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Vacina contra covid-19

Para reduzir abstenção, prefeituras do RS vacinam em shoppings, parques e boates

Estado entra em nova etapa da imunização após elevar cobertura

13/09/2021 - 21h48min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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Félix Zucco / Agencia RBS
Rolê da vacina é uma das ações da Capital para alcançar quem ainda não está imunizado

 Após oferecer vacinas contra a covid-19 em todos os municípios e superar, na semana passada, 90% da população acima dos 18 anos com a primeira dose e 50% com o esquema vacinal completo, o Rio Grande do Sul adentra novo patamar no combate à epidemia: buscar quem ainda não se apresentou. Para isso, prefeituras vão a shoppings, estádios, parques e até boates.

Mais de 870 mil gaúchos estão aptos, mas ainda não receberam a primeira dose, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES-RS). Autoridades trabalham com os resultados da pesquisa do Datafolha de julho que mostrou que 94% dos brasileiros pretendiam se vacinar, 5% não e 1% não sabia.

Em termos práticos, isso possibilitaria, no Rio Grande do Sul, margem para aplicar a primeira dose em mais 5% dos gaúchos aptos a se vacinarem e a segunda dose em 45%– ainda que a meta do Palácio Piratini e das prefeituras seja de vacinar 100% de todos os habitantes possíveis.

Box de transparência

Esta reportagem utiliza estatísticas da cobertura vacinal da população acima dos 18 anos porque discute a busca de pessoas aptas a se vacinarem que ainda não o fizeram. No entanto, cálculos para a imunidade coletiva, estimada hoje em acima de 90% com a variante Delta, envolvem a cobertura de duas doses para a população de todas as idades.

O governo do Estado e o Conselho de Secretários Municipais do Rio Grande do Sul (Cosems-RS) afirmam que a abstenção em território gaúcho é mais baixa do que a registrada em outros Estados e entendem que a busca de quem ainda não se vacinou corre bem. Hoje, o Rio Grande do Sul é segundo Estado que mais aplicou a primeira dose e terceiro na cobertura de duas doses, segundo dados do Portal Covid-19 no Brasil.

— Há resistência em idosos em fazer a segunda dose porque pode dar reação. Mas acho que até novembro teremos nossa população toda vacinada com duas doses. Com a terceira dose, teremos novo planejamento — comenta Diego Espíndola, secretário-executivo do Cosems e secretário de Saúde de Piratini.

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A secretária-adjunta de Saúde do Rio Grande do Sul, Ana Costa, ressalta que a estratégia de ir atrás dos não vacinados difere conforme o grupo-alvo: jovens precisam ter a vacinação próximo, enquanto trabalhadores precisam de horário noturno. O governo já realizou duas edições do Prêmio Te Vacina RS, que valoriza municípios com alta cobertura.

— Caxias do Sul fez a Vacinight para os jovens (veja a seguir), que não estão aderindo com tanta facilidade quanto idosos e outros grupos. Para a população entre 30 e 40 anos, municípios abriram vacinação de noite, para quem trabalha em turno comercial — afirmou em entrevista a GZH.

Segundo o Cosems-RS, as estratégias mais comuns das prefeituras para ir atrás dos não vacinados envolvem enviar agentes comunitários aos bairros, instruir médicos a cobrarem vacina durante consultas de rotina em postos de saúde e ligar ou enviar mensagens por WhatsApp. Já municípios maiores, impossibilitados de visitarem todas as casas, focam em descentralizar a aplicação. Veja alguns bons exemplos no país:

Porto Alegre

A capital gaúcha vem sendo elogiada por especialistas pelas estratégias de ir atrás de quem ainda não se vacinou. Até esta segunda-feira (13), 94,8% dos porto-alegrenses adultos receberam a primeira dose e 62,1%, duas. Neste momento, a prefeitura estima que 40 mil não tomaram a primeira dose e 20 mil estão aptos, mas não receberam a segunda aplicação.

Uma das ações mais reconhecidas é o Rolê da Vacina, estratégia que monta pontos de vacinação em diferentes bairros para aproximar a campanha dos habitantes. Em duas semanas, 10.116 doses foram aplicadas em locais como Mercado Público, Orla do Guaíba, Largo Glênio Peres, escolas de samba e diferentes pontos da periferia da cidade.

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) também oferece, em quatro postos de saúde, aplicação das 18h às 21h, mirando em trabalhadores que não conseguem se ausentar do serviço. Nesta semana, o atendimento será ampliado para mais quatro unidades básicas.

Marco Favero / Agencia RBS
Vacinação noturna na Capital

O principal entrave não é negacionismo, mas dificuldade em acessar um local para receber uma injeção, diz a diretora da Atenção Primária da SMS, Caroline Schirmer.

— O Rolê da Vacina foi pensado em regiões onde há pessoas que não conseguem acessar as unidades de saúde. A busca ativa está sendo muito boa. Na Orla do Guaíba, aplicamos 2 mil doses em seis horas. Em uma escola de samba, 800 doses em uma noite. É muito importante sair das unidades de saúde para atingir outros públicos — diz.

É comum trabalhadores alegarem que não tomaram a segunda dose por já se sentirem imunizados ou porque temem perder dias de trabalho com efeitos adversos. Segundo Caroline, a prefeitura faz contato com quem está em atraso (por telefone ou WhatsApp), explica que os efeitos são menores na segunda dose, oferece agendamento para evitar filas e indica postos de saúde próximos à residência ou que permaneçam abertos à noite.

— A busca ativa está sendo muito boa. Mapeamos pontos com menor cobertura para levar nossa unidade móvel. Pensamos em ir também para praças em fins de semana — acrescenta Caroline.

