Seu Problema é Nosso
Um olhar diferenciado sobre o ensino da história de Canoas
Professora leva alunos para passeio turístico e apresenta os monumentos da cidade de forma lúdica
“Sou a Professora Maluquinha e saí desse livro para te contar essa história!”, é como se apresenta Christiane Oliveira, 50 anos, professora da rede municipal de ensino de Canoas. De casaco vermelho e chapéu com um “N” de Napoleão, a personagem já é conhecida dos alunos canoenses.
Christiane dá vida à personagem desde 2000, quando escolheu trabalhar a obra do escritor Ziraldo, autor do livro Uma Professora Muito Maluquinha, em sala de aula. O jeito brincalhão e diferente de lecionar lhe rendeu o apelido que, conta ela, foi confirmado pelo próprio inventor dois anos depois.
– O Ziraldo ia visitar uma escola de Canoas, e pedi ao pessoal da editora que o levassem para conhecer o meu projeto. Preparei um teatro com 48 crianças, com o figurino dos seus personagens. Ele ficou encantado! Quando peguei o microfone para agradecer, ele o pegou e disse: “Tu és a Professora Maluquinha!”.
Turistando
Um dos mais recentes projetos da Professora Maluquinha é o Turistando pelo Centro de Canoas. O passeio leva alunos de terceiros e quartos anos escolares, todas as quartas-feiras, para conhecer pontos turísticos e monumentos importantes do município. Desde janeiro, 1.131 crianças de escolas privadas e públicas, municipais e estaduais, da cidade já participaram.
Além de apresentar a cidade para as turmas, a atividade abrange conteúdos vistos em sala de aula que complementam o aprendizado, como sustentabilidade, respeito, atenção na rua e preservação do patrimônio público. O diferencial da atividade é que ela é pensada para ser atrativa para as crianças, que nem sempre são cativadas pela linguagem adotada pelos professores e guias de museus.
– Eu descobri que falando a palavra “curiosidade”, chama mais a atenção, e eles aprendem mais sobre o lugar – conta.
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A rota começa na Casa de Artes Villa Mimosa e termina na Praça do Avião. A penúltima parada é na Biblioteca Municipal, onde a Professora Maluquinha faz uma sessão de contação de histórias e para onde volta depois da passagem pela praça, pois é onde “mora”.
–E eles acreditam! – brinca Christiane.
Ela conta que, no trajeto de cerca de dois quilômetros, a criançada toma a rua:
– É bonito. Os professores perceberam que as crianças pós-pandemia são diferentes, conhecem só o bairro delas. No centro, elas conhecem o Calçadão, mas não a outra parte, o nome das praças, a prefeitura. A noção de mundo é diferente. Então, (o projeto) ajuda a resgatar a questão da localização e a sensação de pertencimento.
Sempre brincalhona
Formada em História e pós-graduada em Alfabetização e Letramento, Christiane diz que usa tanto a Professora Maluquinha que as pessoas já a conhecem assim.
Além da atividade turística, ela faz sessões de contação de histórias em escolas duas vezes por semana, com o músico Duda Gasparoni, e promove o Pontinho de Vista, às sextas – projeto que leva os pequenos da Educação Infantil para conhecer um local de Canoas e fotografá-lo, com apoio das professoras, a partir do seu ponto de vista.
Quando encarnou a Professora Maluquinha pela primeira vez, há 23 anos, a docente dava aulas em uma escola da rede privada para os anos iniciais e na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Anos depois foi, também, para a Educação Infantil. Mas não importava o nível de ensino: sua forma lúdica e brincalhona de ensinar conquistou alunos e chamou a atenção da Secretaria Municipal de Educação (SME), que a convidou para trabalhar na área pedagógica da pasta. Há 12 anos, sua sala de aula é a rua.
– O passeio é uma surpresa, eu também não sei o que eu vou encontrar. O amor das crianças em conhecer os lugares e o brilho nos olhos motivam o trabalho.
Produção: Caroline Fraga