Notícias



Papo Reto 

Manoel Soares: "Jesus é Oxalá"

Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados 

25/02/2023 - 05h00min

Atualizada em: 25/02/2023 - 05h00min


Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Respeito pelas religiões de matriz africana

Um dos assuntos mais falados nas redes sociais nesta semana foi a confusão envolvendo o participante Cristian do BBB 23. Ele e outros membros da casa disseram ter medo de situações que seriam alusivas à religião afro. Apesar de muitos de nós criticarmos a atitude, volta e meia incorremos no mesmo erro. Quem não foi criado ou desconhece as religiões de matriz africana, volta e meia tem uma fala que traduz algum tipo de racismo religioso. Frases de tiração de onda tipo: “Chuta que é macumba”, “Volta pro mar, oferenda”, entre outras, são comuns no dia a dia. 

Fora que, dependendo da pessoa, se alguém da família decide seguir a doutrina afroreligiosa, passa a não falar mais com o parente. Essas atitudes não são por acaso, o Brasil tem uma raiz de permanente demonização da religião afro desde a colonização e escravização. Os Orixás, em muitas religiões, não são entidades espirituais, mas demônios que devem ser evitados. Em parte nenhuma da Bíblia os Orixás são identificados como demônios, mas para enfraquecer a adesão aos cultos afros e perpetuar o racismo religioso, essas mentiras foram passadas aos fiéis como verdade. 

Leia mais colunas de Manoel Soares
Carnaval é sobre isso
As frases que é melhor nem falar
Momento de Glória

Hoje, porém, é importante entender que intolerância religiosa é crime, e está tipificada na lei 14.532, que criminaliza o racismo. Esse crime pode dar de dois a cinco anos de prisão e multa. Fora que muitos de nós temos em nossa rotina diária e cultural práticas das religiões de matriz africana, quer ver só? Quem nunca pulou ondinhas no Ano-Novo? Isso é uma prática da religião afro, porque pular sete ondinhas é uma referência a Exu, que é filho de Iemanjá. No Ano-Novo, também é comum usar roupa branca, em referência a Oxalá, Orixá mais respeitado de todos os Orixás. Essas práticas são das religiões de matriz africana. O acarajé é outro exemplo, é uma comida sagrada do ritual de Iansã e muitos comem sem nem saber do que estão fazendo parte. Fora outras práticas que nem sequer notamos, mas que já foram incorporadas em nossa rotina. Além de crime, intolerância religiosa é uma completa falta de conhecimento e inteligência, até porque Cristo, quando esteve na Terra, não trouxe nenhuma religião, mas pregou o amor ao próximo e respeito mútuo. Quem não faz isso não pode dizer que é cristão, pois desrespeita os ensinamentos de Jesus Cristo, que por sinal, na religião afro, é Oxalá.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias