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Instituição oferece linha de crédito exclusiva para afroempreendedores gaúchos

Empreendedores negros poderão acessar até R$ 20 mil e o programa Juro Zero nos municípios onde o recurso está ativo

29/11/2023 - 05h00min


Caroline Tidra
Caroline Tidra
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Anselmo Cunha / Agencia RBS
Simone conseguiu crédito para evento na área da beleza

A Rede Brasil Afroempreendedor (Reafro), em parceria com uma operadora de crédito, a Imembuí Microfinanças, lançou uma linha de crédito para apoiar os empreendedores negros a desenvolver seus negócios. No Brasil, os empreendedores negros correspondem a 52% dos donos de negócios. Esse número equivale a cerca de 15,2 milhões que se autodeclaram pretos ou pardos, de acordo com levantamento feito pelo Sebrae com base em dados da  Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do terceiro trimestre de 2023. 

No entanto, a pesquisa também mostra que apesar de serem maioria dentro do empreendedorismo brasileiro, os negros donos de micro e pequenas empresas são os que têm o menor nível de faturamento e o menor nível de escolaridade. Além disso, apenas 23,6% dos afroempreendedores têm CNPJ, ou seja, possuem uma empresa formalizada. Preocupada com esses índices, a Reafro pensou formas de apoiar os negócios de empreendedores negros. 

– A Reafro é produto de uma mobilização nacional. A partir de oficinas técnicas, planos de negócios, criou-se uma base e se começou a pensar em formas de apoiar os afroempreendedores – diz o professor e coordenador executivo da Reafro Nacional, João Carlos Nogueira.

Os afroempreendedores associados da Reafro poderão acessar até R$ 20 mil e o programa Juro Zero nos municípios onde o recurso está ativo, como Porto Alegre, Panambi, Pejuçara, São Borja, Saldanha Marinho e Santa Bárbara do Sul. A linha de crédito Origem leva esse nome como uma referência à ancestralidade da comunidade negra, que segundo a Reafro, pode também ser traduzido como sonho, oportunidade, esperança e inclusão. O crédito Origem foi lançado em outubro deste ano. 

Conforme Nogueira, o acordo pode impactar a vida de milhares de empreendedores. O professor explica que o grupo enfrenta três barreiras para alavancar os negócios: falta de informação e formação, o conhecimento para gerir e manter os negócios e a necessidade de impulsionamento e aceleramento, que é o acesso ao crédito.

– Os afroempreendedores possuem mais dificuldade por diversos fatores, como escolaridade, pelo histórico de empreender, dificuldades iniciais, entre outros. O crédito foi desenhado a partir da experiência acumulada da Reafro e Imembuí, pois enxergamos a totalidade dessas dificuldades – afirma o professor. 

Além de apoiar no acesso ao crédito, a Reafro oferece o programa MentPreta, uma mentoria para negócios liderados por afroempreendedores para impulsionar e fortalecer as atividades econômicas. A rede conta com mais de 2 mil associados em 19 Estados.

Diferencial

Entre os diferenciais da linha, além de uma taxa facilitada, está o fato de que o empreendedor não terá e pagar seguro ou manutenção de conta. Outro fator que faz diferença é a análise a partir do conhecimento do negócio local e da necessidade do empreendedor. 

– A Reafro esbarrava na procura de uma instituição que tivesse o olhar preocupado, não somente em dar o crédito, mas na liberação orientada, e que entendesse o negócio do afroempreendedor e, a partir disso, colocasse à disposição uma linha de crédito que ajudasse no seu crescimento. Com o Origem, o agente de crédito visita presencialmente ou de forma remota cada atividade e negócio que solicita o acesso ao crédito para entender como funciona e conhecer a trajetória daquele empreendimento. É algo inédito que está acontecendo a nível nacional. A intenção é levar esse projeto para outros Estados – detalha Renata Ferrari, diretora-geral adjunta da Imembuí. 

Como funciona o acesso

Para o empreendedor solicitar o crédito, é necessário ser associado da Reafro, cuja taxa de participação é gratuita. Ao procurar a Imembuí, o solicitante deve apresentar documentos básicos de identificação e, se tiver, o comprovante de microempreendedor individual (MEI) ou microempresa (ME). É necessário ter mais de seis meses de desenvolvimento de suas atividades e possuir faturamento anual de até R$ 360 mil– que é valor de referência para as micro e pequenas empresas. Pessoas físicas que se enquadrem nos requisitos também podem acessar as linhas de crédito. 

Não precisa de uma apresentação de faturamento. Isso facilita para quem ainda tem o negócio informal e que não tem como comprovar a renda. Na validação do cadastro, o agente de crédito faz a visita para entender como funciona e conhecer o histórico. Hoje, a Imembuí atende mais de 130 cidades presenciais e também tem atendimento remoto em outras – diz Renata. 

Para a aprovação do crédito, é preciso que o afroempreendedor tenha um avalista com renda compatível. No entanto, o acordo de cooperação permite a modalidade de crédito comunitário, no qual três a cinco empreendedores solicitam o crédito, sendo cada um responsável solidário dos demais. 

– A questão do crédito comunitário é muito forte no sentido de fortalecer uma rede de empreendedores. Tivemos uma experiência assim com senegaleses em Cruz Alta, que se apoiaram e garantiram um a operação do outro – explica Renata. 

A representante da operadora de microcrédito destaca que, dentro do último mês, as operações de afroempreendedores passaram de 8% para 13%, crescimento que também é atribuído à política de crédito direcionada. 

Recursos para impulsionar evento inédito

A jornalista e produtora de eventos Simone Martins foi uma das afroempreendedoras que já conseguiu o crédito. Simone organizou a Jornada Black Beauty, evento voltado para a área da beleza, bem-estar, gestão de negócios e empreendedorismo que ocorreu no sábado (25). Segundo ela, foi o primeiro encontro da beleza negra do sul do país

– Sentia a necessidade de um evento voltado para área da beleza negra, da moda, da inclusão, em um palco igualitário. O que faltava no Rio Grande do Sul era um evento de quem fale de cabelos, de pele, de tratamentos, maquiagens, e muitas dessas especializações acontecem em outros Estados – conta Simone. 

Mas, como todo evento precisa de recursos para concretização, ela viu no crédito Origem uma alternativa em meio à falta de patrocínio. 

– Eu acreditava que não ia conseguir crédito para esse projeto. Conversando com eles (representantes da Imembuí) sobre esse evento, analisaram desde a raiz do meu negócio, escutaram minha história e, mesmo estando negativada por conta do encerramento de uma sociedade, consegui um valor. Me oportunizaram ter um crédito para o evento que também visa o afroempreendedorismo – explica Simone. 

De acordo com a produtora, o valor não cobre todo o evento, mas foi necessário para o complemento do pagamento de alguns serviços. Durante a Jornada Black Beauty, foram abordados diversos temas relevantes para profissionais e empreendedores do ramo, possibilitando conhecimento, networking e oportunidades de negócio.

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