Em Porto Alegre, 71,8% dos habitantes de todas as idades receberam uma dose e 47% receberam duas doses, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

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Canoas

O município da Região Metropolitana conduziu no Parque Eduardo Gomes, no fim de agosto, a Balada da Vacina, um evento que começou na noite de uma sexta-feira e, por 24 horas ininterruptas, vacinou 3.194 jovens de 18 a 19 anos. O evento teve clima de festa, com DJs e artistas. A prefeitura cogita realizar nova edição, focada em adolescentes sem comorbidades.

Marco Favero / Agencia RBS
Balada da vacina, em Canoas, foi promovida em agosto

Caxias do Sul

Em Caxias do Sul, a prefeitura notou que, enquanto idosos corriam aos postos de saúde para buscarem vacinas, jovens são mais seletivos: querem escolher a vacina, o dia, o horário e o local para receber injeção.

A solução foi fechar parcerias para sair dos postos de saúde e oferecer em novos lugares. Nas últimas semanas, a cidade montou tendas de vacina em estádios de futebol, shopping, indústrias – como a Randon, a JBS e a Marcopolo – e até na frente de casas noturnas.

A “Vacinight”, ação da prefeitura com o Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (SEGH), propõe que, antes de dançar ou beber com os amigos, os jovens se vacinem e ganhem descontos ou até cerveja de graça. Até agora, a ação montou tendas de vacinação em frente a sete boates em quintas-feiras, sextas-feiras e sábados.

As diferentes frentes estão trazendo resultado “extremamente satisfatório”, diz a secretária de Saúde de Caxias do Sul, Daniele Meneguzzi. Para expandir a cobertura, a prefeitura vai permitir que bares funcionem sem limite de horário se exigirem, dos clientes, vacina em dia.

— A adesão das pessoas abaixo dos 30 anos tem sido menor do que em idosos. Os mais jovens não costumam ir para unidades básicas de saúde porque não têm problemas de saúde. Eles pensam duas vezes antes de pegar fila. Provocamos o sindicato de bares e restaurantes a mapear bons locais de vacinação, aí vamos para frente das casas noturnas, e os locais oferecem descontos ou chope para quem se vacina — explica Daniele.

A prefeitura ainda arquitetou, com Juventude e Caxias do Sul, um Caju da vacinação – para os clubes, é interessante ter mais torcedores imunizados. A vacinação em indústrias, proposta pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), permite expandir a cobertura nas regiões das fábricas e para funcionários e suas famílias.

— Pensamos na população que fica às margens do local e para pegar, por óbvio, os funcionários, porque essas empresas têm milhares de pessoas. Assim, eles se vacinam sem deixar de trabalhar — afirma Daniele.

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Mato Grosso do Sul

O Mato Grosso do Sul lidera a aplicação de segunda doses no país, com 49,5% de todos os habitantes com esquema vacinal completo, à frente de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Dentre as razões para o sucesso, o secretário de Estado da Saúde, Geraldo Resende, destaca o incentivo financeiro dado às prefeituras para vacinar.

A cada dose aplicada, a prefeitura recebe R$ 2,10 para pagar equipamentos e salário de servidores. Mas o valor tem condicional: é preciso vacinar de segunda a segunda e aplicar 90% das doses enviadas pelo Estado no mês. O governo sul-mato-grossense investiu R$ 2,2 milhões na política.

— A pedido do Conselho de Secretários Municipais da Saúde, construímos esse incentivo financeiro por dose aplicada. Entendemos que precisávamos motivar os municípios a fazerem aplicação em fim de semana e feriado. Vamos, ainda, discutir a introdução do passaporte imunidade — afirma Resende.

Segundo o secretário da Saúde, o governo também não se constrange em ligar diretamente para prefeitos ou secretários municipais da saúde e cobrar o andamento da cobertura.

— Diferentes funcionários da Secretaria apadrinharam cada município. Cada padrinho e madrinha liga e diz: notamos hoje que vocês fizeram pouca vacina, o que aconteceu? Por que não vacinaram sábado e domingo? Do que precisam? Ficamos muito feliz em estarmos ombreados com Rio Grande do Sul e São Paulo nesta corrida para sermos os Estados que mais vacinam. É um compromisso que temos com a vida das pessoas — afirma Resende.

Maranhão

Para driblar a pobreza estrutural de algumas cidades, o Maranhão promoveu, em parceria com prefeituras, mais de 50 Arraiás da Vacinação, nome dado para os mutirões de vacinação em municípios onde poucas pessoas buscam o posto de saúde. A ação já aplicou cerca de 170 mil doses de vacinas contra a covid-19.

A cada Arraiá, o Estado paga, com verba da Secretaria de Cultura, artistas e músicos locais para se apresentarem nos locais de vacinação. E todos que receberem vacina concorrem a prêmios de R$ 1 mil, R$ 5 mil e R$ 10 mil, financiados pela Secretaria de Governo.

No geral, os maranhenses que não tomam a segunda dose alegam receio de reviver o efeito adverso da primeira dose ou a crença, equivocada, de que apenas uma aplicação garante proteção contra o coronavírus, relata o secretário da Saúde do Maranhão, Carlos Lula.

— Por ser um Estado muito pobre, temos muita fragilidade nas estruturas municipais, então sabíamos da necessidade de cooperar com os municípios para não ter fracasso da estratégia.  A gente paralisava as cidades no dia em que tinha arraial. Colocamos atração cultural, como artista ou banda local, uma forma de ajudar o âmbito cultural, que estava com dificuldades na pandemia. Entendemos isso como investimento: uma diária de UTI é R$ 2,5 mil por dia. É muito mais barato fazer arraial da vacinação do que ter 100 pessoas internadas em UTI por covid-19 — diz Lula. 

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