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Realizando um sonho

Muito além do telhado: bailarina Marielly ganha uma casa nova no bairro Restinga

Menina de 16 anos pediu, em dezembro de 2019, ajuda para trocar o telhado da casa onde vive com a família, na zona sul da Capital, pois estrutura estava desabando. A solidariedade foi além. 

04/01/2021 - 12h20min


Mateus Bruxel / Agencia RBS
Alegria com a mãe e um dos irmãos

Sob um telhado novo, em um quarto todo reformado, a jovem dançarina Marielly da Cruz, 16 anos, já vive a realização de um sonho. Um telhado para proteger sua família era o desejo da estudante, que mora no bairro Restinga, na Capital. A obra foi realizada por meio de uma campanha solidária. 

No final de 2019, o DG mostrou a história da bailarina que, pela dança, expressou uma das necessidades mais urgentes do seu lar: um telhado novo. À época, ela não sabia que praticamente toda a estrutura da casa precisaria de reformas. 

Durante apresentação de sua coreografia solo na estreia da Cia FlashBlack, parte de um projeto social da prefeitura, em 4 de dezembro de 2019, Marielly narrava a situação da casa, onde mora com a mãe, três irmãos e um sobrinho: “Hoje eu moro em uma casa que o telhado está prestes a cair... Há pouco tempo, deu uma chuvarada em Porto Alegre, que alagou a minha casa e eu fiquei sem cama para dormir”.

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Omar Freitas / Agencia RBS
Fachada da casa mudou muito em relação a registro de 2019

Após o espetáculo, professoras e voluntárias se comoveram. Assim, surgiu uma campanha para a reconstrução do telhado. A obra já contemplou sala e quartos. Faltam a cozinha, o banheiro e mais uma peça.  

– Foi feito o telhado na parte da frente da casa, arrumaram uma das paredes, que estava caindo. Também colocaram forros na sala, no quarto da minha mãe e no meu. Ia ser só telhado, mas descobriram que havia muitas coisas para serem arrumadas – conta Marielly. 

De fato, conforme a professora aposentada Ana Araújo, 56 anos, diversas partes da casa foram reformadas para receber o telhado. Ana acompanha a obra desde o início, quando ainda coordenava uma das Escolas Preparatórias de Dança (EPDs), na Escola Alberto Pasqualini, que Marielly frequentava. 

Estrutura

A professora conta que uma das paredes do quarto de Marielly desabou quando o telhado antigo foi retirado. A casa tinha, ainda, problemas elétricos e hidráulicos. 

– Não dava para colocar um telhado novo em cima da estrutura que foi encontrada. A casa ia desabar. Chegamos ao valor de R$ 23 mil com a campanha, mas, quando o escritório de arquitetura nos mostrou uma proposta de reforma, o valor passava de R$ 60 mil. Aos poucos, conseguimos reformar a frente da casa – explica Ana. 

Segundo ela, doações de janelas, tintas, piso, forros e cimento foram de grande ajuda para que a casa estivesse com a primeira parte pronta no final de 2020. Mas as reservas da campanha estão terminando e, por isso, a vaquinha foi retomada. 

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Falta pouco para finalização das obras

Atraso

Devido à pandemia, a reforma começou apenas em outubro do ano passado. Segundo a mãe de Marielly, a cuidadora de idosos Joana D’arc Soares da Cruz, 52 anos, um temporal foi decisivo para o início da obra:

– Era um domingo, deu uma chuva forte e algumas telhas do meu quarto voaram, achei que tudo ia desabar. Foi quando resolvi que iria deixar a casa. 

Segundo ela, a campanha foi afetada pela pandemia, mas a reforma pôde começar. Hoje, ela fica contente pelo que já foi realizado: 

– Estamos felizes pelo que já temos, mas ansiosos por o que ainda tem por vir. Em 2019, não passei o Natal nem o Ano-Novo em casa. Desta vez, pudemos ficar aqui (em casa). 

