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Ciência que ganhou o Nobel

Grupo de mulheres com câncer de mama participa de pesquisa com imunoterapia no Hospital Conceição

Entre elas, estão sandra e Talita Tesch, mãe e filha que enfrentam a doença 

13/10/2018 - 08h00min


Lis Aline Silveira
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Júlio Cordeiro / Agencia RBS
Talita (E) e Sandra participam do estudo

A imunoterapia, tratamento revolucionário para o câncer e que rendeu o Prêmio Nobel de Medicina 2018 para o norte-americano James P. Allison e o japonês Tasuku Honjo, já está ao alcance de um grupo de mulheres gaúchas com câncer de mama.

Atendidas pelo Hospital Conceição, 28 pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) estão participando de testes com drogas experimentais, em uma pesquisa capitaneada por laboratórios farmacêuticos dos Estados Unidos, mas que envolve mulheres das Américas Latina e do Norte, Ásia e Europa.

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O mastologista José Luiz Pedrini é o coordenador dos experimentos no Conceição, hospital que há 20 anos participa de estudos clínicos ligados ao câncer de mama. Os testes tiveram início em outubro do ano passado, e em 2019 sairá a primeira análise de resultados. 

Devido aos protocolos rígidos da pesquisa, explica Pedrini, ainda não é possível falar sobre o sucesso dos medicamentos. 

Júlio Cordeiro / Agencia RBS
Pedrini é o coordenador do experimento no Conceição

Impressões
Porém, o médico permite-se dar algumas impressões sobre o tratamento: 

– São drogas realmente eficazes, e que devem beneficiar um grande número de pacientes pela baixa toxicidade. Não causam os efeitos colaterais da quimioterapia, não cai o cabelo, não destroem outras células. É o mecanismo mais inteligente que existe no combate ao câncer na atualidade. 

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Explicando de maneira simples: quando um tumor aparece, ele forma ao seu redor uma barreira que bloqueia a ação dos glóbulos brancos, que são as células de defesa do organismo. As drogas descobertas atuam sobre esta barreira, “tiram a carapaça do tumor”, como diz Pedrini. Com isso, os glóbulos brancos ficam liberados para atacar o tumor como se ele fosse uma bactéria ou um vírus. 

Arte ZH

Custo elevado
O tratamento é bancado pela indústria farmacêutica internacional. O custo é elevado: cada dose de drogas como o Atezolizumabe e o Pembrolizumabe custa em torno de R$ 20 mil, e é reaplicada a cada 21 dias. 

Por ainda estar em fase de pesquisas, nenhuma das drogas é aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nem está disponível via SUS para o câncer de mama. 

No Conceição, os testes envolvem, ainda, 21 profissionais, entre médicos mastologistas e oncologistas e farmacêuticos. 

– O futuro é esse, sem dúvida nenhuma – resume Pedrini. 

Ao alcance de poucas
Presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) e chefe do Serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento, a mastologista Maira Caleffi salienta a importância de estudos como o realizado no Conceição e em outros hospitais da Capital, como Clínicas, São Lucas da PUC e o próprio Moinhos: 

– São positivos não só para os pacientes, que têm acesso a drogas novas, mas também para o aprendizado da área médica. Além disso, as pesquisas diminuem os custos do SUS com as doenças, já que são bancadas pela indústria farmacêutica. 

Apenas 5%
Segundo Maira, no caso da imunoterapia para o câncer de mama, os estudos devem seguir por mais alguns anos, mas o tratamento já é realidade em pacientes com melanomas e câncer de pulmão. Uma das batalhas da Femama é ampliar o acesso de pacientes a pesquisas. A mastologista cita o Canadá, onde aproximadamente 50% dos pacientes com câncer participam de pesquisas. No Brasil, este número não chega a 5%. 

– Há muita burocracia, muito a ser melhorado na legislação referente à pesquisa clínica no Brasil – avalia.

Mãe e filha participam da pesquisa
Foi amamentando a filha Nicolly, três anos, em março deste ano, que a funcionária pública Talita Tesch, 35 anos, do bairro Ipanema, zona sul de Porto Alegre, percebeu um nódulo no seio. 

– Ela me disse: “Mãe, tem uma bolinha no teu teti”. Eu já tinha notado algo, mas desconsiderava pelo fato de estar amamentando – conta Talita.

Omar Freitas / Agencia RBS
Pequenos dão força para que mãe e filha sigam em frente

O alarme da filha a motivou a procurar um médico. Em maio, Talita já tinha o diagnóstico do câncer de mama do tipo triplo negativo. Mãe de dois filhos – além de Nicolly, ela tem Arthur, oito anos – viveu o turbilhão de sentimentos causados pela descoberta em meio a outra revelação na família.

A dona de casa Sandra Tesch, 62 anos, mãe de Talita, também havia há tempos sentido um nódulo no seio, mas não havia comentado com ninguém. A situação da filha, e posteriormente os apelos de Arthur para que se cuidasse, a motivaram a, também, buscar tratamento. Os exames constataram que Sandra também tem câncer de mama – no seu caso, o tipo HER2 positivo. 

Tanto Talita quanto Sandra foram selecionadas para a pesquisa do Conceição. Paralelo aos testes com as novas drogas, elas farão quimioterapia e cirurgia. A filha faz sessões de quimioterapia desde julho, e a mãe deve começar em breve. 

Determinação
A determinação de Talita, que vem enfrentando com garra as primeiras etapas do tratamento, inspira Sandra, que se considera “mais medrosa” que a filha. Talita impressiona pelo otimismo. 

– Nunca encarei o fato de eu estar com câncer como um “pé na cova”. Pelo contrário, venho sempre maquiada, arrumada, para o hospital, porque estou vindo para a minha vitória. Cada dia, é um dia mais perto da minha vitória. O câncer não vai me vencer – garante Talita. 

Omar Freitas / Agencia RBS
Mãe e filha estão ajudando outras mulheres

Ao comentar sobre os novos tratamentos, mãe e filha não celebram o efeito da imunoterapia para o tratamento dos próprios tumores. Têm uma visão solidária, pensando em como estão ajudando outras mulheres que terão, no futuro, medicamentos mais eficazes. 

Durante a reportagem, Sandra aproveitou a presença do dr. Pedrini para questionar: 

– Qual tumor é o mais agressivo, o dela ou o meu? 

– O mais agressivo é o de cada um, o ruim é quando é na gente. Honestamente, não tem melhor nem pior. Mas eu considero que vocês duas vão ficar curadas. O importante é enfrentar o problema e viver a vida. O medo e a omissão são prejudiciais – respondeu o médico.

Números
/// Cerca de 16 mil mulheres morrem por ano em decorrência do câncer de mama no Brasil.

/// Na última década, o câncer de mama matou, aproximadamente, 12 mil mulheres no Rio Grande do Sul. 

/// A cada ano, 60 mil mulheres recebem o diagnóstico de câncer de mama no Brasil. 

/// A estimativa de novos casos de câncer de mama em 2018 é de 5.110 no RS e 920 em Porto Alegre. 

Fontes: DataSUS e Inca

 

Estudo segue aberto
/// O estudo realizado no Hospital Conceição está aberto a mais pacientes com câncer de mama. 

/// Informações pelo telefone (51) 3357-2296. 


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