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Consciência negra

Professoras de escola pública de Viamão criam ação para apresentar a cultura negra aos alunos por meio da leitura

Ações fazem parte das aulas retomadas da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Loureiro da Silva

13/11/2020 - 05h00min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Jaqueline (E) e Caroline trazem novas visões ao ambiente escolar

Como forma de ressaltar a importância do Mês da Consciência Negra – que tem seu dia comemorado em 20 de novembro – três professoras de Viamão criaram um projeto de contação de histórias e apresentação de biografias de personalidades negras. Desde o início do mês, os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Loureiro da Silva, no bairro Sítios, têm recebido materiais especiais por meio dos grupos de WhatsApp. As salas virtuais foram criadas com a suspensão das aulas presenciais em função da pandemia. 

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Nos anos iniciais, as atividades se dão por meio das aulas remotas nos grupos, com a apresentação de histórias de livros que ressaltam a cultura negra na Hora do Conto, tradicional momento que escolas usam para incentivar a leitura e contação de histórias. Do 6º ao 9º ano, as professoras apresentam biografias de personalidades históricas da cultura africana, como Zumbi e Dandara dos Palmares, por exemplo. Para tornar o momento ainda mais representativo, as professoras se vestem como princesas africanas, uma forma de demonstrar também a existência dessas personalidades. Os conteúdos, em vídeo, estão sendo enviados uma vez por semana durante este mês.

Novas visões

As idealizadoras da ação, batizada como Realeza Africana, são as educadoras Caroline Dutra Henrique, 29 anos, Jaqueline Oliveira Machado, 32, e Kamila Ail da Costa, 32. Conforme as professoras, o projeto dá prosseguimento ao trabalho que a escola já executa há anos, agora, de forma remota. Em outras oportunidades, em períodos letivos anteriores, foram feitas ações como a confecção de abayomis – bonecas negras de pano –, valorização da estética negra, da representatividade e do pertencimento por meio da apresentação de biografias de personalidades negras e heróis da história africana, seja em saraus e feiras ou nas salas de aula. 

Arquivo Pessoal / Leitor/DG
A profe Kamila é uma das idealizadoras da iniciativa

– Através da linguagem lúdica e literária africana baseada na educação para o sensível, conseguimos demonstrar quem são os magníficos e resilientes heróis e heroínas negros de nossa história. E a partir dessa abordagem, implantar uma educação efetiva e antirracista baseada na valorização e, principalmente, no respeito ao outro em suas singularidades – pontua a professora Caroline.

Para a educadora Jaqueline, ler e mostrar aos alunos a literatura negra faz com que eles sintam identificação, pertencimento e representatividade, algo que, na avaliação da professora, é primordial:

– A criança negra precisa ver e saber que sua pele, seu cabelo e seus traços são belos e não precisam ser mudados. Ao perceberem-se retratados positivamente na literatura, há uma desconstrução e reconstrução da identidade negra.

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Uma das vantagens do projeto, na visão da professora Kamila, é a oportunidade de trazer novas visões para o ambiente escolar, tornando possível “oxigenar o espaço com temáticas que fazem diferença na construção da humanidade dos alunos e alunas”. Ações deste tipo, segundo ela, movimentam a estrutura pedagógica e dão o devido espaço na História aos personagens negros.

–  É dever básico de toda educação ensinar dentro da perspectiva dos direitos humanos, não apenas tratando de pautas tão importantes como o racismo, mas sendo efetivamente antirracista na prática cotidiana – aponta Kamila. 

De Zumbi a Lélia

Para apresentar aos alunos nomes relevantes, as educadoras fizeram um trabalho de pesquisa que resultou em dois caminhos. 

Aos alunos mais novos, os personagens são revelados por meio de livros infantis, como Princesas Negras, de Edileuza Penha de Souza e Ariane Celestino Meireles, ou Zum Zum Zumbiiiii, de Sônia Rosa. Aos estudantes das séries finais, do 6º ao 9º ano, as aulas consistem na apresentação direta da história de nomes como Zumbi dos Palmares, Luiz Gama, Milton Santos, Abdias do Nascimento e Lélia Gonzalez.

Além de proporcionar reconhecimento, identidade e a valorização sobre a cultura africana, o projeto expande o conhecimento. Isso torna possível aos estudantes se posicionarem diante de um de preconceito racial enraizado na sociedade e que, cada vez mais, é combatido.


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