Polícia



Guerra do tráfico

Disputa do tráfico na Zona Norte de Porto Alegre deixa rastro de vítimas inocentes

Em um mês, confronto entre grupos rivais do tráfico no Bairro Mario Quintana já deixou oito vítimas. Pelo menos cinco delas não tinham qualquer relação com a criminalidade

08/11/2014 - 08h03min

Atualizada em: 08/11/2014 - 08h03min


Passava das 23h de quinta quando dois carros, vindos da região do Loteamento Timbaúva, no Bairro Mario Quintana, cruzaram a ponte de madeira que representa o limite com a Vila Safira. Ao entrarem na Rua Moçambique, pararam. Pelo menos dez homens, fortemente armados, desceram dos veículos e executaram a primeira pessoa que viram.

O entregador Niel Richard Pereira Borba, 23 anos, ainda tentou se refugiar em um beco, mas acabou executado com mais de 30 tiros entre calibre 12, 9mm, .380 e calibre 38. Outro rapaz, de 19 anos, que chegava ao local de carro para buscar a namorada, foi atingido por uma bala perdida no ombro. Ele segue internado no Hospital Cristo Redentor.

Niel não tinha antecedentes criminais e, para a polícia, pode ter sido mais uma vítima inocente do confronto entre traficantes que há pelo menos um mês já matou oito pessoas - sempre com muitos tiros.

Contrariou o toque de recolher

A suspeita é de que até cinco delas não tivessem qualquer relação com a criminalidade. Foram penalizados por estarem perto de casa, mas contrariando o toque de recolher que virou realidade na região.

- Não dá mais para viver assim, estamos prisioneiros nas nossas próprias casas. Eles (traficantes) avisaram que não querem ninguém na rua depois das 17h. Isso aqui, quando anoitece, vira cidade fantasma - conta um morador que vive na Vila Safira há mais de 20 anos.

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Fim da calmaria

Desde o final de outubro, após as mortes de dois jovens na Cohab Rubem Berta - um deles morto de graça -, quando as informações de que a região vivia sob a ameaça de traficantes, com a imposição de toque de recolher, a Brigada Militar havia reforçado a presença na região. E as mortes cessaram. Segundo os moradores, nessa semana o policiamento aliviou. Foi a brecha para o pavor voltar.

- Todo mundo aqui sabe que depois de anoitecer é ruim sair para a rua, mas o meu irmão achou que já tinha acalmado. Saiu para conversar com os amigos depois do trabalho, como qualquer pessoa faria em qualquer lugar - lamenta Marvin Alexander Pereira da Silva, 21 anos.

Niel estava com um amigo em um bar a poucos metros de casa. Quando os atiradores entraram na vila, ele caminhava para casa. De acordo com a polícia, os criminosos teriam perguntado a ele onde estavam as drogas. Sem resposta, o rapaz foi encurralado e morto.

O crime escancarou a realidade de medo que cerca os moradores do Bairro Mario Quintana. Ainda assim, o irmão de Niel não esmorece.

- Esse sempre foi o nosso lugar e o meu irmão era apaixonado por essa vila. Não vamos desistir daqui _ garante Marvin.



Moradores temem o contragolpe

O final de semana será de apreensão nas vielas do Loteamento Timbaúva. É que os moradores temem um contragolpe dos criminosos da Vila Safira. Esse temor foi reforçado pouco mais de uma hora depois da morte de Niel, quando a Brigada Militar derrubou o arsenal dos traficantes na localidade do Recanto do Sabiá.

A participação no assassinato dos três homens presos com o armamento pesado, que era guardado em um galpão, ainda é investigada pela 5ª DHPP. O trio foi submetido a exames periciais para detectar pólvora nas suas mãos.

A Brigada Militar garante que o policiamento seguirá reforçado na região durante o final de semana.

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Eduardo Torres / Diário Gaúcho
Niel foi executado na entrada de um beco da Vila Safira

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