Letramento digital
Conheça o curso que ensina trabalhadoras domésticas a usar aparelhos eletrônicos
Alunas são de Porto Alegre e da Região Metropolitana
Um cartaz fixado no mural do condomínio em que mora, no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre, oportunizou que Liriane Pinheiro dos Santos, 37 anos, realizasse o sonho de entrar em uma universidade como aluna. Isso ocorreu em julho deste ano, quando ela participou de uma das edições do Programa Mulheres Tech, realização da UniRitter, da ONG Themis e da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad).
Na formação, as selecionadas — todas trabalhadoras domésticas — aprendem a utilizar aparelhos eletrônicos como celular e computador. Nos encontros, estudantes universitários dos cursos das áreas de Humanas e Tecnologia da Informação (TI) da UniRitter tornam-se monitores. Assim, cada aluna aprende a acessar funcionalidades do próprio aparelho celular e de computadores do laboratório de informática da instituição de ensino.
— Eu adorei aprender a mexer no Word (programa de edição de texto). Também me chamou a atenção a função de utilizar o WhatsApp no computador, que era algo que eu ainda não sabia fazer — relembra Liriane.
Aprendizados
Professor e coordenador do Mulheres Tech, Vinicius Cassol explica que a motivação para realizar a formação surgiu após uma oficina que ele ministrou para lideranças comunitárias femininas em Porto Alegre, as Promotoras Legais Populares (PLPs). Segundo o ele, principalmente a partir da pandemia, essas mulheres foram estimuladas a participar de reuniões e cursos online. Porém, nem todas conseguiam utilizar plenamente os aparelhos eletrônicos.
— A gente começa (o curso) trabalhando para que elas percam o medo de usar o computador e o celular. Depois, vamos agregando outros conhecimentos — explica o Vinicius.
Os encontros da turma atual começaram em 4 de outubro e são realizados todas as quartas-feiras, à noite, no campus Fapa da UniRitter. Ao todo, são 120 horas em que as alunas aprendem o que são e como usar acessórios eletrônicos como mouse e teclado. Também são ensinadas atividades como salvar imagens, criar e-mail, utilizar o WhatsApp, entre outras.
Lideranças comunitárias como aliadas
Assistente de projeto na área do trabalho remunerado da Themis, Fabiane Lara dos Santos conta que a proposta principal do programa é diminuir as lacunas sociais que, ainda hoje, existem. A turma atual, com cerca de 50 alunas, é composta por mulheres de Porto Alegre e da Região Metropolitana. Para participar do curso, é preciso preencher um formulário durante o período de inscrições, geralmente divulgado nos sites e nas redes sociais das entidades que organizam a qualificação.
No entanto, a principal maneira de divulgação — e uma das mais efetivas, de acordo com Fabiane —, ocorre através do "boca a boca" feito pelas Promotoras Legais Populares. Atuando como lideranças comunitárias, elas divulgam informações sobre o curso em locais específicos da comunidade como, por exemplo, em escolas, centros comunitários e postos de saúde.
Janete Aparecida da Silva Ilário, 43 anos, moradora do bairro Passo das Pedras II, em Porto Alegre, soube da existência da formação após uma líder comunitária compartilhar em um grupo de mães no WhatsApp. Há muitos anos, ela tinha vontade de realizar um curso com foco em informática básica. Apesar de ser um desejo antigo, o acúmulo de tarefas como mãe, trabalhadora e dona de casa impediu, até então, que ela participasse de alguma atividade.
— Pra mim está sendo incrível (participar do curso). Eu estou me sentindo no auge da minha vida. Só de entrar em uma universidade eu já fico com mil e uma ideias. Fico pensando que esse é apenas o início. Quero me organizar e talvez iniciar o ensino superior, sempre foi meu sonho — conta Janete, que afirma que as filhas foram as principais incentivadoras para que ela se matriculasse.
Novos Horizontes
Após três edições em Porto Alegre, em 2023 o programa foi ampliado para outras capitais do Brasil. Com a mesma metodologia, o curso está sendo oferecido para trabalhadoras domésticas do Rio de Janeiro, de Salvador, de São Paulo e do Recife. As aulas são ministradas por alunos de outras instituições de Ensino Superior do ecossistema Ânima.
Para Liriane, a formação realizada em julho foi apenas o início de uma trajetória. Após a formatura no Mulheres Tech, ela conta que hoje está realizando outro curso online, desta vez focado na divulgação dos direitos das trabalhadoras domésticas.
— O Mulheres Tech foi fascinante para mim. Tive a oportunidade de conhecer pessoas diferentes, lugares novos. Sinto muita gratidão por ter tido essa experiência — conta, emocionada.
Para saber mais sobre o programa acesse: www.mulherestech.animahub.com.br.