Na Capital
21 famílias seguem sem acordo para deixarem casas na Avenida Tronco
A obra no local prossegue, apesar do impasse com moradores que não aceitaram a compensação oferecida
Para quem vê o avanço das obras da Avenida Tronco, nem todas as notícias são boas. Oito anos depois do início das obras, ainda existem pouco mais de duas dezenas de famílias que não chegaram a um acordo com a prefeitura para deixar a região e abrir o espaço por onde a avenida deve passar. Ao longo dos anos, entre idas e vindas, as obras de duplicação da avenida na Zona Sul nunca chegaram ao real propósito: ser uma das entregas que deixariam a cidade preparada para a Copa do Mundo de 2014. A promessa atual, aliás, vai coincidir com a Copa de 2022.
Entretanto, para seguir os trabalhos e ter a garantia de conclui-los, a administração municipal ainda tem de lidar com 25 residências que estão em espaços pelos quais asfalto e concreto devem cruzar. O número reduziu bastante – na última atualização, em maio, eram 50 famílias em áreas da obra. Conforme o Departamento Municipal de Habitação (Demhab), das 25 casas que estão no caminho da obra, quatro já estão com negociações acertadas junto ao município. Estas devem receber o chamado Bônus Moradia — uma indenização para compra de uma nova casa em outro local.
O grande desafio do município está nas 21 famílias que ainda não fecharam qualquer tipo de acordo. Em todos estes casos, conforme a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade (Smim), existem ações na Justiça. Porém, com a pandemia do coronavírus, os prazos de julgamento dos processos ficaram indefinidos.
"Negociação injusta"
O Demhab afirma que as duas dezenas de moradores que ainda não chegaram a um consenso com o município "não querem sair do local nem aceitar o Bônus Moradia". Entretanto, quem ainda vive na área se defende. Desde valores baixos até a falta de diálogo, algumas das famílias afetadas pela obra alegam que a negociação é injusta.
O motorista aposentado Alpírio Pelegrini, 72 anos, vive na região da Avenida Tronco, na Vila Cruzeiro, há 32 anos. Assim como parte dos vizinhos próximos, ocupou uma área verde para moradia. Porém, depois de tantos anos no local, entrou na Justiça para obter o usucapião. Com o início das obras da Tronco, veio a notícia de que teria de deixar para trás a casa de dois pisos e 270 metros quadrados que divide com a esposa, a auxiliar de serviços gerais Adriana Oliveira da Silva, 45 anos, e outros familiares.
— Agora, estamos em quatro pessoas, mas já chegaram a ser sete. Sem contar os cinco cães e quatro gatos, que também são parte da família — diverte-se Alpírio.
Conforme o morador, no início das obras, técnicos chegaram a avaliar a residência e fazer uma oferta. Porém, o valor estava bem abaixo do custo de residências semelhantes na região.
— Eu saio da minha casa, mas saio se for para uma do mesmo tamanho, com as mesmas facilidades que tenho aqui, comércio próximo e várias linhas de ônibus, por exemplo. Não me interessa o dinheiro, me interessam ter as mesmas condições que eu construí nesses mais de 30 anos aqui — aponta Alpírio.
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Atualmente, a casa de Alpírio é uma das únicas que ainda está inteiramente dentro do traçado, no sentido bairro/Centro, no trechos 3 e 4 da obra. Olhando o cenário, chama atenção a via duplicada, até com corredor de ônibus, perder sua imponência, com o traçado interrompido pela grande casa de dois pisos no meio do caminho. E no que depende do morador, sua resistência ainda durará um bom tempo:
— Não adiantam as ameaças, processos ou ofertas de aluguel social, eu quero algo justo, pois estou aqui há muitos anos.
À espera da Justiça
No outro lado da pista, no sentido Centro/bairro e num trecho mais próximo do Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul, o Postão da Cruzeiro, a operadora de caixa desempregada Débora Gonçalves, 28 anos, passa por uma situação parecida com a de Alpírio. A prefeitura lhe fez uma oferta, mas com o avanço da negociação, reduziu o valor a ser pago na indenização. Descontente com a mudança, a família de Débora procurou a Defensoria Pública e ingressou na Justiça para pedir o valor prometido.
— Já tivemos duas decisões ao nosso favor, mas a prefeitura recorreu de novo. A última audiência seria em abril, mas a pandemia, estamos sem data definida.
Pelo traçado da obra, a casa inteira de Débora será demolida. Antes do desalinhamento da negociação, ela já estava procurando uma nova casa, olhou residências nos bairros Nonoai e Ponta Grossa, também na Zona Sul. Agora, não sabe qual caminho seguir. Assim como as obras da qual é vizinha, sua mudança tem sido adiada ano a ano.
Vizinho de Débora, o comerciante Adelino Gonçalves, 65 anos, está tranquilo com a continuidade das obras. Já há alguns anos ele conseguiu concluir a negociação e cedeu a parte de seu terreno por onde a Tronco precisa passar. Com os valores da negociação, pôde arrumar o prédio e manter sua pequena ferragem funcionando.
Ainda longe de conclusão
Conforme a Smim, atualmente, as obras da Tronco "estão em plena execução". Atualmente, estão sendo realizadas escavações e pavimentação das pistas e redes de drenagem, nos trechos 1 e 2, onde os trabalhos estão 38% concluídos. Nos trechos 3 e 4, são realizados serviços de terraplanagem para colocação da primeira camada de asfalto. Nestes trechos, o nível de conclusão é de 46%. O prazo contratual para entrega da obra é dezembro de 2022.
Vale lembrar que os trabalhos, que começaram em 2012 e pararam em outubro de 2016 por falta de recursos. Os serviços foram retomados novamente em junho de 2018 e foram suspensos em julho de 2019. Agora, a nova retomada foi em fevereiro deste ano e, por enquanto, os trabalhos seguem.