Polícia



Guerra na Zona Norte

Depois de chacina, polícia faz ação de retomada em vilas do Porto Seco

Um homem foi morto em confronto com a Brigada e três suspeitos de envolvimento com chacina foram presos

09/10/2014 - 21h26min

Atualizada em: 09/10/2014 - 21h26min


A suspeita da polícia de que a chacina que vitimou três homens no Bairro Rio Branco na noite de quarta, e as mortes de outros dois homens na madrugada da última quinta, no Bairro Passo das Pedras, foram provocadas por disputas do tráfico na região do Porto Seco, Bairro Rubem Berta, desencadeou durante toda a quinta-feira uma retomada nas vilas da região. Os cinco mortos seriam integrantes do grupo que comandaria o tráfico da Vila Amazônia. Seus inimigos, da Vila Santa Maria, teriam armado uma emboscada contra eles.

Durante as ações, por volta das 12h30min, Crauslyn Rosa Nascimento, 20 anos, foi morto em confronto com os policiais do BOE, na Vila Vitória da Conquista, que abrigaria criminosos aliados à Santa Maria. Com ele, os PMs apreenderam um revólver calibre 38, um colete à prova de balas e mais de 100 pedras de crack. Três comparsas fugiram. No final do dia, três homens haviam sido presos e um fuzil também foi apreendido na Vila Santa Maria.

- Já vínhamos mapeando os grupos que estão em confronto nessa região. Era uma ação planejada para os próximos dias, mas essa chacina acelerou as coisas - admite o delegado João Paulo de Abreu, da 3ª DHPP.

O principal alvo dos agentes era Diogo Dutra Cachoeira, o Sadol. Ele foi encontrado pela Brigada Militar no final da manhã desta quinta-feira, depois que outros dois suspeitos de integrarem a quadrilha da Vila Santa Maria já haviam sido presos preventivamente. Sadol é apontado pela polícia como líder do tráfico na vila. Ele seria o mandante do assassinado de Maximiliano da Silva, o Doca, em outubro do ano passado, na Vila Amazônia, e por isso tinha prisão preventiva decretada.

- Ainda é cedo para atribuir a essas pessoas a autoria das cinco mortes da noite, mas há suspeita de que este grupo esteja por trás dos crimes - adianta o delegado.
 
A chacina do Bairro Rio Branco será apurada pela 2ª DHPP, e o duplo homicídio no Passo das Pedras, pela 5ª DHPP.

De acordo com a delegada Jeiselaure Souza, da 5ª DHPP, até o momento não é possível determinar a autoria dos crimes. Ela assegura, no entanto, que eles estão relacionados e que foram consequência do tráfico.

- Podemos assegurar que todas as vítimas eram conhecidas entre si e investigadas por traficarem na Vila Amazônia - diz.

Uma das vítimas da chacina foi Diego da Silva Velasquez, o Coroca, 24 anos, morador nos últimos meses do Bairro Rio Branco, zona nobre da Capital e apontado pela polícia como um dos líderes do tráfico na Amazônia. Testemunhas dizem que Coroca não dormia mais na vila depois de ter acumulado dinheiro no tráfico. Ele respondia na Justiça por pelo menos um homicídio e por tráfico. Os investigadores fizeram buscas a um Celta vermelho, que teria sido visto circulando os dois locais de crime.

Uma emboscada de cinema
A primeira hipótese trabalhada pela polícia para os assassinatos em sequência sugere um crime bem planejado. Teria começado com o sequestro de três integrantes da quadrilha da Vila Amazônia quando, supostamente, cumpririam ordens do comando do bando para comprar armas. Eles teriam sido interceptados no caminho e torturados até entregarem o paradeiro do seu líder, Coroca.

Assim, por volta das 22h30min, um Corsa vermelho teria surpreendido Coroca, Andrews Prates dos Santos, 21 anos, e Eduardo Delgado Cardozo, 31 anos, quando eles saíam do Gol com placas de Curitiba (PR), na Rua São Vicente. De acordo com a polícia, foram disparados mais de 70 tiros de 9mm, .40 e calibre 38. Os três morreram no local.

Já passava da meia-noite quando um homem de 25 anos, baleado no braço, pediu socorro à Brigada Militar na Avenida Ary Tarragô. Alegando que havia sido assaltado, ele acabou levando os policiais ao Beco dos Coqueiros, no Passo das Pedras, onde Eder Cardoso Dias, o Pitbull, 19 anos, já havia sido morto, e Andrews Antônio Pacheco, 18 anos, ainda agonizava, atingido por disparos na cabeça. Na tarde desta quinta, ele morreu no Hospital Cristo Redentor. O homem baleado no braço, depois de ser atendido no hospital, fugiu sem prestar esclarecimentos.

A suspeita é de que este trio tenha sido sequestrado horas antes e, depois de levarem os matadores até Coroca, tenham sido eliminados. Foram encontradas 15 cápsulas de 9mm próximas aos corpos.

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Brigada chegou antes da vingança
A resposta da Brigada Militar, primeiro com os policiais do 20º BPM, depois reforçados pelo BOE, foi considerada emergencial. Mas, garante o tenente Luciano Brito, do BOE, não foi exceção. Segundo ele, em apenas duas semanas, 23 armas foram apreendidas entre as vilas do Porto Seco.

- É uma região conflagrada por esses conflitos. Há ameaças constantes aos moradores - confirma.

Nas primeiras horas da manhã dessa quinta, as informações davam conta de que traficantes da Vila Amazônia estariam se armando para vingar as mortes dos comparsas. A BM bloqueou as entradas da Vila Santa Maria. Nessa ação, chegaram a Sadol. Em outra casa, encontraram um fuzil .30.

Na Amazônia, as abordagens iniciaram durante a manhã e, provavelmente, afugentaram quem tramava uma vingança. Mas, à tarde, o problema foi outro.

- Havia um risco grande de que os inimigos tomassem os pontos na Vila Amazônia - explica o tenente.

Quando os PMs chegaram ao local, foram recebidos a tiros por quatro homens. Seriam traficantes da Vila Vitória da Conquista, supostamente aliados à Santa Maria. Houve perseguição e Crauslin Nascimento foi baleado. Ele ainda foi socorrido ao Hospital Cristo Redentor, mas não resistiu aos ferimentos. Seus comparsas fugiram. Crauslin tinha antecedentes por homicídio e porte ilegal de arma.

O confronto é histórico, desde que iniciaram as ocupações ao redor do atual Complexo do Porto Seco, mas teria aumentado desde o ano passado. Supostamente, foi quando as quadrilhas locais teriam se aliado a grandes fornecedores de drogas e armas da Capital.


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