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História de superação

Livro inspirado na vida da criadora da ONG Casa da Sopa, em Viamão, será lançado neste domingo 

Obra reúne relatos de Dionísia Oliveira Machado sobre empoderamento feminino e a vontade de ajudar o próximo

11/12/2021 - 05h00min


André Ávila / Agencia RBS
Dionísia (centro), com a ilustradora Mitti (E) e a autora Ângela

Mesmo sem saber ler e escrever, Dionísia Oliveira Machado terá um livro para chamar de seu. Isso porque, aos 69 anos, será a personagem principal de Dionísia Mudou as Coisas de Lugar. Escrita por Ângela Hofmann, a obra conta a história de vida da fundadora da ONG Casa da Sopa, em Viamão. Ela passou longas tardes conversando com a autora, que buscou preservar a essência da fala simples e carinhosa.  

O livro (Hortélias Editora & Projetos Literários; 112 páginas) é um produto do projeto cultural "Artesãs das palavras, das nossas histórias", viabilizado pela Lei Aldir Blanc, por meio da prefeitura de Viamão. A obra reúne relatos de Dionísia sobre sua infância difícil, a vida nas ruas, a vontade de ajudar o próximo e histórias de empoderamento feminino, vividas por ela e suas amigas. 

— Não gostaria que as pessoas peguem o livro, deixem em um canto e esqueçam dele. Quero que as mulheres realmente leiam, se inspirem e melhorem. Poderia dizer que meu livro é para todas as mulheres, mas em especial a mulher negra em vulnerabilidade social — diz Dionísia. 

Vida sofrida

Nascida em Triunfo, na Região Carbonífera, Dionísia sofreu com a separação de seus pais na infância. Sua mãe saiu de casa com ela e seu irmão, rumo a Porto Alegre. Chegando na Capital, as crianças foram entregues para uma família do bairro Santa Rosa. Por lá, ela relata que eles andavam na rua, com chuva ou sol, em busca de alimentos, e corriam risco de vida. 

Dionísia e seu irmão foram encontrados por um familiar, que os levou de volta ao pai, que então morava em Nova Santa Rita, na Região Metropolitana. Nessa cidade, ela viveu boa parte de sua vida. Casou-se, teve seis filhos, era agredida pelo marido, entrou em depressão e caiu no alcoolismo. Após isso tudo, Dionísia foi morar na rua — ela, um carrinho de supermercado e um cachorro. Apesar de ter sido um momento de muito sofrimento, principalmente quando pensa em seus filhos, seus bens mais preciosos, Dionísia consegue tirar um lado positivo de tudo isso: 

André Ávila / Agencia RBS
Dionísia conta que precisou morar na rua

— Na época em que eu andava pela rua, eu acho que eu já estava me encontrando. Se não tivesse acontecido aquilo comigo, até hoje eu ia estar passando trabalho naquela cidade. Talvez eu nem existisse mais. No Interior, a maioria das mulheres não existe. 

A volta por cima

Em determinado momento, os filhos consideraram necessário comprar um terreno para a mãe, onde ela reside até hoje, tirando-a de vez das ruas. Por conta de vizinhas, ela começou a frequentar um Centro Budista de Viamão, justamente onde, tempos depois, conheceria a escritora de seu livro. 

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Lá, ela e as amigas desenvolveram habilidades no artesanato, com a produção de fuxicos e bordados. Anos depois, Dionísia cumpriu a promessa que tinha feito ainda na rua — quando tivesse condições, ofereceria alimentos para crianças carentes. Assim surgiu a Casa da Sopa. Dessa forma, Dionísia, além de ajudar a si mesma, ajudou o próximo — mudando as coisas de lugar. 

Bastidores da escrita

De acordo com Ângela, desde o início Dionísia deixou bem claro que queria fazer um livro para e com mulheres, desde a produção em si, até o texto final. Elas são amigas há pouco mais de uma década, e, desde o início, a escritora se encantou com o jeito e o trabalho que Dionísia fazia para sua comunidade.  

André Ávila / Agencia RBS
Formato do livro é menor, para caber na bolsa

O livro foi escrito pensando nos leitores(as) que não possuem tanta facilidade com a leitura, para que possam entender de forma simples, com uma linguagem mais comum. Buscando deixar a leitura mais atraente, a escritora distribuiu ilustrações, imagens e bordados ao longo do texto. Além disso, o Livro é considerado pequeno, se comparado a tantas outras obras. Ele tem 11cm de largura e 16cm de comprimento.  

— Partimos do princípio que não devia ser um livro grande, era um desejo da Dionísia que ele coubesse nas bolsas das mulheres, para elas levarem com facilidade para onde quiserem — conta Ângela.  

Para a realização deste trabalho, além do serviço voluntário de Ângela, também contribuíram: Beto Campos, Lua Cezimbra, Manuel Estivalet, Aline Gonçalves, Mitti Mendonça e Mariana Backes Nunes — as três últimas cobraram um valor simbólico pelos serviços prestados. 

Mês de lançamentos

/// O lançamento oficial ocorre neste domingo, na sede da Casa da Sopa (Rua Onze, 155, Jardim Castelo, na Vila Augusta). A partir das 11h, o local estará oferecendo, por R$ 20, um rodízio de massas. Quem garantir esse almoço, leva o livro como cortesia (limite de cem exemplares). Reservas via WhatsApp com a escritora Ângela: (51) 99932-5230. 

/// Ainda este mês, dentre os 700 exemplares disponíveis, grande parte será doada para mulheres da Vila Castelinho, Vila Augusta, e demais grupos de mulheres em vulnerabilidade social que Dionísia mantém relação: Casa Lilás, Grupo de recicladoras da Vila Bom Jesus, em Porto Alegre, e amigas da cidade de Nova Santa Rita.  

/// O livro não está disponível para venda, mas poderá ser adquirido mediante contribuição espontânea para a Casa da Sopa. Além da versão impressa, o livro também está disponível em formato digital pelo link hortelias.com.br/dionisia 

/// Na Capital, haverá um lançamento no dia 18, às 17h30min, no Armazém do Campo (Rua José do Patrocínio, 888, Cidade Baixa). 

Produção: Leonardo Bender


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