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Homenagem

Três histórias de professores que fazem da sala de aula um local de transformação de vidas

No Dia do Professor, conheça a trajetória profissional de educadores que dão aulas voluntárias para curso pré-vestibular em Alvorada

15/10/2018 - 06h00min


Jeniffer Gularte
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Graziela, Diuliane e Christian na sala de aula do cursinho pré-vestibular de Alvorada

Graziela, Diuliane e Christian querem mudar o mundo através da educação. Eles decidiram começar pela periferia de Alvorada, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Professores voluntários do Curso Pré-Vestibular Popular Minervino de Oliveira, que pelo segundo ano oferece a jovens e adultos aulas de graça de segunda a sexta-feira, das 19h às 22h, o trio conta como foi impactado pela iniciativa. Para celebrar o Dia do Professor, o Diário Gaúcho conta a história destes três educadores que fazem da sala de aula um local onde se transforma vidas. 

Rotina digna de maratona

Desde o momento em que acorda até a hora em que vai dormir, Graziela Traçante Rodrigues, 29 anos, enfrenta uma maratona para ser professora. Pela manhã, cursa Ciências da Natureza no Instituto Federal (IF) de Porto Alegre. À tarde, dá aulas para o 6º e 7º anos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Brigadeiro Antônio Sampaio, em Alvorada. À noite, faz um trajeto de 4km a pé ou de carona da Vila Cedro até o Bairro Bela Vista, onde dá aula para o Ensino Médio no Instituto Estadual de Educação Básica Júlio Cesar Ribeiro de Souza. 

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Graziela: história dos alunos é motivação para seguir em frente

Na única noite de folga da semana, não se permite descansar: leciona Química no Curso Pré-Vestibular Popular Minervino de Oliveira. 

Mas nada disso estava nos planos de Graziela. Ela fez cursinhos pré-vestibular mirando a Engenharia Ambiental. Não conseguiu aprovação e acabou se interessando por Ciências da Natureza. A licenciatura logo a seduziu. Antes de ingressar no Minervino, sentia que precisava fazer mais – mesmo já dando aula em duas escolas públicas. Como foi aluna de cursos pré-vestibulares populares, achava que deveria devolver o conhecimento que recebeu. Além disso, havia o anseio de acertar as contas com a própria história:

– Nos meus tempos de escola enfrentei o racismo e a discriminação de professores e colegas, principalmente por causa do meu cabelo. Os meus pais foram meus influenciadores nessa questão, sempre incentivando que o único caminho é a educação.

Sempre na periferia
A profe sai de casa às 6h30min, chega sempre depois das 23h e só tem quatro horas de sono por dia. Mas a motivação de Graziela é perceptível até no voz que usa para falar da própria rotina. É a história de cada aluno que a motiva a trabalhar tanto – e dormir tão pouco – sem perder o ânimo:

– É muito bom ver um aluno nosso entrando na universidade. Nunca trabalhei fora da periferia, aqui é onde tu consegue se aproximar do aluno, da história dele, construir, avançar e fazer a diferença junto com ele. 

Graziela conta se encontrou quando começou a dar aulas voluntárias e diz que não vê sentido em ensinar sem perceber que o conhecimento que está transmitindo está fazendo a diferença para o aluno:

– Estamos mudando as coisas aos pouquinhos, fazendo a nossa parte. É muito gratificante ver que temos alunos nossos que saíram do cursinho e estão na universidade.  

Influenciada pela mestra de Biologia

Apaixonada por bichos, dar aulas também nunca foi um sonho para Diuliane Andrade, 22 anos. Queria cursar Medicina Veterinária. A influência de uma professora mudou sua vida. 

Foi no terceiro ano do Ensino Médio, cursado em uma escola pública de Alvorada, que ela passou a ter aulas de Biologia com Ana Cristina Horn. O exemplo da professora a despertou para a disciplina.

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Influenciada pela professora de Biologia, decidiu lecionar a mesma disciplina

– Ela dava uma aula diferente, tinha atividades diferentes, nos fazia pensar a biologia fora da bolha da escolha. Fui muito influenciada pelos meus professores a minha vida toda e assim me apaixonei pela Biologia. Ainda assim, não sabia se tinha vocação para dar aula e nem como seria recebida em uma sala de aula. 

