Para todos
Iniciativa promove a construção de fogões campeiros em ocupações de Porto Alegre
Com o gás em alta, população pode preparar os alimentos nas cozinhas comunitárias
Receber comida, mas não poder cozinhar. Essa foi a principal questão que levou a Associação Feira Rua da Praia (Asferap), em parceria com o Conselho Regional pela Moradia Popular (CRMP) e o Projeto Sopão, a idealizar a construção de cozinhas comunitárias e fogão campeiro em ocupações de Porto Alegre. A inciativa teve como ponto de partida o contato direto das entidades com os moradores por meio da arrecadação e entrega de alimentos.
— Primeiramente, surgiu a ideia de fazer um fogão campeiro grande, no qual todos pudessem se reunir ali, com distanciamento, e cozinhar comunitariamente, botar suas panelas para fazer um feijão, arroz ou massa quando tem — afirma o representante da Asferap, Juliano Fripp. _ Aí a gente pensou: "só um fogão não vai dar, precisamos de uma cozinha, um lugar coberto." Então, armamos o projeto, que é a cozinha comunitária, com a mínima infraestrutura possível — completa.
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Pandemia, desemprego e preço do gás foram os principais fatores que, nos últimos meses, complicaram a vida das mais de cem famílias que recebiam as ajudas. Com a realidade em mente, foi dada largada à construção da primeira cozinha (bancada com dinheiro de vaquinhas solidárias), oficialmente aberta na manhã da última quinta-feira, na ocupação Jardim Império, zona norte da Capital. A ajuda de voluntários colocando a mão na massa contribuiu para que a obra fosse concluída em pouco mais de oito semanas. O espaço de aproximadamente 40 metros quadrados ficará aberto diariamente em dois turnos, das 10h às 13h e das 17h às 20h. O regulamento interno especifica que é necessário levar os próprios utensílios, além de ajudar a manter a limpeza.
— Vamos usar bastante o fogão. Nós e toda a comunidade — comemora a moradora da ocupação Thaís Regina Silveira. Ela e a companheira, Lúcia Silva, residem no local há mais de cinco anos e, mesmo optando por comprar um botijão de gás menor (de 2kg , o "liquinho") para casa, enfrentavam dificuldades devido ao encarecimento do item. Elas foram uma das primeiras pessoas a desfrutar do recém-inaugurado espaço.
— Já estamos preparando uma polenta temperada com galinha — comentou Lúcia enquanto esperava a iguaria chegar ao ponto.
No estilo da Fronteira
Nei Severino Gomes, também morador da ocupação, estava empolgado com a novidade. Sentado ao lado do fogão campeiro, ele esperava pacientemente o arroz com linguiça ficar pronto.
— É parecido com a época em que eu morava na Fronteira. Costumava cozinhar assim — relembra o aposentado, que reside sozinho em uma casa simples, de quarto e sala, construída a próprio punho.
O pequeno ambiente conta com fogão elétrico, mas sem o principal, o gás. Para suprir a necessidade, Nei fez um fogão improvido no chão do pátio, onde gosta de passar boa parte do tempo. No entanto, quando chove, fica impossibilitado de preparar comida.
Mais cozinhas comunitárias em Porto Alegre sairão do papel nos próximos meses. É o que garante Juliano:
— Estamos construindo duas, uma na ocupação São Luiz e outra na Vida Nova.
Interessados em contribuir com a iniciativa podem entrar em contato pelos telefones (51) 98130-8788 e (51) 99101-6732.