de violência e da população adulta em situação de rua. O trabalho no bairro Floresta faz parte de uma parceria relacionada com as políticas públicas da Capital, sob coordenação da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc).

— Temos foco em dar protagonismo social e fortalecer a convivência destas pessoas. Damos oportunidades para que elas aprendam aqui e tenham condições, caso queiram, de deixar a situação de vulnerabilidade — explica Vanessa, ressaltando que a opção de estar na rua também é um direito.

Encontro

Querendo ou não o ambiente incerto da falta de um teto, o certo é que, quando frequentam as oficinas, os alunos deixam de lado os problemas e buscam manter a sinfonia das risadas acima do tom das preocupações. A reportagem acompanhou um dos encontros ministrados por Roberto e pelo professor de violão Diogo Domingos. Os participantes chegam e escolhem os instrumentos com os quais têm mais afinidade. Tomam um assento e põem-se a tocar, como quando uma criança que acessa pela primeira vez um brinquedo novo. 

Para ouvidos desatentos, é uma epopeia de sons desencontrados que chegam a causar um desconforto de início. Porém, em poucos minutos, o som vai se alinhando, um seguindo a música do outro. Ao pé do ouvido e com ajustes dos movimentos de cada um, Roberto e Diogo vão dando o norte que coloca todos sob a mesma nota. Logo, orquestrados, eles tocam todos a mesma melodia, como numa boa roda de música. 

— O que eu quero é que todo mundo passe duas horas aqui e saia se sentindo leve, sorrindo — deseja Roberto.

Sempre aprendendo

Antes de conhecer a oficina de música, cinco meses atrás, Itamaragiba Oliveira, 55 anos, não tinha acesso a um violão havia mais de 30 anos. Albergado no bairro Floresta, ele conta que passou por problemas pessoais que o levaram à situação de rua. Encontrou na associação um momento de respiro, ainda mais quando pôde novamente encontrar o instrumento que era amigo de longa data.

— Só aqui tenho acesso ao violão, então é um momento em que possa relaxar, aprender mais e tocar minhas músicas — comemora ele.

Maria Edilamar Silva Flores e Geison Soares dos Santos, ambos de 43 anos, preferem o instrumento que é domínio do professor Roberto. Empunhando os violinos, os dois praticam em busca o domínio da difícil arte que é extrair sons harmonizados das cordas.

— É um acesso raro que temos à cultura e à arte. São elementos que não costumam fazer parte da nossa realidade — conta Geison. 

Maria conta que está há mais de três anos frequentando o espaço e, desde o início das aulas de música, vem ao local. Para ela, o violino é uma paixão. Mas, além da prática musical, também é uma das apresentadoras do programa A Rua Como Ela É, feito por alunos da oficina de rádio coordenada por Roberto e disponibilizado na rádio online da associação Ilê Mulher. 

O serviço

/// O Centro Ilê Mulher fica na Rua Santo Antônio, 64, bairro Floresta.
/// O atendimento no local é feito por agentes da associação Ilê Mulher, conveniada à Fasc.
/// As pessoas em situação de vulnerabilidade social são encaminhadas para o local por meio dos serviços de assistência social do município, como CRAS e Centros POP.

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