Omar Freitas / Agencia RBS
Em 2019, chuva deixou bailarina sem cama

Joana: “Tijolos com ‘M’ de Marielly”

Com a mão na massa, a jovem esteve presente em várias etapas da reforma, desde a reunião com os arquitetos até a hora de colocar uma parede abaixo. Entre elas, a mais especial foi a pintura do seu quarto, feito com suas próprias mãos e criatividade: 

– Eu estou muito feliz. Meu quarto já tá pronto. Fiz até uma apresentação (de dança) do meu quatro novo. Ganhei cama, guarda-roupas e uma cômoda. 

Questionada se falta alguma coisa, ela diz:

– Na verdade, está tudo perfeito. Mas ainda quero ter uma penteadeira. 

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Agora, além de cama, ela ganhou outros móveis para o novo quarto, que ela mesma pintou

Sobre o sentimento de a reforma ter sido uma conquista que ela alcançou por meio da dança, Marielly não tem muitas palavras: 

– Tudo isso só me dá mais força para continuar. 

Conforme a professora Ana, o sonho delas é que Marielly integre uma companhia de dança internacional. E a jovem está no caminho para isso, a partir de bolsa em uma escola de dança e também na participação em outras seleções. 

Sem medo

A chuva que assustava a família já não é mais um problema. Uma das grandes etapas da obra foi o levantamento de nível da casa, aumentado em 30 centímetros. Assim, a água não entra mais quando a chuva alaga o pátio. Nem pelas telhas, que agora são novas. 

– Já deu tanta coisa certa até aqui que, reativando essa campanha, vamos dar atenção ao encanamento do esgoto e à finalização do banheiro – diz Joana. 

Mas o maior sentimento, segundo a mãe da dançarina, é reerguer o lugar deixado por seus pais:

– Independentemente de eu e minha família estarmos em uma casa mais segura, estamos reconstruindo um império que minha mãe e meu pai deixaram. Cada tijolo dessa casa tem uma história. E, agora, tem os tijolos com “M” de Marielly que contam essa conquista. 

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Com fé na dança

Diversos outros sonhos pela frente

Envolvidas em ajudar a família da dançarina, seis mulheres, professoras e voluntárias, participaram ativamente do Grupo do Telhado, como a professora Ana chama. 

– A gente quer que, até o final de janeiro, consigamos terminar a obra. Como tivemos essa aceitação, conseguimos fazer mais do que nos propusemos a fazer no início. Mas, agora, vemos que o telhado era só um detalhe. Havia outros problemas, como de eletricidade, esgoto, e conseguimos ir muito além. Com brechós, a campanha e também um sarau. Esperamos que, com mais R$ 7 mil, consigamos dar o conforto que falta para a família de Marielly – detalha Ana. 

Entre as apoiadoras da campanha, a psicopedagoga Verônica Alfonsin, 55 anos, integrante do grupo Amigas da Poesia, também viu de perto a evolução da obra a partir do sonho de Marielly:

– É inacreditável, havia tantos entraves, foram várias etapas para chegar até aqui. Para nós é uma maravilha sabermos que não estamos sozinhas nessa. Muitas pessoas nos apoiaram. Foi uma conjunção de fatores muito legais, que fizeram essa campanha ser linda, solidária e comunitária. 

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Ainda falta uma parte para receber reforma, e vaquinha continua

Verônica admira o apoio que a mãe de Marielly dá a ela para continuar no sonho de ser uma bailarina reconhecida: 

– Enxergamos essa obra como uma bolsa de estudos para que Marielly continue estudando e dançando. O fato é como se ela tivesse conquistado isso para a família, por meio da dança. Uma menina negra e de periferia, que dança, tem pouquíssimas oportunidades. E queremos dar isso a ela, a chance de descobrir se esse é o desejo que ela quer para a vida dela. E a Joana entende, valoriza e enxerga esse talento. 

A rede que se formou abraçou a campanha, com o objetivo que Ana explica: 

– Refazer o telhado foi para nos permitir a continuidade dos sonhos. É difícil sonhar quando não se tem um sono tranquilo.

Campanha continua – saiba como ajudar

/// Contribua por meio da vaquinha on-line para a finalização da obra pelo link vaka.me/1632815.
/// É possível contribuir por meio de transferências e depósitos nas contas bancárias.
/// Informações sobre os dados necessários podem ser obtidas pelo WhatsApp
(51) 99363-9390, com Ana Araújo.

Produção: Caroline Tidra



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