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Carinho entre gerações

Crianças trocam correspondência com idosos de casa geriátrica de Gravataí

Alunos de escola de Educação Infantil de Cachoeirinha endereçaram envelopes a “vovôs” e “vovós” do residencial

13/09/2021 - 22h02min


Tiago Boff
Tiago Boff
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Lauro Alves / Agencia RBS
Beno e José Carlos mostrar as cartas que receberam

Netos por correspondência. É dessa forma que os moradores do Residencial Geriátrico Três Figueiras, em Gravataí, se referem aos remetentes de cartas recebidas na última semana. Nas folhas entregues aos idosos, havia desenhos feitos pelos alunos da Escola Municipal de Educação Infantil Criança Feliz, localizada no município vizinho de Cachoeirinha. Em resposta, os estudantes receberam mensagens de agradecimento e valiosos conselhos de quem já tem um tempo muito maior de vivência. 

“Oi, Vitória! Teu nome é muito bonito! Espero que tu tenhas muitas vitórias na tua vida!”, escreveu Erni Costa, 77 anos.

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Já Beno Corrêa da Silva diz ter recebido a primeira carta em seus 80 anos de vida.  

— Me senti um guri de 15 anos, recebendo as cartas. E eu nem sei quem é que me mandou, é muito bom. Estou agora aprendendo novos carinhos — afirma  

O amigo José Carlos Scheffel, 67, foi surpreendido com um desenho: uma casa de paredes negras e uma chaminé, ao lado de um caminho colorido. 

— Eu morava numa casa — complementa, relacionando a pintura com o imóvel em que vivia na cidade de Canoas, também na região metropolitana de Porto Alegre.  

O verso dos envelopes remetidos pelas crianças retribui o carinho, numa espécie de adoção via correio: “Para vovô Eduardo”, endereça um dos estudantes, e “Para vovó Fifi”, cita outro aluno.  

A ideia de trocar experiências partiu da assistente social da clínica, Kátia Paim, 58, e tem conexão com projetos anteriores à pandemia. A iniciativa “intergeracional”, como define a especialista, foi batizada de Cartas de Carinho. Além das pinturas e textos, também são trocadas fotografias de ambos. 

A reação de quem abriu as correspondências emocionou não apenas os internos. 

— Uma das nossas vovozinhas disse que parecia o sorriso da filha. Já outra, que tem Alzheimer, achou que fosse uma carta escrita pela própria filha — detalha a assistente social. 

A ação foi ampliada, com fotos dos “novos familiares” espalhadas pela recepção do residencial. O mural é admirado pelos 23 moradores — Beno e José Carlos posaram para fotos ao lado do painel na manhã desta segunda-feira (13). 

A vice-diretora da escolinha, Jociane Alves, 52, teve de explicar para algumas turmas que as mensagens não eram para seus parentes de sangue. Com pouco sucesso. 

— Alguns continuaram dizendo que a carta era pro vô e pra vó, o que mostrou que deu certo. Nos deixou muito felizes — elogia a professora. 

Com caneta atômica laranja, Wellington de Oliveira Candido Júnior, cinco anos, traçava uma elipse na página. Lilás, azul e verde integravam o seu arco-íris. 

— É todo "cololido" — explica, trocando o “r” pelo “l”. 

Na quarta-feira passada (8), o carteiro Carlos Messalla, 45 anos, cruzou o limite entre as cidades para levar as cartinhas — servidor de Cachoeirinha, ele foi o escolhido para transportar as mensagens. Diz ter sentido uma das maiores alegrias nos 17 anos em que trabalha na instituição federal. 

— Fico feliz de participar de uma ação como esta. Os Correios sempre levaram, e ainda levam, solidariedade e esperança — define. 


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