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Seu Problema é Nosso

Elisete, de Cachoeirinha, segue na luta por consulta com especialista em urologia

Ela aguarda desde 27 de junho de 2019 pela consulta médica

07/05/2020 - 19h01min


Arquivo pessoal / Arquivo pessoal
Faxineira sente-se perdendo a batalha

– Se eu piorar, não será porque não busquei ajuda, pois briguei muito e não consegui. Estou lutando com as armas que tenho, mas parece que não vou conseguir vencer.

É assim que a faxineira Elisete Ramires Ouriques, 60 anos, moradora do bairro Jardim Betânia, em Cachoerinha, define sua espera para consultar com um urologista: “batalha perdida”. Desde 27 de junho do ano passado, a idosa, que possui histórico de problemas renais e tem sofrido com fortes dores abdominais e incidência de sangue na urina, aguarda pelo atendimento com o especialista. 

Em novembro do ano passado, o DG contou o drama vivido por ela, que já aguardava havia quatro meses pela consulta, encaminhada com indicação de urgência devido ao risco iminente de insuficiência renal.

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Nove meses após o encaminhamento para a especialidade, em março deste ano, Elisete finalmente recebeu um retorno. O atendimento havia sido marcado para o dia 30 daquele mês, no Hospital da Restinga e Extremo-Sul (HRES), em Porto Alegre. Porém, dois dias antes da data prevista ela foi avisada do cancelamento da consulta, sob a justificativa de que a suspensão se dava em razão do coronavírus. Desde então, segue aguardando pelo reagendamento.

– Quando marcaram eu dei glória a Deus, mas no mesmo dia em que fui pegar o papel a moça já me disse que não sabia se não iriam cancelar, por conta da pandemia. Dito e feito. Não levou três dias e já cancelaram. Liguei para o hospital (da Restinga, onde a consulta deveria ocorrer) e não me deram nenhuma previsão de data, disseram que talvez só em junho. Chorei, fiquei arrasada – relembra Elisete. 

Complicações

Sem conseguir o atendimento de que precisa para receber um diagnóstico, Elisete convive diariamente com a incerteza sobre seu problema de saúde. Com crises de dor quase que semanais, ela não pode trabalhar e vê sua vida paralisada desde o dia em que começou a sentir os sintomas, há cerca de dois anos. 

A cada crise, procura a Unidade de Pronto Atendimento Moacyr Scliar, na Zona Norte da Capital, e o procedimento se repete: remédios para a dor, exames de urina e indicação para o uso de antibióticos, mas nada de saber o que de fato tem lhe causado o quadro clínico. 

– Estou há praticamente dois anos tomando antibióticos, me entupindo de remédios sem saber o que tenho. Me sinto insegura, porque não sei o que vai acontecer comigo. Se eu tivesse dinheiro, pagava por um hospital particular, porque meus direitos não estão sendo respeitados – desabafa a idosa. 

Diante da pandemia, Elisete afirma entender que alguns atendimentos não urgentes sejam suspensos. Contudo, questiona o critério de avaliação utilizado para que as consultas sejam canceladas. Ela, que já aguardava há nove meses pelo atendimento – indicado no encaminhamento como urgente –, teme que cada dia a mais de espera signifique o agravamento do seu problema de saúde – como o risco de que seus rins parem de funcionar, já apontado por médicos de seu posto de saúde. 

– Estou exigindo algo fundamental para mim, não estou pedindo besteiras. Só quero poder retomar a minha vida, porque agora estou limitada. Sinto que estou viva só por Deus, pois se dependesse do sistema já estaria morta – protesta Elisete.

Novo agendamento foi autorizado, diz SES

A Secretaria Estadual de Saúde (SES), responsável pela regulação de consultas especializadas, explicou que “o prestador Hospital da Restinga e Extremo-Sul cancelou inúmeros atendimentos, considerando o período de prevenção à covid-19”. 

Contatada pela reportagem, a Associação Hospitalar Vila Nova, que administra o Hospital da Restinga e Extremo-Sul, informou que Elisete não foi referenciada ao hospital com indicativo de urgência, mas sim como paciente eletiva – apesar de o encaminhamento emitido pela ESF Jardim Betânia, de Cachoeirinha, em 27 de junho de 2019 classificar o pedido como urgente. 

De acordo com a assessoria do hospital, o HRES permanece atendendo casos de urgência, inclusive na área de urologia, e todas as consultas transferidas serão reagendadas. 

Segundo a SES, a Central de Regulação Ambulatorial do Estado já emitiu autorização para a solicitação de um novo agendamento de consulta para Elisete. Contudo, não foi informada previsão para que haja uma nova data.

Produção: Camila Bengo

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