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Despedida parcial

Homens de Perto comemora 15 anos e anuncia despedida de temporadas tradicionais

Peça, que apresenta a versão Desgovernados, a partir do dia 21, no São Pedro, terá temporadas regulares somente no Porto Verão Alegre. Em entrevista exclusiva, trio fala do sucesso e do humor no país. 

17/06/2017 - 12h00min

Atualizada em: 20/06/2017 - 20h08min


José Augusto Barros
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Oscar, Beretta e Zé Victor:

Uma das peças mais populares do teatro gaúcho abre as comemorações do seu début em setembro. Antes ainda, a partir da quarta-feira que vem, o trio apresenta, no Theatro São Pedro, Homens de Perto Desgovernados, terceira versão do humorístico - nos palcos, desde 2003.

Para celebrar estes 15 anos, que marcam uma espécie de despedida das temporadas tradicionais, Zé Victor Castiel, Oscar Simch e o diretor do espetáculo, Néstor Monasterio, relembram causos e falam do que mais sabem fazer: multiplicar alegria.

Despedida no embalo da política nacional

No palco, na versão desgovernados

A temporada que estreia no próximo dia 21, no Theatro São Pedro, terá uma peso a mais: a partir de 2018, Homens de Perto terá apresentações só no Porto Verão Alegre e em eventuais espetáculos, sem a tradicional temporada fixa, que tanto divertiu os gaúchos. Por isso, tem sabor de despedida.

– Quando nós começamos, éramos jovens. Decidimos não fazer mais longas temporadas, aquelas que iam de quarta a domingo. Tiro curto, espetáculos em dois dias, a gente fará. Em uma época, a gente fazia de quarta-feira a domingo, em Porto Alegre, e, na segunda e terça, pelo Interior – recorda Zé Victor Castiel, 58 anos.

Piadas atuais

A nova montagem, Desgovernados, pega carona na situação do país. A ênfase é na política nacional, com novas cenas e músicas diferentes.

– Em uma das sequências, nós três estamos em uma fila da Previdência Social, tentando uma maneira de se aposentar sem trabalhar. E, a partir daí, vêm as cenas com conotação política. Esperamos que a gente possa rir dos políticos, ao invés de eles rirem da gente – alfineta Rogério Beretta, 57 anos, que nunca perde a piada:

– Quando estreou Desgovernados (em 2016), a situação política estava horrível. Agora, graças a Deus, melhorou... O espetáculo exige ensaios do trio, para atualizar as piadas, por conta de novos e sucessivos escândalos da política nacional, principalmente, nos últimos meses, como Beretta bem lembra:

– Teremos que atualizá-lo ainda na véspera da estreia, certamente.

Serviço

– O quê: última temporada regular de Homens de Perto _ Desgovernados

Quando: de quarta-feira (21 de junho) até sábado (24), às 21h, e, domingo (25), às 18h

Onde: Theatro São Pedro, Praça Marechal Deodoro, s/nº

Quanto: ingressos a R$ 20 (galerias), R$ 40 (camarote lateral) e R$ 60 (plateia, cadeira extra e camarote central)

A fórmula do sucesso

Com um humor simples, regado a pitadas de acidez, e com três atores rápidos nas sacadas, a peça, em sua estreia, em 2003, logo caiu nas graças do público.

Em 2003, a primeira versão

Nos anos seguintes, virou fenômeno nos palcos gaúchos. Os números _ 700 mil espectadores, 15 anos, 50 cidades visitadas e mais de 700 apresentações _ reforçam o sucesso.Entre 2004 e 2007, o trio relembra feitos dignos de espetáculos nacionais.

– Chegamos a fazer 20 semanas seguidas em cerca de cinco meses. E sempre lotado – relembra Oscar Simch, 60 anos.

Entre risos e choro

A estreia de Homens de Perto 2 veio em 2010, quando experimentaram novas aventuras nos palcos. A plateia foi à loucura junto, pelos subterrâneos do ocultismo, da magia e da telepatia, e ainda deu uma passada por uma estética feminina para ver o que elas pensam da vida.

Sem contar que o trio propôs o separatismo do Rio Grande do Sul! Esta combinação de temas é creditada por eles como um dos segredos do sucesso da peça, além do humor longe do politicamente correto, mas sem cair na apelação.

Em 2010, a segunda versão de um sucesso

– Nunca tivemos esta preocupação com o politicamente correto. A gente sabe como fazer sem ser ofensivo – afirma Oscar, que ganha coro de Beretta:

– Fazíamos piada com a gente mesmo, um falando de cada um. Agora, não! Todos nós pagamos mico no palco... E todos os brasileiros também.

