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Região Metropolitana

Com pouco investimento, comunidades tentam garantir o Carnaval com muito esforço

Carnavalescos suam para garantir que a maior festa popular do Brasil não passe em branco no Rio Grande do Sul

23/02/2019 - 07h00min


Jéssica Britto
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Tadeu Vilani / Agencia RBS
Rainha e passista da Império do Sol, Karolaine e Isabel, confeccionam as próprias fantasias

Quem pretende assistir aos desfiles de escolas de samba na Região Metropolitana irá encontrar poucas opções de programação. Grande parte dos municípios está abrindo mão da festa, assim como ocorreu nos últimos anos, como medida para contenção de gastos. Afora Porto Alegre, apenas Alvorada, Esteio, Guaíba e São Leopoldo terão desfile de agremiações. 

Novo Hamburgo, que tradicionalmente realizava Carnaval, não fará em 2019. No ano passado, o evento ocorreu com dificuldades. As escolas desfilaram, mas não competiram, o que evitou gastos com jurados e premiações. Neste ano, em reunião entre prefeitura e agremiações, optou-se por não realizar o desfile e fortalecer a produção para os próximos anos.

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Quem não quer ficar de fora da folia pode aproveitar as muambas e blocos de rua que irão às ruas em diversas cidades. Cachoeirinha, Eldorado do Sul e Viamão terão programação. Confira a seguir:

Em Novo Hamburgo, o Carnaval minguou 

Das participações no Grupo Especial do Carnaval de Porto Alegre aos pavilhões vazios na sede da escola, em Novo Hamburgo. Este cenário de nada combina com a Escola de Samba Protegidos da Princesa Isabel, uma das mais populares do município, mas é desta forma que se encontra. Novo Hamburgo não terá desfile das escolas de samba. Em 2018, as escolas chegaram a desfilar, mas não competiram. O formato evitou gastos extras, com premiações e jurados, por exemplo. Neste ano, a perda dos prazos para captação de recursos fez com que as escolas cancelassem o Carnaval, em comum acordo entre agremiações e prefeitura. 

– Os presidentes das escolas, e eu me incluo, deixaram passar todos os prazos para apresentação dos projetos. Agendávamos as reuniões e sempre tinha uma ou outra escola que não comparecia. Enfim, não conseguimos nos organizar – explica a presidente da Protegidos, Lana Flores, 55 anos.

Para que o mesmo erro não ocorra ano que vem, as escolas já começaram a debater 2020. Querem se reestruturar para voltar a fazer Carnaval. E enquanto a data não chega, procuram promover eventos particulares para manter as escolas abertas. A Protegidos aluga material e fantasias ao longo de todo o ano. O mesmo faz a Escola de Samba Cruzeiro do Sul, a mais antiga em atividade na cidade, com 96 anos. Costuma alugar a quadra da escola e participar de eventos externos.

"A gente não tem verba, vai no amor"

Há alguns anos, quando a burocracia era menor e a legislação menos exigente, as escolas conseguiam ter acesso a projetos e recursos mais facilmente. Hoje não é tão simples. 

– Mudou tudo, diminuíram as verbas e não conseguimos nos manter só com eventos – garante a presidente da Cruzeiro do Sul, Patrícia Regina da Silva, a Tikka.

Dessa forma, com objetivo de não deixar a data em branco, as escolas estão promovendo os próprios festejos.  

– É a primeira vez que não participamos do Carnaval. Ficamos tristes, mas não queremos deixar a cultura morrer, por isso, vamos fazer nosso próprio Carnaval. A gente não tem verba, mas vai no amor mesmo – conta Tikka.

No dia 3 de março, a escola realiza o Primavera Folia, com desfile de blocos pelas ruas da cidade e encerramento na sede da escola, na Rua Osvaldo Cruz, 96. A Protegidos realizará o Baile Verde, Vermelho e Branco no dia 23 de março.

Em São Leopoldo, desfile na raça e no amor 

Enquanto os desfiles já não ocorrem ou vivem os últimos suspiros em algumas cidades gaúchas, em São Leopoldo as escolas fazem de tudo para manter a tradição acesa. Seis escolas se apresentarão na Avenida Dom João Becker no dia 9 de março com recursos próprios e trabalho voluntário. Tudo feito com muito esforço. 

Tadeu Vilani / Agencia RBS
Presidente da Império do Sol, Alzemiro diz que se segue fazendo pelo amor

– Fazer Carnaval está muito difícil, quase improvável, pois os gastos só aumentam. A gente segue fazendo pelo amor, é como o futebol, é uma paixão – relata o presidente da Império do Sol, Alzemiro da Silva, 63 anos.

A Império do Sol, do bairro São Miguel, vai colocar 500 componentes na Avenida com o tema "África! Um canto negro de louvação e fé. Salve Otampê Ojarô, princesa africana, rainha do candomblé". O assunto foi o mesmo apresentado em 2010 e será estrategicamente reaproveitado com objetivo de reutilizar material antigo, obviamente, revitalizado. Para darem conta do serviço, que começa normalmente em outubro, mas se intensifica nos meses de janeiro e fevereiro, os integrantes trabalham incansavelmente, 24 horas por dia. Para o desfile, estão produzindo um carro alegórico, um tripé (carro menor, que não carrega pessoas) e 500 fantasias das alas e destaques. 

–Antigamente, tínhamos um figurinista, hoje, não é mais possível. Nós mesmo criamos, fazemos os cortes, as costuras, adaptamos – revela a passista Isabel Milano, 38 anos.

"É herança, é sangue mesmo" 

A previsão de investimento para 2019 será de R$ 220 mil, obtidos por meio da renda obtida com os ensaios (venda de bebidas, pois é proibido vender ingressos), e participação em eventos externos. Em tempos áureos, o valor investido chegava a R$ 700 mil. 

A Império do Sol é a atual campeã do Grupo Prata do Carnaval de Porto Alegre. Além de São Leopoldo, costuma participar do Carnaval de Porto Alegre e de outras cidades. Por isso, acompanham perplexos a decadência do Carnaval no Estado.

– Nos entristece muito ouvir que uma cidade deixou de fazer Carnaval. Muitas vezes, ajudamos escolas de outros municípios, emprestando fantasias, na ânsia de mudar isso. Cada cidade que deixa de fazer, enfraquece o Carnaval – explica o presidente Miro.

Karolaine Marques, 21 anos, é o exemplo legítimo de quem nasceu do e para o Carnaval. Os avós foram cofundadores da escola e desde bebê ela era levada pela família aos ensaios. Cresceu, e foi de estandarte mirim à rainha da escola. Ela, inclusive, concorre ao título do município neste domingo.

– É herança, é sangue mesmo. Cresci aqui dentro e espero que meu filho siga o mesmo caminho. Sem o Carnaval, não seria eu – confessa a musa da Império do Sol. 


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