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Crianças e adolescentes com deficiência fazem test drive da nova pista de skate na orla do Guaíba

Complexo dedicado ao esporte faz parte de novo trecho revitalizado, que deve ter obra concluída até o fim de agosto  

01/08/2021 - 21h12min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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— Três, dois, um! 

A contagem regressiva pouco antes de descer uma das rampas da nova pista de skate na orla do Guaíba, na tarde ensolarada deste sábado (31), uniu pais, filhos e instrutores em um misto de orgulho, emoção e diversão. Crianças e adolescentes com deficiência participaram de uma espécie de test drive daquela que é considerada a maior pista da América Latina. 

A expectativa é de que, em breve, o espaço possa estar aberto ao público. A obra do novo trecho revitalizado em Porto Alegre está na fase final e tem previsão de ser concluída até o fim de agosto.  

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O sorriso no rosto de Tuyng Marques, 11 anos, quando conseguiu se equilibrar pela primeira vez sobre o skate resumiu o sentimento que move os envolvidos na ação. O equipamento da menina foi adaptado para facilitar o uso por crianças, que, assim como ela, têm dificuldade de mobilidade.  

— Olha! — dizia a menina, encantada, chamando a atenção da mãe, Vânia Marques, 40 anos, enquanto era auxiliada pelo pai, Márcio Marques, 43 anos.  

— Filha, segura! — orientava o pai.  

— Olha o sorriso dela — comentava Vânia, orgulhosa.  

Com paralisia cerebral, a garota é uma das crianças atendidas pela Fundação de Atendimento de Deficiência Múltipla (Fadem) em Porto Alegre. A entidade foi uma das organizações presentes no evento desta tarde. A ação foi realizada em parceria entre a prefeitura, o projeto SkateAnima, que há sete anos trabalha na inclusão de crianças e adolescentes por meio do esporte, e a Spot SkateParks, que atua na obra do complexo.  

— Este evento é para mostrar a importância da inclusão de todas as pessoas nessa obra, o que é esperado por todos. E a gente quer que todo mundo use. É uma pista bem democrática. Isso é uma obra com 100% de acessibilidade. É muito legal mostrar que o espaço é realmente para todos — disse o secretário de Obras e Infraestrutura de Porto Alegre, Pablo Mendes Ribeiro, enquanto assistia as crianças andando nos skates adaptados.  

— Olha como tu está grande filha! — dizia a administradora Naiara Morales, 28 anos, ao ver Sofia Morales Leite, seis anos, em um aparelho que une andador e um skate adaptado.  

Com hidrocefalia, a menina vem conseguindo melhorar a postura por meio de sessões de fisioterapia, que incluem bicicleta e skate, mas essa foi a primeira vez que ela esteve em uma pista de verdade.  

— Ai, meu coração. Nunca imaginei que a minha filha poderia estar assim, andando de skate, em uma pista – disse a mãe, quando via a menina descer alguma das rampas sendo empurrada por Stevan de Melo Pinto, 41 anos, fisioterapeuta e um dos idealizadores do projeto Skate Anima.  

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Entre as participantes da atividade, uma das mais animadas era Nayumi Reis, 18 anos. A jovem foi uma das precursoras do projeto Skate Anima. Foi ela quem desafiou Stevan a pensar em uma alternativa para que as crianças com dificuldade de mobilidade conseguissem praticar o esporte. 

Em 2015, ele atendia Naiumy, na época com 12 anos, quando ela pediu para que ele levasse seu skate para que ela pudesse aprender a andar. Diante do pedido, o fisioterapeuta passou a pensar em uma forma que a menina, que usa cadeira de rodas, pudesse ficar em pé e experimentar o esporte. Decidiu adaptar o andador, usado nos treinos, e acoplar o skate embaixo.  

A partir daí, novos equipamentos foram desenvolvidos para que crianças com diferentes limitações de mobilidade consigam praticar o esporte. E Nayumi nunca mais parou.  

— Ela adora. Achei muito bacana abrirem a pista antes para eles experimentarem, explorarem, para depois, quando inaugurada, compartilharem com os outros — diz a mãe de Nayumi, Roberta dos Reis, 39 anos.  

Para Stevan, skatista desde a infância, a iniciativa resume bem o espírito do esporte: uma prática inclusiva, onde todos são aceitos. As conquistas recentes nas Olimpíadas de Tóquio, com as medalhas de Rayssa Leal, 13 anos, a Fadinha, e Kelvin Hoelfler, 27, também são vistas como incentivos para crianças e adolescentes. A expectativa, inclusive, é que a Fadinha possa participar da inauguração da pista em Porto Alegre.  

— O skate já foi um esporte marginalizado e até proibido, como em São Paulo. Mas sem dúvida começa a haver uma mudança de olhar para o esporte, que para mim representa amizade, diversão e união. Um esporte onde um torce e vibra pelo outro, pelas conquistas do outro. É o que estamos fazendo aqui hoje — diz Stevan.  

A pista  

Considerada uma pista democrática, para atender diferentes públicos, do iniciante ao de alta performance, a estrutura tem ao todo 6,2 mil metros quadrados. A construção está 99% pronta, segundo a prefeitura, faltando apenas a pintura de obstáculos.  

Cerca de 2 mil metros abrangem as três pistas para a modalidade park: a principal, que deverá ser certificada para sediar competições, a bowl, que remete às piscinas vazias que deram origem ao esporte, e a snake run, mais rasa e sinuosa, para iniciantes. 

Os demais 4 mil metros quadrados serão dedicados à modalidade street, em que o skatista pratica superando obstáculos. Nesse espaço, os equipamentos homenagearão outros pontos clássico do skate Porto Alegre, como os corrimões da Câmara Municipal, os bancos do calçadão de Ipanema e ponte da Praça Itália.  

A área, entre o Arroio Dilúvio e o Parque Gigante, tem previsão de ser inaugurada até o fim de agosto. O novo trecho revitalizado da Orla terá também 29 quadras esportivas e duas academias ao ar livre.  


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