Enchendo as bombonas
Com arrecadação de tampinhas, bancas de jornais se mobilizam para ajudar entidades e pessoas
Material gera renda ao ser vendido; na ação mais recente, grupo estima ter conseguido cerca de 220 mil tampas plásticas
Um misto de cores toma conta das bombonas que um grupo de proprietários e funcionários de bancas de revistas e jornais, em sua maioria de Porto Alegre, encheu com tampinhas de garrafa pet. E, em menor quantidade, de outros produtos. Arrecadado junto a clientes, amigos, vizinhos e até desconhecidos que acabam descobrindo a iniciativa, o material que iria diretamente para o lixo é utilizado para ajudar entidades beneficentes e ações específicas. Em outras palavras, é convertido em solidariedade.
Na campanha mais recente, os materiais serão doados a um menino que está lutando contra um câncer e precisa de ajuda para pagar o tratamento. Segundo Cristiano Fabricio Catelan, 45 anos, dono de uma banca no bairro Cristo Redentor e um dos responsáveis por reunir e organizar as arrecadações, essa está sendo a ação com maior quantidade de materiais. Ele estima que são cerca 220 mil tampas plásticas — a maior parte delas de garrafa pet.
Pelas suas contas, cada bombona de cinco litros comporta em torno de 350 tampinhas, entre menores e maiores. A coleta tem sido feita ao longo de dois a três meses e a entrega deve ocorrer neste sábado (27).
Em ações anteriores, o grupo fez doações para a Associação de Apoio a Pessoas com Câncer, para o Instituto do Câncer Infantil, para a ONG Anjos do Amor em Movimento e também para campanhas de ajuda a pessoas que necessitam de remédios ou outros itens, como relembra Isabel Cristina Fabricio Catelan, 50 anos, também proprietária de uma banca no bairro Cristo Redentor — e irmã de Cristiano. Conforme Isabel, pelo menos 24 bancas hoje se engajam na iniciativa, recebendo materiais. E outros tipos de arrecadações também já foram feitas, como de alimentos e de fraldas.
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Virou hábito
A proposta de coletar tampinhas partiu de uma vontade de Isabel, que, com algumas doações já feitas, decidiu compartilhar a iniciativa com o irmão. O ano era 2019. Aos poucos, mais colegas foram conhecendo e entrando na campanha, que segue buscando mobilizar cada vez mais pessoas.
A ideia é que, para contribuir com determinada instituição ou pessoa que necessite de auxílio, as bancas sirvam como ponto de coleta de tampas plásticas. Quem as recebe pode vendê-las e, assim, converter o material em dinheiro.
— É uma coisa tão simples e que a gente está ajudando. Vira uma coisa que a gente não consegue mais enxergar uma tampinha e não guardar dentro da bolsa, não levar pra casa — pontua.
As sugestões dos locais ou pessoas para se doar vêm dos participantes do grupo — tendo até fila, como comenta Isabel. As entregas são fotografadas para que fique o registro, compartilhado com quem colaborou e entre os colegas.
Criando uma corrente
Por trás das entregas, porém, há um trabalho de organização e empenho. E quando as doações não chegam ao grupo, o grupo vai até elas. O objetivo é "não perder essa corrente", como destaca Cristiano.
— Volta e meia eu deixo as minhas bombonas de tampinha na rua, na calçada, na frente da banca e as pessoas passam: "Você recebe?". Recebo, pode doar e se não há possibilidade de vir doar, eu passo na casa se for caminho, a gente arrecada — explica.
Foi ao ver as garrafas cheias de tampinhas penduradas na banca de Cristiano, ainda em 2019, que a empregada doméstica Patrícia Machado, 46 anos, moradora da Capital, passou a colaborar com doações. Depois, quando seu trajeto mudou por conta do trabalho, ela combinou com o proprietário da banca para buscar o material na casa dela. Como conta, o hábito de juntar itens deste tipo já vem de anos.
— A minha família toda junta, meus filhos pegam na lixeira se tiver. E tem muitas pessoas que guardam para mim e aí eu acabo pegando na casa de um, na casa de outro.
Depois de recebidas pelas bancas, as tampinhas são organizadas em bombonas e essas são armazenadas na casa de um dos participantes do grupo, em Alvorada.
Ajudar como pode
Com a dificuldade financeira batendo à porta, Isabel pontua que a mobilização também quer trazer certa visibilidade para as bancas, para serem lembradas. Apesar disso, ela ressalta:
— Eu posso não estar faturando aqui, mas se eu tiver como fazer uma campanha que eu possa ajudar pessoas que estão necessitando, eu estou feliz da vida.
Para Cristiano, é gratificante e satisfatório ver o resultado das mobilizações.
— A gente não tem condições financeiras de ajudar, então a gente ajuda dessa maneira, arrecadando — comenta.
Como contribuir
- Basta levar qualquer tipo de tampa plástica (de garrafa pet, de shampoo, de creme dental, de achocolatado, entre outras) a uma das bancas participantes; lacres de latinhas também são aceitos.
- Auxiliadora, Azenha, Boa Vista, Cavalhada, Centro, Cristo Redentor, Menino Deus, Moinhos de Vento, Morro Santana, Partenon, Passo D'Areia, Petrópolis, Restinga, Rio Branco e Sarandi são alguns dos bairros da Capital onde há bancas que recebem doações. Há também uma em Viamão.
- Se necessário, é possível entrar em contato com a Isabel, pelo número (51) 98531-3234, e com o Cristiano, pelo número (51) 98422-2286.
Produção: Isadora Garcia