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Em escola da Capital, alunos estão há quase dois meses sem merenda

Desde o retorno do recesso escolar, o Colégio Estadual Cândido José de Godói não dispõe de servidoras para preparar refeições  para o turno da noite

29/09/2023 - 16h14min

Atualizada em: 29/09/2023 - 17h30min


diario gaucho
Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Das três profissionais que atuavam no local, apenas uma permaneceu

A falta de profissionais impede a distribuição da merenda escolar no turno da noite do Colégio Estadual Cândido José de Godói, no bairro Navegantes, zona norte da Capital. O problema passou a ocorrer após o retorno do recesso escolar, em agosto.

De acordo com o vice-diretor Mário Antônio da Silva, a escola foi informada pela Secretaria de Educação (Seduc) de que o contrato entre o Estado e a empresa terceirizada, responsável por manter as profissionais, chegou ao fim. Das três servidoras que trabalhavam no local, apenas uma permaneceu.

– Agora, a escola só tem uma merendeira, graças a um contrato emergencial. Ela consegue fazer as refeições para o turno da manhã e tarde, mas, à noite, já não é mais o horário dela e ficamos sem (merenda) – explica o vice-diretor.

Dificuldades

Com a insuficiência de profissionais para realizar serviços básicos, os alunos precisam encontrar maneiras de se adaptar à rotina. A estudante Sarah Teixeira, 17 anos, está prestes a concluir o segundo ano do Ensino Médio. Durante o dia, trabalha como Jovem Aprendiz e, à noite, frequenta as aulas. Já que não consegue passar em casa para jantar, tenta “enganar” o estômago:

– Se der, eu trago um lanche, mas a gente fica com fome, porque comer só salgadinho não adianta.

A jovem também relata outro problema causado pela falta da merenda: como uma alternativa para driblar a fome, alguns alunos da escola optam por passar em casa após o trabalho. Com isso, se atrasam e acabam perdendo o primeiro período das aulas. A própria estudante já vivenciou isso.

– Teve um dia que eu não estava aguentando a fome e passei em casa pra jantar, então, me atrasei. É ruim, porque a gente acaba perdendo uma parte da aula – comenta.

Prestes a concluir o Ensino Médio, a estudante do terceiro ano Jessica Machado, 18 anos, também precisa se dividir entre o trabalho e os estudos. Durante o dia, a jovem atua como vendedora. Ao final do seu turno, à noite, estuda. Ela conta que sua última refeição é o almoço, ao meio-dia. Depois, come apenas quando chega em casa, por volta da meia-noite.

–A maioria dos estudantes do noturno trabalha durante o dia. Uma janta pode ser algo simples, mas, no nosso caso, faz toda diferença. É muito difícil, mas nós não temos outra opção. Não dá pra desistir – desabafa Jessica.

Problema é recorrente, diz vice-diretor

Não é a primeira vez que faltam merendeiras na escola durante o turno da noite. Segundo o vice-diretor Mário, no ano passado, a alternativa encontrada para não deixar os estudantes sem merenda foi direcionar aos professores a tarefa de distribuir os alimentos.

Na ocasião, uma única servidora era responsável por preparar as refeições dos três turnos, que eram servidas por ela durante a manhã e tarde. Antes de finalizar o expediente, a merendeira deixava o jantar do turno da noite pronto. Durante o intervalo das aulas, professores se encarregavam da distribuição das refeições aos estudantes. Foram mais de dois meses trabalhando dessa forma.

“Inadmissível”

– Nós fizemos isso no ano passado, mas a merendeira estava se desdobrando para atender à demanda de toda escola. Também é inadmissível que os professores se desloquem das salas de aula para servir merenda. A gente conseguiu fazer até onde foi possível – conta Mário.

Revoltados com a situação, os estudantes se reuniram em assembleia e decidiram que iriam cobrar medidas do Estado. A forma que encontraram foi enviando e-mails à Seduc, solicitando o retorno das servidoras.

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Mensagens

– Fizemos um mutirão e enviamos diversas mensagens à Seduc. A ideia era chamar a atenção. Mas não adiantou, não tivemos nenhum retorno – lamenta Sarah.

Também foi realizada uma reunião com os pais dos estudantes, que se somaram à mobilização da comunidade escolar.

– Os alunos da noite são muito fragilizados. Já estudam nesse horário porque têm a necessidade de trabalhar. Eles vêm direto do trabalho, às vezes em ônibus lotado, cansados e mal alimentados. Aí, quando chegam na escola, não têm o que comer. É complicado, né? – finaliza o vice-diretor.

O que diz a Seduc

A assessoria de comunicação da Secretaria de Educação informou à equipe de reportagem do Diário Gaúcho que a contratação de um novo profissional deve ser concluída em breve. A estimativa é de que, na próxima quarta-feira (4), a escola poderá voltar a oferecer as refeições aos estudantes do turno da noite. Não houve esclarecimentos quanto à demora para concluir o processo.

Produção: Nikelly de Souza



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