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Conheça quatro mulheres de destaque na nova geração nativista

Suzana Paz, Maria Alice, Graciele de Souza e Nicole Carrion vem chamando atenção no Estado. Neste sábado, festival feminino reúne mulheres na Serra.

27/05/2022 - 17h36min


José Augusto Barros
José Augusto Barros
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Carol Quaiato / Divulgação
Suzane: um dos destaques da nova geração, lançou disco em 2022

Neste sábado, Bento Gonçalves, na serra gaúcha, recebe a segunda edição do festival Galpão das Patroas que, em 2022, será presencial. Entre as 17 atrações, estão nomes consagrados como Loma, Fátima Gimenez, Shana Muller, Maria Luiza Benitez e Analise Severo e novas caras do nativismo, como Luiza Barbosa, Nicole Carrion, Graciele de Souza e Maria Alice. A função acontece na Associação Bentogonçalvense da Cultura Tradicionalista Gaúcha e todos os recursos arrecadados com os ingressos serão repassados para o Banco de Alimentos do Rio Grande do Sul. Porém, mais do que os shows deste evento, que tem como um dos organizadores Cassio Scherer, baterista do grupo Tchê Guri, essa nova geração de mulheres nativistas, que vem ganhando força, principalmente, em festivais pelo Estado afora, chega com força para ocupar com maior volume o espaço feminino em um meio tradicionalmente masculino, e também conhecido por ser machista e estimular canções de cunho machista. 

Neste fim de semana, o Diário Gaúcho convidou quatro destaques nativistas da mulherada para dar seu pitaco sobre temas sempre presentes no meio, tão debatidos, mas que seguem ali, sempre na espreita, como machismo e ocupação de espaços nos meios tradicionalistas. Conheça um pouco das historias de mulheres que vem mudando a cara da música gaúcha, dividindo espaço com os homens e abrindo espaço para que as novas gerações voltem aos Centros Gaúchos de Tradições (CTGs), bailes, rodeios e feiras. Com vocês, as ideias, ideais e inspirações de Nicole Carrion, 24 anos, Graciele de Souza, 37, Suzane Paz, 31 e Maria Alice, 17. 

Suzane Paz:

Em 2022, Suzane Paz trouxe ao público o primeiro állbum autoral, Florescida Raiz, com letras e melodias suas e em parcerias com Clarissa Ferreira, Caio Martinez, Joaquim Velho, Lucas Ferrera, Charlise Bandeira. Suzane, que usa o nome artístico Su Paz, 31 anos, já cantou em grupos de baile, musicais de invernadas, participou de festivais nativistas e fez backing vocal para Elton Saldanha e Cristina Sorrentino, mas ainda não tinha lançado o tão sonhado primeiro disco solo, o que aconteceu no começo deste ano.

Espaço da mulher no nativismo atualmente:

- Estamos no meio de uma transição de tempos, não só no setor da música. A tendência é que nossa voz tenha mais relevância. Atualmente, estamos contabilizando mais nomes de mulheres em eventos como intérprete (digo mesmo intérprete, pois há uma janela que ainda tem de ser aberta, para instrumentistas, compositoras, musicistas, somos vistas como cantoras, apenas), longe de uma igualdade.

Referências no nativismo:

- Os festivais, por muito tempo, serviram de laboratório para grandes intérpretes e me deram várias referências femininas. Ressalto Oristela Alves, Maria Luiza Benítez, Fátima Gimenez e Loma. Cada uma com sua expressão e regionalidade. E, claro muitos homens, um deles é Luiz Marenco.

 

Relação com o machismo:

- Com o mesmo carinho que ele não me trata… (risos). É um desbravar, um não esmorecer, principalmente um estar atenta e selecionar a convivência. Tem muito machista por aí que prega a igualdade, mas na hora de dar ouvidos a uma mulher, a ignora. Falo com propriedade, tanto como cantora, mas principalmente como compositora. Estamos com um plantel lindo de mulheres escrevendo e, ainda assim, vemos triagens de festival onde não passa uma mulher entre 800 inscrições.

 

Mudanças no tradicionalismo, que não aceita letras de conteúdo mais machista:

- Acho que é um avanço! Embora reconheça a necessidade de uma brusca virada, também fico feliz com cada pequeno degrau que avançamos por busca de igualdade. 

Nicole Carrion

Divulgação / Divulgação
Nicole foi destaque da Califórnia em 2019

Nome forte da nova geração, Nicole foi um dos grandes destaques da Califórnia da Canção Nativa, em 2019. Na época, com apenas 22 anos, ganhou o prêmio de melhor intérprete, defendendo a faixa Guria, espécie de versão feminina do clássico Guri, famoso na voz de César Passarinho — a letra dá voz à “filha do Seu Bento”, citada na composição dos irmãos Júlio e João Batista Machado. Um belo cartão de visitas, né?

Espaço da mulher no nativismo atualmente:

- Eu vejo que estamos passando por uma grande revolução no cenário da música regional. Se analisarmos, hoje, quem está produzindo mais (clipes, conteúdos, músicas) são as mulheres, esse movimento vem acontecendo, mas vejo que durante a pandemia ganhou mais força. Fico muito feliz de ver isso acontecer e também de fazer parte dessa movimentação, é necessário. Temos ainda muito a avançar, conquistar esse espaço é uma luta constante. As mulheres estão buscando seu protagonismo, mas ainda é comum ver eventos do gênero com vários shows e nenhum show feminino, nas músicas que tocam nas rádios poucas em vozes femininas, nos festivais sem ter intérpretes, compositoras e instrumentistas. 


