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O que mudou depois da morte de João Alberto?

As medidas adotadas pela empresa para mudar a relação com clientes e evitar novos casos como o do assassinato ocorrido em supermercado de Porto Alegre

01/09/2021 - 05h00min

Atualizada em: 01/09/2021 - 14h37min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
No lugar de seguranças, agentes de prevenção

Pouco mais de nove meses depois do assassinato de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, em uma unidade do hipermercado Carrefour, na zona norte de Porto Alegre, o que mudou para evitar que a situação se repita? O caso teve destaque no cenário nacional e internacional, assim como ocorreu no assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, em maio de 2020. E o que as vítimas tinham em comum? A cor da pele. 

Hoje, o Grupo Carrefour pontua o passo mais importante dado desde o acontecido na unidade do bairro Passo D’Areia. Trata-se da internalização dos seguranças que trabalham dentro dos hipermercados – não só do Carrefour, mas também do Atacadão, outra bandeira do grupo. A internalização é a contratação de colaboradores pela própria empresa, não por meio de empresas terceirizadas. Além disso, a organização não mudou só no papel. Agora, esses colaboradores internos são chamados de agentes de prevenção, não mais seguranças.

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A ideia, conforme Jérôme Mairet, diretor de gestão de riscos do Carrefour Brasil, é promover um ambiente seguro e acolher melhor os clientes.

– Chegamos ao entendimento de que essas pessoas que trabalham dentro da loja têm um papel muito mais de dar atendimento ao cliente, do que a missão de segurança. Por isso, internalizamos essas pessoas que no passado eram terceirizados, aproximando o contato com o cliente – explica Jérôme.

Diversidade

Mas apenas uma troca de nomes das funções e novos uniformes não significa mudança de comportamentos. Por isso, a empresa também iniciou a criação de novos processos, protocolos e treinamentos para quem foi contratado. E isso passou pela contratação de novas caras para o grupo, como Claudionor Alves, diretor de segurança corporativa e prevenção de perdas e riscos. Com 30 anos de experiência de mercado em grandes empresas, Claudionor também é um homem negro. Algo, infelizmente, ainda incomum em cargos de liderança no Brasil. Assim como as mudanças com a chegada dele, a diversidade entre os colaboradores também mudou.

– Em relação ao Rio Grande do Sul, já internalizamos 100% das nossas unidades. E dentro desse grupo, 70% das novas contratações são de pessoas autodeclaradas negras ou pardas, algo bem acima da média brasileira. E ainda dentro desse todo, 45% são mulheres, outra mudança que tivemos neste setor, normalmente ocupado em sua maioria por homens – pontua Claudionor.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Iniciativa está em fase de testes

Câmeras corporais gravam o dia a dia

Visando não só a segurança dos clientes, mas também dos colaboradores, o Carrefour deu início a mais uma etapa nas mudanças nos protocolos adotadas desde a morte de João Alberto. É a instalação de câmeras portáteis nos uniformes dos agora chamados agentes de prevenção. Chamadas de bodycams – câmeras corporais, em tradução livre – os equipamentos permitem gravar o dia a dia nas lojas da rede, sendo uma ferramenta extra em situações que se tornem necessária a averiguação da postura tanto do colaborador quanto do cliente em situações de conflito.

– Atualmente, ainda estamos testando a iniciativa, com cerca de quatro colaboradores por loja com bodycams – diz Claudionor.

O investimento do grupo na aquisição dos equipamentos foi de cerca de R$ 5 milhões. 

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Compartilhamento com outros setores

Com o trabalho já em execução e colhendo resultados – Claudionor e Jérôme citam que a aprovação dos novos protocolos têm sido alta entre clientes e colaboradores –, o Carrefour começa a pensar no futuro. 

O grupo quer disseminar para outras empresas do varejo a nova cultura criada na empresa. 

– Estamos trazendo empresas de segurança e outros varejistas para conhecer o modelo que estamos aplicando aqui. Também criamos um comitê que trabalha essa interligação com outros varejistas. O nosso objetivo é iniciar uma grande mudança no Brasil neste setor – projeta Jérôme.

Para que os trabalhos também tenham sequência, o Carrefour fechou contrato com uma empresa que fará a checagem de documentação de empresas terceirizadas que venham a trabalhar no grupo – a segurança externa das unidades segue sendo feito por empresas de vigilância terceirizada. Além disso, auditorias externas periódicas vão conferir se a empresa está seguindo os novos protocolos com os quais se comprometeu. E ações sociais também estão em funcionamento, como explica Claudionor:

– E em Porto Alegre e Região Metropolitana, também estamos fazendo um trabalho junto a comunidade. 

Através da ONG ODABÁ - Associação de Afroempreendedorismo, está sendo realizado um torneio de futebol com objetivo de integrar empresa e comunidade próximas dos locais onde temos lojas.

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