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Na rede pública

Mais de 11 mil pacientes faltaram a consultas com especialistas em Porto Alegre em 2022

Índice de ausências chega a 12%; considerando somente serviços da prefeitura, percentual sobe para 20%

26/10/2022 - 21h15min


Bibiana Dihl
Bibiana Dihl
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Mais de 40 vezes por dia no ano de 2022, consultórios médicos que atendem pacientes da rede pública de Porto Alegre ficaram vazios devido à ausência dos pacientes. De janeiro a setembro, 11.026 moradores da Capital faltaram a consultas especializadas, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

O total de faltas corresponde a 12% dos atendimentos oferecidos. Estima-se que, no período, foram ofertadas mais de 91,8 mil consultas em 58 serviços, incluindo hospitais e ambulatórios da prefeitura.

O número de faltas a consultas com especialistas já é maior do que em todo o ano de 2021, quando foram registradas 10.441 ausências — o percentual de absenteísmo, como é chamado, também ficou em 12% no período. No ano passado, no entanto, o impacto da pandemia fez com que diversos atendimentos não fossem oferecidos.

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Desde o início de 2022, o mês que registra o maior número absoluto de faltas é agosto, com 1.536. Dentre todos os serviços, o Hospital da Restinga e Extremo Sul, localizado na zona sul da Capital, é o mais impactado pela ausência dos pacientes: 1.867 pessoas deixaram de comparecer a consultas desde o início do ano, o que equivale a 16,9% do total de faltas da rede pública.

— Muitas vezes as pessoas acabam confirmando a presença só para garantir, mas já sabem que não vão poder. E isso é um problema. É um prejuízo para o sistema. Outros pacientes vão deixar de consultar e de ter a solução para o seu caso. É preciso o espírito de solidariedade — destaca a diretora de Atenção Primária à Saúde da SMS, Caroline Schirmer.

Agendamento

A porta de entrada na rede pública é a unidade de saúde, onde o paciente recebe um primeiro atendimento. Se for encaminhado para consulta com especialista, ele vai para uma fila de espera e fica aguardando o agendamento. A confirmação da consulta pode ser feita no aplicativo 156+POA ou, caso o paciente não acesse, receberá uma ligação de servidores da prefeitura. O problema, segundo Caroline, é a dificuldade de conseguir contato em alguns casos.

— Precisamos ligar para boa parte das pessoas, e essa é nossa grande saga. Porque, às vezes, a pessoa não atende, ou o telefone está desligado ou não é mais da pessoa. E aí a gente acaba não conseguindo chegar. Mas sempre que a gente não faz contato, não confirma as consultas. Por isso o absenteísmo diminuiu ao longo dos últimos anos. Porque, antes, era marcado e não havia a confirmação, então todo mundo ficava marcado. Há uns cinco, seis anos, o absenteísmo era de 40% nas consultas especializadas. Então essa confirmação facilitou para que pudéssemos controlar e não ter ociosidade. Mudamos essa lógica para otimizar as consultas especializadas — explica a diretora de Atenção Primária.

A SMS pede para que a população mantenha seus contatos atualizados e procure acompanhar o agendamento no aplicativo. Caso não possa comparecer, é preciso informar.

— Se o paciente diz que não pode, ele permanece no mesmo lugar na fila. Não perde a vez. Mas, se falta a consulta, vai voltar para o final da fila, ou pode precisar fazer nova reavaliação — reforça Caroline.

Mais faltas em serviços da prefeitura

O percentual de faltas a consultas com especialistas chega a 20% quando a lupa é colocada somente sobre os Centros de Especialidades, que são os serviços próprios da prefeitura da Capital. No total, 2.889 pessoas deixaram de comparecer aos consultórios médicos entre janeiro e setembro — estima-se que, nesse período, tenham sido oferecidos mais de 14,4 mil atendimentos. Em todo o ano de 2021, o percentual de absenteísmo ficou em 18% nesses locais.

Os dados levam em conta os ambulatórios IAPI, Vila dos Comerciários, Murialdo, Santa Marta, Modelo e Camaquã. O campeão de faltas é o do IAPI, com 910.

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Para a coordenadora da Regulação Ambulatorial da SMS, Fabiane Mastalir, o índice maior de faltas em serviços da prefeitura tem relação com a facilidade de conseguir o agendamento.

— Há dois casos em que o índice de faltas é maior: quando a consulta demora muito tempo, como um ou dois anos, ou quando o paciente consegue marcar de forma muito rápida. Isso ocorre porque ele entende que, se não comparecer, poderá marcar novamente em poucos dias. Nos serviços da prefeitura, são oferecidas consultas de média complexidade que não demandam muito tempo — detalha.

Mais de 90 mil na fila de espera

O dado mais atualizado pela SMS, até setembro, aponta que 91.440 pacientes aguardam por consultas especializadas na Capital. O número engloba apenas especialidades médicas. Dentre todos os meses de 2022, a fila só não é inferior ao mês de março, quando 91.810 pessoas estavam na espera.

A maior fila é para "oftalmologia geral adulto", com 6.968 pessoas aguardando. A espera chega, em média, a 379 dias (superior a um ano) para pacientes com baixa prioridade e complexidade média, e a 319 dias para baixa prioridade e alta complexidade. Já para pacientes com alta prioridade, são dois e três dias, respectivamente.

Para "dermatologia geral", o tempo médio de espera é superior a um mês, independentemente do caso. Para pacientes com baixa prioridade e alta complexidade, o período aguardando por um agendamento pode chegar a 180 dias. No total, são 4.625 pacientes na fila.

Há ainda as filas para atendimento com outros profissionais da área da saúde. Para especialidades odontológicas, são 15.858 pacientes aguardando. Para outras especialidades, como nutrição, fonoaudiologia e fisioterapia, são 14.824.

— Existem filas de anos, e essa é uma das nossas grandes preocupações. Por causa da pandemia, consultas especializadas ficaram bloqueadas ao longo de quase todo o ano de 2020, e os hospitais só atendiam casos de urgência. Estamos fazendo mutirões de cirurgias e de exames, e estimulando que as pessoas baixem o aplicativo e confirmem as consultas para que possamos diminuir o número de faltas — afirma a diretora de Atenção Primária à Saúde da SMS, Caroline Schirmer.



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