Referências no nativismo: 

- Sempre tive referências, em sua maioria, femininas. As cantoras que fizeram parte do meu começo na música foram Janaina Maia, Lu Schiavo, Shana Müller e Berenice Azambuja. Ao longo da minha caminhada, fui conhecendo outras cantoras como Analise Severo, Loma, Oristela Alves. No cenário do folclore latino-americano, onde estou muito inserida por viver na fronteira com o Uruguai, sempre ouvi em casa, Mercedes Sosa e Soledad Pastorutti, antes mesmo de começar a cantar.


Relação com o machismo:

- Acho que é algo que temos que aprender a lidar e driblar, está longe de ser o cenário ideal, por isso são tão importantes esses avanços que estamos fazendo. As mulheres que começaram nesse movimento, que foram as precursoras, conquistaram muitas coisas e derrubaram muitas barreiras, com certeza com muitas dificuldades. Não me vem em mente nenhuma situação específica que eu tenha passado, mas, sim, o conjunto de coisas. Como comentei, as oportunidades são mais difíceis, no sentido de shows, festivais, parcerias. Eu procuro focar no meu trabalho, produzir, buscar as minhas próprias oportunidades sem esperar que elas cheguem até mim.


Mudanças no tradicionalismo, que não aceita letras de conteúdo mais machista.

- Acho que essas mudanças fazem parte de uma modificação social que estamos vivendo. Essa não aceitação vem principalmente por parte das mulheres, que começaram a se posicionar e não aceitarem mais certas coisas. É importante questionar, muitas coisas que eram “aceitas” há alguns anos atrás, hoje já não cabem mais.

Graciele de Souza

Divulgação / Divulgação
Graciele: voz forte da mulherada

Destaque em festivais como a Reculuta da Canção Crioula de Guaíba de 2020, quando fez show, Graciele de Souza vem ganhando destaque no meio tradicionalista. Dona de uma voz potente, já lançou o disco Mulherada do Laço, e se posiciona fortemente pela mulherada no meio nativista. Uma de suas principais canções é, justamente, a que dá título ao álbum, que tem letra de Rodrigo Bauer e que foi musicada por Marcelo do Tchê, como homenagem a todas as laçadoras. Outra canção de destaque de Graciele é Mulher Gaúcha, que também chama atenção dos festivais. 


Espaço da mulher no nativismo atualmente:

– Hoje, já podemos dizer que as portas estão se abrindo cada vez mais para este mercado de trabalho. Porém, acredito que isso pode melhorar. Existem barreiras, sim, mas já melhorou e muito!


Referências no nativismo: 

– A minha primeira referência gaúcha sempre foi a nossa eterna Berenice Azambuja. E, claro, meus pais que, dentro da música, pra mim, foram também grandes inspiradores para o segmento que faço. Foram e sempre serão meus grandes ídolos.


Relação com o machismo:

- O machismo já esteve mais forte tempos atrás. Hoje, vivemos em um mundo que muitas diferenças estão diminuindo, mas gostaria que acabasse, pois não acreditar que uma mulher também é capaz de tocar um baile por quatro horas cantando assim como eu realizo, me deixa triste. Porém, não desisto e faço meu trabalho, e desempenho com muita coragem e fé. Atualmente, fico muito emocionada em ver grandes entidades tradicionalistas com patronagens femininas e muito bem comandadas.


Mudanças no tradicionalismo, que não aceita letras de conteúdo mais machista.

- As mudanças nos deram força para seguir em frente, tendo o respeito de todos e nos proporcionando um trabalho mais aberto e familiar. Este mesmo respeito também devemos, nós mulheres, impor de forma que a gente permita que estejamos junto de colegas parceiros nas lidas e cantigas, abrindo espaço para que o futuro permaneça forte e seguro dentro de palcos em suas apresentações. E, claro, a humildade e o sorriso no rosto são as ferramentas principais de todo o artista para a conquista de seu público em geral.

Maria Alice

RBS TV / Divulgação
Maria foi um destaques do The Voice Kids, em 2017

Em 2017, quando tinha apenas 11 anos, ela já havia participado de diversos festivais nativistas e participou do The Voice Kids, na TV Globo. Hoje, aos 17, tem mais de 60 troféus acumulados e é um dos nomes de destaque da nova geração que estará no Galpão das Patroas. 

Espaço da mulher no nativismo atualmente:

- Ainda temos um longo caminho a ser trilhado para ganharmos mais espaço, mas já conseguimos grandes conquistas, como mais shows nos festivais, composições exclusivamente femininas, mulheres como juradas, um festival exclusivo pra nós, Peitaço, idealizado pela Shana Müller. 


Referências no nativismo: 

- Me criei com as referências de artistas rio-grandenses e latino-americanas, como Analise Severo, Juliana Spanevello, Shana Müller, Vanessa de Maria, Soledad Pastorutti, Teresa Parodi. Atualmente, sigo encontrando novas referências que são fenomenais, como Catherine Vergnes, Eva Ayllón e Natalia Lafoucarde. 


Relação com o machismo:

- Acredito que já diminuiu bastante, eu sou exemplo disso, o produtor e compositor do meu álbum, de estreia Doble Chapa é homem, o Érlon Péricles, além disso como, citei na pergunta anterior, estamos vencendo essa barreira, não só por sermos mulheres, mas também porque somos tão competentes quanto os homens para compor, tocar, cantar e etc... E assim nós mesmas estamos diminuindo a questão do machismo, pois conquistamos o lugar que merecemos.


Mudanças no tradicionalismo, que não aceita letras de conteúdo mais machista.

- Isso é um ponto bem positivo, pois as letras para mulheres ou pensando em nós, são de cunho mais poético, romântico ou exaltando a força e a importância que a mulher exerceu na construção da história e cultura do Rio Grande do Sul.


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