Para Beretta, a peça abriu as portas do teatro para uma camada mais popular da sociedade.

– Eram pessoas que tinham "medo" de ir ao teatro, de chegar lá e de não entender, de se sentirem deslocadas. Já teve gente chorando depois dos nossos shows, quando iam falar com a gente, nos agradecendo – comemora.

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Humor com posicionamento ético, sem qualquer apelação desnecessária

Durante mais de uma hora, os três atores e o diretor do espetáculo, Néstor Monasterio, conversaram com o Diário Gaúcho, relembraram histórias curiosas nestes 15 anos e falaram sobre o atual momento do humor no país.

Diário – Em 14 para 15 anos, o que mais marcou vocês?
Zé Victor Castiel –
Fizemos espetáculos de humor com um público inimaginável para os dias de hoje. Lembro de um, em Campo Bom, em janeiro, lá por 2004. Tinha um palco em uma praça, e a prefeitura calculou que iriam umas 3 mil pessoas. Só que chegaram cerca de 10 mil pessoas, e o pessoal nos disse: "Vocês tiveram mais público do que Bruno & Marrone", que haviam feito show ali, uns dias antes.
Néstor Monasterio – Eles saíram com uns seis seguranças cada, tamanha a quantidade de gente!

Diário – Depois do estouro de vocês, outros humoristas apareceram para os gaúchos como o Cris Pereira e o Guri de Uruguaiana. Como veem este boom?
Zé Victor
– Depois que Homens de Perto estreou, proliferaram vários espetáculos de humor. O Guri de Uruguaiana (Jair Kobe), por exemplo, que é nosso amigo, faz um show mais musical, fenomenal! O Cris, também nosso parceiro, faz um espetáculo mais fantasiado, um stand-up fantástico!

Tangos (& Tragédias) era popular no sentido de atrair muita gente, mas era mais elaborado. Fazemos uma comédia teatral ao estilo do teatro de revista (que se tornou popular no Brasil a partir do final do século 19, com falas irônicas, de duplo sentido e canções apimentadas). Homens de Perto trouxe um humor que andava esquecido.

Diário – Qual é o segredo para se manter popular, levando tanta gente ao teatro?
Zé Victor –
Acho que é o estilo do humor, que não é ofensivo. Nos aproximamos muito mais de Os Trapalhões, por exemplo, do que de alguns mais atuais.
Néstor – A gente detona a gente mesmo (no palco).

Diário – Lembram do primeiro espetáculo em 2003?
Néstor
– Claro! Foi em um fim de semana. Uma apresentação em Rio Grande, outra, em Pelotas. Com cem pessoas em cada um (risos).

Diário – Como surgiu a proposta de criar a peça?
Oscar Simch
– A ideia era fazer algo para a gente se divertir.
Zé Victor – Na época, tinham muitos espetáculos femininos, que falavam mal dos homens.
Néstor – Aí, pensamos: "Chega de as mulheres falarem mal dos homens! Se é para falar mal da gente, deixa que a gente mesmo fala (risos)"!

Diário – Vocês souberam usar muito bem a divulgação na tevê. Mas e com a chegada da internet?
Rogério Beretta –
Sabe que isto é curioso? Já fui abordado por gente que disse que nos conhecia da tevê, mas não tinha ido na nossa peça (risos).
Zé Victor – Perdemos o bonde da história, não soubemos usar a internet, até por questão de geração, eu acho. Se tivéssemos explorado a internet, nós teríamos grande chance de virarmos youtubers.
Beretta – Mas, aí, teríamos que tirar todo o conteúdo da nossa cabeça para virar youtuber.

Diário – Como é fazer humor no nosso país, onde existe, hoje, uma certa patrulha sobre tudo o que se diz?
Beretta –
Chato, muito chato! Não pode falar de fulano, que leva processo.

Diário – Um dos problemas enfrentados por alguns humoristas que fazem stand-up, principalmente, são ofensas raciais e piadinhas contra minorias. Como vocês lidam com isto ao longo do período em que Homens de Perto dominou os palcos?
Oscar
_ Que sentido tem usar um preconceito contra gays ou contra minorias? Nenhum! É preciso ter um posicionamento ético. Se tu tens esta posição, dificilmente, fará coisas que não são éticas.
Zé Victor – Para nós quatro, não cabe. Não cai bem uma piada de cunho racista ou homofóbico.
Beretta – Se tu fores analisar as nossas piadas na peça, tem uns três ou quatro palavrões, só. Não combina com a gente.

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