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Após rachaduras, Demhab pede vistoria total nos prédios para onde são transferidas famílias da Vila Nazaré

Departamento destaca que seguirá com mudanças para ampliação da pista do Salgado Filho somente depois de receber novo laudo técnico

12/10/2020 - 20h53min


Aline Custódio
Aline Custódio
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O Departamento Municipal de Habitação (Demhab) solicitou à Direcional Engenharia, construtora responsável pelo Loteamento Irmãos Maristas, um laudo técnico estrutural de todo o empreendimento, localizado na zona norte de Porto Alegre e para onde estão sendo levadas as famílias da Vila Nazaré, transferidas para ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho. 

Só depois desse laudo serão retomadas as transferências dos moradores restantes para o novo loteamento. Não há mudanças previstas para esta semana e, por isso, o departamento afirma que o cronograma não será alterado. As próximas 77 famílias a serem levadas dependem ainda da finalização de documentos. Em nota enviada a GZH, a empresa diz que não há risco estrutural (leia mais abaixo).

A exigência do Demhab ocorre depois que 60 pessoas foram retiradas às pressas pelo Corpo de Bombeiros do Bloco A, na quadra M do novo loteamento, na noite de sexta-feira (9). Foram constatadas rachaduras nas paredes e nos pisos. As famílias permaneceram na rua ou na casa de parentes até o dia seguinte, quando equipes técnicas da Caixa Econômica Federal e da Direcional estiveram no local e fizeram uma vistoria. Um engenheiro da construtora responsável, que é de Minas Gerais, foi enviado a Porto Alegre para tratar das questões que envolvem o empreendimento.

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Depois de uma primeira análise, a construtora afiançou que o prédio está seguro e não apresenta problemas estruturais. De acordo com o Demhab, que afirma ter recebido ofício da construtora, nos próximos dias, a empresa ainda fará vistorias em todos os apartamentos do loteamento Irmãos Maristas e encaminhará o laudo técnico exigido pelo departamento. Até 15h desta segunda-feira (12), a assessoria de imprensa da construtora, porém, não confirmou para a reportagem esta nova avaliação.

Enquanto isso, quem mora no prédio se sente inseguro em continuar no local. É o caso da auxiliar de produção Noeli Durão, 47 anos, que vive no edifício desde março, ao lado de um filho de 10 anos e da mãe de 73 anos. Na manhã desta segunda-feira (12), Noeli, que mora no térreo, apontava para uma rachadura no teto que estaria crescendo desde a semana passada. E foi por essa rachadura que ela garante ter visto, na tarde de domingo (11), a água jogada do andar de cima cair sobre ela no andar de baixo.

— Está impossível viver assim, sem termos certeza de verdade de que está tudo bem — desabafou.

No apartamento do andar acima de Noeli, a dona de casa Berenice de Fátima Bitencourte, 38 anos, grávida de sete meses, contou que viu a estante da sala balançar e o piso rachar, na noite de sexta-feira. A porta de entrada do apartamento já não fecha mais e, quando colocada para trás, volta imediatamente como se estivesse fora de prumo.

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— Colocamos a água na rachadura do piso para testar e ela foi parar no andar de baixo. Isso não me parece ser algo normal. Os técnicos vieram, olharam e disseram que está tudo bem. Mas estamos com medo de ficar em casa — comentou Berenice, que mora com o marido e dois filhos, de seis e 10 anos.

Moradores de outros prédios do mesmo loteamento também descreveram problemas estruturais, como rachaduras nos pisos e nas paredes dos apartamentos e dos corredores. A nota enviada pela Diferencial não explica as rachaduras apontadas pelos moradores.

Ao todo, 757 famílias que moravam na Vila Nazaré já estão vivendo no Loteamento Irmãos Maristas. Os prédios, que têm cinco andares e 20 apartamentos, foram construídos pelo programa Minha Casa Minha Vida, em condomínio que custou R$ 128 milhões. Cada unidade possui dois quartos, sala, cozinha e banheiro.

Na semana passada, outras 77 famílias assinaram o contrato com a Caixa para serem as próximas a mudarem de endereço. No total, 284 famílias ainda serão transferidas da Vila Nazaré para o loteamento.


O que diz a Direcional, em nota enviada na tarde desta segunda-feira (12)

"Equipes de assistência técnica, de engenharia da companhia e de consultores especializados em estruturas estiveram no condomínio nos últimos dias e constataram que não há e nem houve absolutamente nenhum problema estrutural que pudesse colocar em risco a segurança e a estabilidade da edificação. O que houve foi um desplacamento de cerâmicas no piso de uma das unidades residenciais, que gerou a sensação de “piso oco” em função da soltura em conjunto de peças cerâmicas. Também foram avaliados relatos e demandas dos moradores e concluiu-se que não há qualquer situação relacionada à estrutura da edificação. A companhia entende a preocupação dos moradores, mas ressalta que não há riscos. 

A companhia também mantém comunicação direta com as autoridades, que estão cientes e informadas a respeito da condição segura da edificação e da situação relacionada às cerâmicas no piso. As cerâmicas já foram retiradas. As causas do desplacamento estão em análise e, independentemente do resultado, a empresa vai promover os reparos que forem necessários. 

A empresa esclarece ainda que, desde quando o condomínio foi entregue aos moradores, no início deste ano, se mantém presente e inteiramente à disposição dos moradores, mantendo orientações sobre usos, instalações, conservação e manutenção de suas unidades e canais de atendimento a qualquer demanda. A companhia mantém, inclusive, posto de atendimento no condomínio com uma equipe de assistência técnica à disposição no local para rápido acesso pelos moradores. Todas as demandas têm sido devidamente acompanhadas e tratadas, assim como situações que precisam de maior esclarecimento técnico."

O que diz a Caixa Econômica Federal, em nota

"Em relação ao Residencial Irmãos Marista, contratado no âmbito do PMCMV (Programa Minha Casa Minha Vida) - Faixa I, a Caixa esclarece que, imediatamente após ser notificada pela Defesa Civil sobre a remoção das famílias de um dos blocos, encaminhou profissionais da equipe técnica ao local para avaliação. A construtora Direcional, responsável pelo empreendimento, também realizou vistoria no local e emitiu parecer técnico atestando a estabilidade estrutural. Foi verificado desplacamento de piso em uma das unidades e o problema está sendo solucionado pela construtora. A Defesa Civil já autorizou o retorno das famílias aos seus lares. A Caixa continuará acompanhando a situação do empreendimento, dando o suporte técnico necessário, para resguardar a segurança das famílias."


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