Passou a cursar Biologia na UFRGS e estreou como professora em um curso pré-vestibular particular:

– A acolhida que eu tive em sala de aula, mesmo sendo uma professora tão nova, foi tão linda que comecei a pensar em como trazer um curso pré-vestibular popular para a periferia de Alvorada. Queria que os jovens daqui tivessem essa oportunidade.

Em busca dos sonhos
Diuliane trabalhou na criação do Curso Pré-Vestibular Popular Minervino de Oliveira do final de 2016 até o primeiro dia de aula, em abril de 2017. Um ano e meio após a criação do curso, emociona-se ao esbarrar na UFRGS com seus antigos alunos:

– Dias atrás, algo incrível aconteceu. Eu estava na fila para entrar no Restaurante Universitário da UFRGS e estava saindo um ex-aluno do curso que gritou: "Oi, profe!". Naquela hora, me dei conta do quão sério é o que a gente faz. Estamos colocando gente na universidade – comemora. 

A jovem professora diz que só se deu conta de que não viveria mais sem dar aulas quando, ao explicar um conceito em sala de aula, se deu conta, pela feição do rosto do aluno, que aquilo estava fazendo sentido para ele:

– Ensinar é muito bom e educação é um meio de comunicação universal. 

É por isso que, ao ser questionada sobre os motivos que a levaram, em dois anos e meio de profissão, a optar por dar aulas em cursos pré-vestibulares, ela responde com convicção:

– Eu vejo o pré-vestibular como um lugar onde se lida com sonhos. O aluno está ali em busca do sonho dele, de uma nova realidade para ele a família dele. Por isso, esse espaço me cativa tanto. É ali que se muda a realidade. 

"A gente não parou nos problemas"

Professor de História e Geografia, Christian Castro, 30 anos, é um ativista da educação. Morador e professor em Alvorada, dá aula em duas escolas: EEEF Brigadeiro Antônio Sampaio e no Instituto Estadual de Educação Básica Júlio Cesar Ribeiro de Souza. No terceiro turno, se dedica como professor e coordenador pedagógico ao Curso Pré-Vestibular Popular Minervino de Oliveira.

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Christian: o aluno, às vezes, vai à escola para se encontrar

Foi um idealizadores e responsáveis por colocar o cursinho de pé. O que era só uma vontade no passado, hoje é um projeto com resultados. Em seu segundo ano, o curso já tem 45% de aprovação em vestibulares. A atual turma tem 35 alunos e as aulas seguirão até o final de dezembro. Além do Enem, o foco é preparar os alunos para terem bom desempenho nas provas da UFRGS.

– Reclamar qualquer um reclama. O que tá faltando para melhorar as coisas? O que eu sei fazer é dar aula e isso que decidi fazer aqui. O curso Minervino foi um encontro de vontades, de muitos professores querendo fazer mais, e por isso que certo. 

Influenciador de sonhos
Tanto nas escolas como no pré-vestibular, o que mais o fascina é a transformação que a educação move na vida do aluno. Ser professor é motivar, e Christian sabe bem o peso que isso tem na vida de um aluno. Na Brigadeiro, trabalha com estudantes que já estavam desistindo do Ensino Fundamental:

– A escola não é só conteúdo no quadro. A pessoa, às vezes, vai para a escola para se encontrar. O desafio é explicar para o aluno que a vida escolar não para na oitava série. Que ele pode mais – afirma. 

As noites que poderiam ser de descanso são de esforço e dedicação a pessoas que sonham em entrar na universidade: 

– A gente se esforça muito para dar essas aulas voluntárias e sente que o pessoal quer estar aqui. É comum a aula acabar e os alunos ficarem tirando dúvidas com a gente até tarde. A turma deste ano é muito focada, valorizam muito o fato de estarmos aqui para ensiná-los. Para muitos, aqui é o único lugar em que alguém olha no olho e diz que eles podem chegar lá. Influenciar sonhos é uma responsabilidade. A gente não parou nos problemas. 



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