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Crise Econômica

Região Metropolitana tem debandada de imigrantes senegaleses e haitianos; entenda os motivos

Cibai Migrações estima que, em meio ano, 4 mil estrangeiros de diferentes nacionalidades partiram para os Estados Unidos

10/06/2022 - 20h50min


Jéssica Rebeca Weber
Jéssica Rebeca Weber
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Jefferson Botega / Agencia RBS
Há menos ambulantes senegaleses no Centro de Porto Alegre

Saer Guye, 34 anos, estende uma lona azul no calçamento da Andradas e dispõe cerca de 50 pares de tênis sobre ela. Era o único imigrante senegalês entre os vendedores ambulantes da Praça da Alfândega na manhã de quarta-feira (8).

— Fico aqui até de noite e não vejo outros senegaleses — diz. — Muitos estão indo para os Estados Unidos.

Não há números oficiais, mas segundo estimativa do Cibai Migrações, missão da Igreja Católica que atua em conjunto com a Paróquia da Pompéia, 4 mil imigrantes que haviam se instalado na Região Metropolitana partiram para os Estados Unidos nos últimos seis meses - a projeção inclui senegaleses, haitianos, venezuelanos, cubanos e outras nacionalidades. Isso é quase um décimo dos estrangeiros na região, segundo os dados da entidade.

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Diretor do Cibai, o padre Anderson Hammes relata que “os que tiveram condições de pagar a travessia, foram”. De forma geral, eles atravessam pela fronteira com o México, por meio de “coiotes”, e ingressam ilegalmente nos Estados Unidos. Cita um imigrante haitiano que foi deportado para seu país de origem e pretende voltar para o Brasil para juntar dinheiro novamente e repetir a travessia. 

— Eles vão atrás de melhores condições porque aqui o salário é muito baixo, em torno de US$ 200. Lá, eles conseguem isso em poucos dias — conclui o padre Anderson. 

Um imigrante senegalês que não quis se identificar relatou que, por causa da inflação no Brasil, está difícil se manter na Capital e mandar dinheiro para a família que permaneceu na África — o objetivo de tentar a sorte em outro país é dar uma vida melhor à esposa e aos filhos.

— O brasileiro é tranquilo, a Polícia Federal é minha amiga. Mas o problema é que trabalha e ganha pouco, e o mercado subiu muito. Paga aluguel, comida, wi-fi, e já acaba o dinheiro, não sobra muito pra mandar — diz o homem, que trabalha vendendo roupas na Esquina Democrática.

Ele não tomou o mesmo rumo que muitos conterrâneos pela facilidade que tem aqui em regressar ao Senegal para visitar sua família — nos Estados Unidos, não poderia fazê-lo. Mas avalia a possibilidade de deixar Porto Alegre.

O coordenador do escritório local da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Iurque Pinheiro, acrescenta que esse movimento para a América do Norte não é visto apenas em Porto Alegre, lhe parece que ocorre em todo o Brasil. Ele acredita que a mudança de governo, com Joe Biden na Casa Branca, também pode ter influência.

— Talvez eles entendam que o governo está mais disposto a recebê-los, com mais abertura para imigrantes — afirma.

Para o padre Anderson, o que contribui  para a disparada nos últimos meses é o arrefecimento da pandemia de covid-19 — recentemente, os Estados Unidos suspenderam a ordem que autorizava a expulsão de imigrantes sem documentos na fronteira durante a pandemia. Mas destaca que, enquanto existe uma onda de saída de estrangeiros diversas nacionalidades, também ocorre um movimento forte de chegada de imigrantes venezuelanos.

A Polícia Federal não tem controle de quantos imigrantes têm deixado o Estado, e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico não pôde responder se há menos imigrantes senegaleses e haitianos trabalhando como ambulantes nos últimos meses porque não há alvarás ativos entre esse público.



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