Iniciativa
Resultado de oficinas de arte, obras feitas por crianças que vivem em abrigo da FASC vão participar de exposição
Alguns dos pequenos artistas vão entregar quadros para autoridades na abertura do evento, nesta terça-feira
Chão forrado de papel pardo, quadros pendurados nas paredes, pincéis e telas ao alcance das mãos e tintas de várias cores à disposição, basta pedir. Crianças e adolescentes de diferentes idades expressam sua criatividade neste ambiente, montado uma vez por semana no Abrigo Residencial 7 (AR7), da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), na Capital. As oficinas, que ocorrem desde junho e devem seguir até janeiro de 2020, fazem parte do projeto Artinclusão, coordenado pelo artista plástico Aloizio Pedersen.
A partir desta terça-feira (11), será realizada mais uma etapa do projeto: telas pintadas pelos pequenos artistas serão exibidas em uma exposição, no Paço Municipal. Às 17h, haverá uma solenidade de abertura oficial da mostra, e um grupo de crianças participantes do projeto fará a entrega de telas a autoridades presentes.
— É um jeito de valorizar os trabalhos deles, é muito importante: fazer algo, presentar alguém, ter sua obra exposta — diz Jeanne Luz, coordenadora do abrigo.
Sustentação
O AR7 é uma porta de entrada. Recebe crianças que foram retiradas das mais diversas situações de vulnerabilidade. Elas ficam no local, geralmente, até que seus futuros sejam decididos: voltar para suas famílias, encontrar um novo lar ou seguir para outro abrigo, em definitivo. Atualmente, são 45 assistidos, entre meninas (até 18 anos) e meninos (até os 14 anos). Neste contexto, a arte serve de sustentação, como explica Aloizio:
— Aqui, eles têm liberdade, visibilidade. Por meio da arte, eles vão lembrar que são aceitos. Poderão exibir suas obras. A arte tem o poder de ressignificar emoções e sentimentos.
No dia da visita da reportagem, a aula ficou cheia de pequenos artistas de várias idades. Alguns ficavam quietos, concentrados em finalizar suas obras. Um deles era L., 10 anos. No início do projeto, o pequeno não conseguia encontrar concentração suficiente para permanecer por muito tempo na sala da oficina. Agora, em poucos minutos, deitado no chão e alheio ao barulho constante, desenhou “um palhaço, uma cabeça cortada e um homem”.
— Minhas cores preferidas são vermelho e preto. Hoje, usei só vermelho — contou ele.
A., oito anos, fez questão de mostrar suas contribuições para obras coletivas expostas no local e de contar que desenha personagens do jogo de videogame Minecraft. Tudo isso sem soltar o pincel nem por um segundo. Na hora de demonstrar suas habilidades, de tão empolgado, pintou a frente e o verso da tela com a tinta preta.
Coordenadora do abrigo, Jeanne Luz também acredita no potencial transformador da arte.
– Muitas vezes, o que é oferecido nas oficinas não fazia parte do mundo deles antes de virem para o abrigo: arte, cultura, as cores. A arte faz com que eles tenham novos horizontes. Isso é de grande valia – afirma.
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Trajetórias de artistas são inspiração
Conhecer a vida e a obra de artistas consagrados também faz parte das atividades. A ideia é que a trajetória deles, que, muitas vezes, transformam seus sofrimentos em arte, inspire os pequenos a fazer o mesmo.
Na aula acompanhada pelo DG, as crianças assistiram a um vídeo sobre o norte-americano Jackson Pollock (1912 – 1956), que ficou conhecido por usar técnicas como o gotejamento (pingos de tinta), na qual o pincel não toca na tela.
— Prestem bastante atenção. Depois, nós vamos nos transformar nele. O que vocês estão vendo nas imagens? — questiona Aloizio, diante do olhar curioso da sua plateia.
— Eu vejo ele botando no quadro os sentimentos. Ele consegue mostrar pra todo mundo — responde a menina M., 15 anos.
A atividade realizada em seguida, em grupo, foi reproduzir a técnica de Pollock. Diante da tela multicolorida e pronta, M. diz, ao ser questionada sobre como se sente ao se expressar por meio da arte:
— Eu me sinto viva!