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Crie o Impossível

"Não importa de onde você veio, mas para onde você vai", destaca a artista Ramana Borba

Formada em escola pública da Capital, ela conquistou seu espaço no YouTube e gravou clipes com diversos famosos

30/05/2022 - 21h59min

Atualizada em: 31/05/2022 - 12h39min


Karine Dalla Valle
Karine Dalla Valle
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Crie o Impossível / Divulgação
Ramana Borba é uma das palestrantes do evento "Crie o Impossível", destinado a inspirar estudantes de escolas públicas do Brasil

Ramana Borba era uma menina quando começou a procurar vídeos no YouTube para aprender a dançar, mas afirma que não encontrava dançarinas com o seu tipo físico: uma negra de cabelo enrolado. Aos 14 anos, a porto-alegrense da zona norte, nascida e criada na Vila Ipiranga, decidiu mudar esse cenário. Virou profissional e, aos 20 anos, é conhecida por ser dona do maior canal de dança da América Latina com uma protagonista negra - acesse neste link o conteúdo.

Como o esforço merece ser contado, Ramana será uma das palestrantes do Crie o Impossível, evento destinado a inspirar estudantes de escolas públicas, com transmissão para todo o Brasil a partir do Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, na próxima sexta-feira (3).

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Chegou lá graças aos estudos - não só maratonando tutoriais de dança na internet. Filha de uma gaúcha com um carioca, aproveitava as férias de verão para ficar no Rio de Janeiro, onde fazia aulas de dança de diferentes estilos. Enquanto conquistava espaço lá fora, gravando clipes com artistas famosos, como Pesadão, em que rebola ao lado da cantora Iza, tinha que manter a rotina de trabalhos e provas na Escola Estadual de Educação Básica Gomes Carneiro, uma das maiores instituições públicas de Porto Alegre.

Foi uma vida de gente grande, mas hoje Ramana colhe os frutos de sua dedicação. Mudou-se definitivamente para o Rio em 2020, ao concluir o Ensino Médio. Depois da parceria com Iza, choveram convites para dançar em clipes do Projota, Pabllo Vittar, Ludmilla e Pedro Sampaio.

Virá ao Beira-Rio para falar com os cerca de 10 mil alunos que estarão no estádio e os cerca de 100 mil que assistirão ao evento em suas escolas. Confira, abaixo, um pouco de suas ideias e trajetória.

Onde você começou a dançar?

Comecei a dançar stiletto no Rio de Janeiro, em um workshop. Stiletto é a dança do salto alto, e eu queria aprender a usar salto. Minha mãe me incentivou, porque eu era tímida. Era um workshop para profissionais de dança, e eu era uma menina, mas gosto muito de me desafiar. Coloquei na cabeça que iria me profissionalizar. Fiz várias aulas no Rio, depois estudei em um estúdio em Porto Alegre, da Carol Dalmolin, voltado para jazz e balé.

Quando começou a crescer na carreira de dançarina?

Criei meu canal com 14 anos, assim que comecei a dançar. Eu tenho facilidade de pegar as coreografias nos vídeos. Com isso, comecei a fazer aulas e workshops. E aí criei meu canal. Mas não foi fácil, ele não teve sucesso do dia para a noite. Tive bastante haters. Sempre falo que fui linha de frente. As pessoas nem criticavam minha dança, mas a minha aparência. Fui crescendo. Tinha meninas que comentavam: "Meu Deus, ela tem o cabelo igual ao meu". Mas eu também adorava montas uns looks criativos. Com o tempo, as pessoas foram identificando meu canal pelo fato de ter vários vídeos com diferentes coreografias de dança.

Na dedicação à dança, você nunca deixou os estudos de lado?

Nunca. Isso foi uma exigência da minha mãe. Às vezes, virava noite em aeroporto para conseguir ir para Porto Alegre, onde fazia as provas no colégio. Eu combinava com a diretora, fazia as provas antes para conseguir ir para o Rio trabalhar. Eu vivia isso. E foi bom, porque era uma quebra na realidade dos holofotes. Quando eu estava em Porto Alegre, eu era uma menina normal, de 16 anos. Minha mãe sempre me falava isso: "Não importa se você está em um clipe, se conhece ciclano ou beltrano. Você chega aqui e tem que fazer suas obrigações na escola, focar. E a gente vai organizando para você também conciliar com suas atividades no Rio de Janeiro". Eu me sentia uma popstar.

Os professores da Escola Gomes Carneiro apoiavam tua vida de artista?

Eu já estudei em outras escolas, até no Rio, mas na Gomes Carneiro foi a única em que os professores incentivavam meu lado artístico. Nas outras, os professores achavam que eu estava perdendo tempo. Na Gomes, me senti abraçada. Eu dava o meu máximo, até como forma de agradecimento aos professores. Tive tantas experiências negativas em outras escolas, porque há quem acredite que dança não é arte, que não é profissão, que é só hobby. Tanto que, quando fui convidada para participar do Crie o Impossível, liguei para a diretora da Gomes Carneiro para avisar, e ela disse que a escola estará no Beira-Rio em peso. Estou muito nervosa, parece que estou indo para o Rock in Rio.

Quais foram teus desafios como estudante de escola pública?

As escolas públicas não recebem tanta ajuda. Sabia que minha escola enfrentava problemas. Muitas vezes, a gente não tinha aula. Tinha as greves por conta dos baixos salários dos professores, uma seguida da outra, e a gente perdia aulas. Às vezes, a gente vive numa caixinha, sem conseguir enxergar a pessoa que está ao nosso lado, e quando você vive em escola pública, você percebe várias realidades. Eu sabia de gente que ia estudar porque não tinha comida em casa. Acredito que o meu caráter foi lapidado pela experiência na Gomes.

Como o estudo te ajudou a ter sucesso na dança?

Acredito na importância das regras. Quando a gente fala sobre dança, as pessoas pensam que não é necessário estudar. Mas existe uma coisa chamada disciplina. Entender os horários, o que pode, o que não pode... Isso eu aprendi na escola e levei para a minha profissão.

Qual é a importância de ter uma mulher negra na dança e também ganhando tanto espaço nas redes sociais?

Quando tinha 13, 14 anos, não achava mulheres parecidas comigo. Hoje em dia, sei que muitas meninas se sentem representadas pelo fato de eu estar ali. Isso é muito importante para mim. Ter representatividade muda totalmente seu modo de pensar. Fico feliz em ter tido a coragem de ter criado o meu canal.

Você pretende seguir estudando?

Se você quer evoluir na dança, tem que seguir estudando. Não tem como parar. Tem que ficar todos os dias insistindo, procurando. Agora quero fazer um curso de teatro, porque sou apaixonada por arte. Também faço aulas de inglês e quero fazer faculdade de Publicidade e Propaganda.

Dá um spoiler do que você vai falar para os estudantes no Crie o Impossível.

Vou falar sobre o fato de eu também ter sido estudantes de escola pública. Quero incentivá-los a nunca pararem de estudar e dizer que não importa de onde você veio, mas para onde você vai. A coisa mais importante que podem fazer é continuar acreditando em si mesmo.

Crie o Impossível 2022

  • Data: 3/6/2022
  • Horário: 8h às 12h
  • Local: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre
  • Público-alvo: estudantes da rede pública do Ensino Médio
  • Como se inscrever para assistir à transmissão virtual: neste link

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